Até então, em sua maioria, por se tratar de um subgênero com características consagradas, a presença da sátira no terror reúne vários exemplos no slasher, e o sexto capítulo de Premonição parece querer testar essa abordagem, uma vez que a franquia retorna depois de 14 anos. Nesse sentido, a nova sequência volta consciente da fórmula que moldou a franquia por uma década – a visão, o esquema da morte, as mortes mirabolantes – porém, não há uma tentativa de retomar isso, e sim recriar a abordagem em um ponto de vista que abraça o absurdo quase que em um tom descompromissado. É como se a ideia partisse da mente de alguém que não só conhece os filmes, mas sabe também o que fez a franquia ser tão prestigiada pelo público, fazendo, assim, o longa assumir um tom irônico em cima da conhecida fórmula.
Chega a ser animador que, após anos de adiamentos e rumores sobre o que seria esse novo capítulo, Jon Watts conseguiu pensar em um conceito inédito que, além de referenciar a franquia, a coloca em um lugar diferente de tudo que já foi feito. Isso pode ser percebido na tradicional cena de abertura que se passa na década de 60 trazendo o colapso de uma torre. Em comparação ao desastre do quarto capítulo – que concentrava um grande número de pessoas num único espaço –, Premonição 6: Laços de Sangue entrega um nível de tensão e claustrofobia em grande escala, buscando um apelo mais emocional com Isis (Brec Bassinger), a clarividente da vez. Porém, a narrativa não quer entregar o mais do mesmo com a estrutura dos sobreviventes de um acidente lidando com o esquema da morte… não da maneira que conhecemos.
Nesse contexto, pela primeira vez, vemos um filme de Final Destination abandonar o seu tom sombrio e mitológico de um mistério à espreita e abraçar um tom assumidamente cômico, cínico e uma autossátira que beira a uma paródia. É como se o maior fã da franquia pegasse todos os elementos internos e externos – “os traumas” que os filmes geraram, por exemplo – e os colocasse nessa versão que quer ser absurda e brutal, mas também não ser levada a sério. Só a sacada de partir de uma linha de tempo para outra para dar uma explicação ao esquema da Morte parece algo extraído de uma fanfic, justamente por ser um exercício de imaginação para uma base já estabelecida com os filmes. E de maneira alguma isso é o ponto negativo, pois é a prova de que até o longa ser produzido, pensaram muito em como elevar o conceito de forma que não parecesse ser uma tentativa de revisitar uma fórmula.
Percebe-se que, mesmo com a estrutura de uma família que descobre ser vítima de alguma espécie de maldição, ser um artifício batido funciona para a proposta de Laços de Sangue investir em um caminho diferente para explorar o absurdo esquema da Morte. Porém, essa escolha sacrifica não só a tensão calculada que marcou os primeiros filmes, mas toda a bagagem referencial de tom sombrio, maneirismos, trilha sonora e impacto, mas não por consequência da abordagem ser ruim, e sim por não estar preocupado em trazer uma nostalgia atmosférica e visual. A dupla de diretores se concentra em abraçar o exagero e o absurdo e fazer disso o maior triunfo, e graças a isso, se afastar das pistas visuais tornou esse sexto capítulo uma experiência imprevisível por inserir mortes criativas que nem o marketing foi capaz de estragar. O que temos aqui é longa autoconsciente do que veio antes e que pensa: “e se formos por um caminho descompromissado que só celebrasse a franquia?”.
O roteiro de humor ácido de Guy Busick e Lori Evans Taylor conseguiu o feito de contar com um elenco carismático e bons personagens – outra sacada que Premonição 4 não deu conta – para encabeçar a famosa franquia de slasher sobrenatural numa versão debochada de si mesma. É estranho e, ao mesmo, tempo empolgante voltar para a franquia e ver que está diferente da identidade, composição e tom paranormal em prol de um absurdo que flerta com a tragicomédia, mas ainda consegue divertir pelo nível de criatividade a qual abraça o exagero de suas mortes. A boa notícia é que a divulgação escondeu boa tarde das surpresas e de como, de fato, a narrativa trabalha ao brincar com as expectativas do público. Novamente, é mais um indício dessa autoconsciência de saber que está fazendo, para onde está indo e, ainda assim, ter o tato para fazer isso de maneira hilária.
No fim das contas, tiveram a coragem de mudar a fórmula de uma franquia prestigiada pelo público plantando a semente para manter a longínqua saga nas telonas por mais alguns anos, e sem apelar para o molde narrativo de sequência-legado, por exemplo, ou reboot, mas propõe uma nova forma de explorar o esquema da Morte sem a ambição de diminuir ou acrescentar algum elemento a mitologia, e fazendo do humor o fato de que os personagens vão morrer e a audiência torce pelo contrário e vemos isso acontecer das maneiras mais inesperadas. Premonição 6: Laços de Sangue quebra o padrão, tira o mistério, faz a busca por sentido não ser relevante enquanto faz da morte e tragédia sua maior diversão.
Premonição 6: Laços de Sangue (Final Destination: Bloodlines – EUA, 2025)
Direção: Zach Lipovsky, Adam B. Stein
Roteiro: Guy Busick, Lori Evans Taylor
Elenco: Brec Bassinger, Kaitlyn Santa Juana, Teo Biones, Rya Kihlstedt, Richard Harmon, Owen Patrick Joyner, Anna Lore, Alex Zahara, Aptil Telek, Tinpo Lee, Gabrielle Rose, Max Lloyd-Jones, Jayden Oniah, Tony Todd, Noah Bromley
Duração: 110 min.