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Crítica | Pouco Antes do Amanhecer

Um autêntico slasher da Safra de 1981: sangue, mortes e muita perseguição.

por Leonardo Campos
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Após o estabelecimento do slasher como subgênero rentável da indústria cinematográfica na década de 1980, acampar se tornou uma atração para causar arrepios nos corajosos que topam adentrar numa empreitada do tipo. Inegável o legado e o impacto cultural de Sexta-Feira 13, desde o primeiro, com os assassinatos da vingativa mãe de Jason, aos demais, continuações que traziam o imortal mascarado a vingar o esfacelamento de sua família, além de destroçar jovens incautos que bebem, fumam, falam palavrões e fazem sexo fora dos ditames do viés tradicional da sociedade. Por ter elos com a linguagem gótica, os filmes do segmento slasher apresentavam personagens situados em zonas distantes dos grandes centros urbanos, sem o possível apoio da polícia e a vagar por territórios dominados geograficamente por seus antagonistas. Pouco Antes do Amanhecer, parte integrante da Safra 1981 deste subgênero, é um deles. Um exemplar eficiente, comparado aos muitos filmes mornos, bem como arrastados do tipo, lançados em profusão na época. Aqui, o saldo de mortes é pequeno, mas o nível de tensão é exemplar.

Dirigido por Jeff Lieberman, cineasta que também assumiu a colaboração na composição do texto dramático, escrito com Mark Arywitz, tendo o argumento de Jonas Middleton como base, o slasher nos faz acompanhar os infortúnios de um grupo de jovens interessados em se divertir ao longo do final de semana, tendo a fotografia e o alpinismo como parte da agenda diletante. Eles seguem até uma região montanhosa e se animam com a possibilidade de afastamento do caos urbano, do barulho, bem como os demais percalços da vida em cidade grande. É uma chance valiosa para descansar, namorar, curtir jogos e bebidas entre amigos, tendo o sexo como uma opção de prazer adicional. Em linhas gerais, o mote slasher. Nesta região deserta e cheia de obstáculos, tais como árvores frondosas e descidas íngremes, eles descobrirão que se encontram os elementos para formação do pior pesadelo de suas vidas. A morte os espera, impiedosamente, numa trama que traz o horror da maneira mais realista possível.

Sem traços sobrenaturais, o medo aqui está mais potente por ser oriundo do “outro” que é muito mais parecido conosco, mais do que possamos imaginar. Antes de adentrar mais profundamente no espaço captado pela voyeur direção de fotografia de Dean e Joel King, habilidosos na captação de imagens e no estabelecimento da atmosfera de perigo, o grupo de personagens é avisado por um guarda-florestal, Roy McLean (George Kennedy), homem que os alerta sobre os desafios do lugar, bem como o seu alto grau de periculosidade. Mas, não menciona detalhes, deixando um clima de mistério no ar. Como trazia a campanha de divulgação de Sexta-Feira 13, “eles foram avisados”. Em Pouco Antes do Amanhecer, acontece o mesmo, mas eles decidem ignorar e seguem adiante. Basicamente, há algo de muito ameaçador e mortal: uma família disfuncional que mata sem piedade, grupo de pessoas insanas, próximas ao que podemos definir como selvageria. Eles vão perseguir os tais jovens e mata-los, um a um. Motivo? Nada mais que a invasão territorial e a chegada do outro como ameaça para seu espaço cifrado de convivência.

A jornada, acompanhada pela trilha sonora funcional de Brad Fiedel, traz Constance (Deborah Person) como a final girl da narrativa. Ela é quem batalhará mais tempo em cena, a tentar se livrar dos maníacos aterrorizantes e suas armas afiadas, bem como postura sádica para estabelecer o clima de pânico apenas ao se tornarem figuras visualizadas à distância. A contagem de corpos, como mencionado, não é extensa e demora um tempo considerável para começar. Há, no entanto, um clima de tensão envolvente, uma abordagem que inevitavelmente nos remete aos clássicos O Massacre da Serra Elétrica e Quadrilha de Sádicos, além de guardar similaridades com Armadilha Para Turistas, produção que é praticamente da mesma época. Em todos estes filmes, a família está longe das idealizações. São lares apodrecidos, erguidos pela violência, com personagens que encarnam a morte em suas existências. Quem chega de fora e ousa passar próximo se transforma em vítima potencial, num feixe de narrativas que desmontam o american way of life e aquelas imagens bonitinhas e utópicas pintadas por Norman Rockwell.

Pouco Antes do Amanhecer (Just Before Dawn, EUA – 1981)
Direção: Jeff Lieberman
Roteiro: Mark Arywitz, Jonas Middleton, Jeff Lieberman
Elenco: Chris Lemmon, Gregg Henry, Deborah Benson, Jamie Rose, Ralph Seymour, Mike Kellin, George Kennedy, Mountains Twins,
Duração: 86 min.

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