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Crítica | Prefácio da Morte

Um metalinguístico slasher movido pela criatividade, mas pecaminoso no ritmo.

por Leonardo Campos
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Em 1989, era que defino como Slasher Tardio, os filmes do segmento já tinham apresentado um considerável esgotamento. As pessoas ainda consumiam, mas no terreno da criatividade, era bastante complicado trazer para as telas do cinema algo convincente num território narrativo que aborda a vingança, o segredo do passado, um antagonista mascarado, jovens incautos em situações de extremo perigo e mortes sanguinolentas espalhadas ao longo da trama, com resolução do mistério no desfecho, nalguns casos, favorável ao monstro e não exatamente aos mocinhos que tentam reorganizar a ordem e estabelecer a tranquilidade após momentos tenebrosos de horror e morte. Prefácio da Morte é deste período, uma era de continuações excessivas, vide Sexta-Feira 13, Halloween e A Hora do Pesadelo, franquias que usaram e abusaram de seus vilões para dar ao público espetáculos com banhos de sangues garantidos. Nesta produção escrita por David Chaskin e dirigida por Tibor Takács, elementos fantasiosos e sobrenaturais se fundem com a realidade para causar transtorno na vida dos personagens que precisarão travar uma intensa batalha para garantir a sobrevivência até o final.

Sigamos com a proposta narrativa: aqui, temos a presença de Virginia Clayton (Jenny Wright), uma jovem funcionária de um sebo, leitora voraz que aproveita as suas noites solitárias para colocar a lista de livros em dia. A sua predileção vai ao encontro dos contos de horror raros, publicações cheias de mistérios e lendas em torno de sua composição e distribuição. Numa determinada noite sombria, um macabro acontecimento demonstra que a monstruosidade da ficção pode estar fazendo parte da realidade da moça. Um maníaco começa a atacar e os detalhes de sua ação estão diretamente conectados com os desdobramentos de um dos contos que a jovem mais gosta da sua lista de leitura. E agora? Parece que ao realizar a leitura do material ficcional, ela estabeleceu uma espécie de conjura, como acontece com o Livro dos Mortos no clássico Evil Dead. Será que Virginia libertou um demônio das trevas?

É o que a personagem precisará descobrir, caso queira se manter viva até o desfecho. Inicialmente, ela conta os fatos ao namorado, figura ficcional que obviamente, a considera surtada, tomada pelos rompantes ficcionais de seus momentos diletantes de leitora. Sem ter como contar com mais ninguém, a protagonista mergulha na investigação para tentar compreender o que está por detrás deste mistério e, consequentemente, da trilha de corpos que começa a se amontoar, com vítimas assassinadas de maneira bastante peculiar: o maníaco escolhe cada uma com perfeição, dando atenção aos aspectos do rosto, pois aniquila as vidas alheias para remontar a sua face, tirando dos outros aquilo que foi tirado de si, isto é, o mínimo traço de humanidade, haja vista a sua feição retalhada e monstruosa.

Com uma empolgante trilha sonora, composição assinada por Michael Hoenig, além da assertiva direção de fotografia e design de produção, ambos imersivos dentro da temática com traços góticos de Prefácio da Morte, adentramos numa história de medo e horror onde os realizadores buscaram o tempo inteiro o diferencial necessário dentro de um segmento cinematográfico exaurido desde os anos 1970, subgênero levado ao ápice durante a década de 1980 e já enfraquecido no quesito criatividade na passagem para os anos 1990, era de renovação apenas em 1996, com a chegada de Pânico, aquecida anteriormente com a baita lição de metalinguagem do próprio Wes Craven no sétimo episódio da franquia A Hora do Pesadelo, um ponto alto na carreira do antagonista Freddy Krueger. Ao longo dos 89 minutos desta produção dirigida com autenticidade por Takács, há diversos furos de roteiro, mas a diversão, caro leitor, é garantida. É um refresco de leve para um cenário que vinha de uma linha de esgotamento. Na mixagem de realidade e fantasia, este slasher garante uma sessão de entretenimento ao espectador, sem cair no marasmo. Uma narrativa que merecia uma refilmagem para os nossos tempos. O que acha?

Prefácio da Morte (I, Madman/EUA – 1989)
Direção: Tibor Takáks
Roteiro: David Chaskin
Elenco: Jenny Wright, Stephanie Hodge, Clayton Rohner, Randall William Cook, Stephanie Hodge, Vance Valencia, Michelle Jordan, Murray Rubin, Vincent Lucchesi,Raf Nazario
Duração: 90 min.

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