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Crítica | Presos no Gelo

Gélido slasher norueguês traz um antagonista perigoso e quase imortal.

por Leonardo Campos
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2006 foi o ano de lançamento para duas franquias rentáveis dentro do segmento slasher: Presos no Gelo e Terror no Pântano. No caso da saga de Victor Crowley, os realizadores estavam interessados na velha guarda, no abandono do excesso de efeitos visuais, tendo em vista brincar com a maquiagem em prol da violência excessiva e satírica. Com Presos no Gelo, a produção buscou flertar com a clássica estratégia do antagonista humano dotado de características imortais, haja vista o padrão Michael Myers apresentado pelo aniquilador de vidas incautas deste gélido slasher interessante, dinâmico e concebido de maneira a ser atraente para quem curte as narrativas do subgênero em questão: jovens perdidos, um local abandonado e sem os privilégios tecnológicos dos grandes centros urbanos, perseguidos por uma figura misteriosa que terá o seu passado desvendado e compreendido para que os envolvidos saibam como lidar com sua fúria implacável, responsável por deixar uma trilha de corpos pelo caminho que atravessa.

Ao longo de seus 97 minutos, Presos no Gelo coloca os espectadores dentro da seguinte trama: cinco jovens decidem se divertir e praticar esportes nas montanhas de uma região gélida. Lá não há sinal efetivo de operadores de celulares, tampouco possibilidade de ampla rede de contatos para situações emergenciais. Esqueça, caro leitor, o tom bucólico dos acampamentos com suas florestas frondosas e lagos cristalinos. Aqui, os personagens estão inseridos numa dinâmica geográfica quase inóspita, repleta de grandes perigos. É inverno, o território norueguês está tomado por generosas camadas de gelo e após um deles cair e quebrar a perna, o grupo precisará passar a noite num hotel abandonado da região, lugar que de acordo com os créditos de abertura, um panorama de pessoas desaparecidas e um misterioso garoto com sua marca da nascença, é o ambiente ideal para o acontecimento de situações inusitadas.

Concebido pelo design de produção de Astrid Saetren e direção de fotografia que mescla amplas paisagens geladas com a atmosfera claustrofóbica do lugar abandonado, trabalho eficiente assinado por Daniel Voldheim, Presos no Gelo tem como foco central Jannicke (Ingrid Berdal) e Eirik (Tomas Alf Larsen), dupla que passará um tempo maior em cena, numa batalha angustiante contra o antagonista interpretado por Rune Delby, tratado pelo roteiro como Homem da Montanha. Eles descobrem, antes da perseguição começar, que os antigos donos do estabelecimento perderam o seu filho, a criança apresentada nos mencionados créditos de abertura, uma figura ficcional que pode ser o psicopata que torna os seus maiores pesadelos mais reais do que nunca, sem nenhuma motivação direta com o grupo de jovens, mas por ser do seu feitio retalhar humanos incautos que decidem passar pela região.

Apesar de burocrático em seu desenvolvimento, Presos no Gelo é um slasher interessante, dirigido por Roar Uthaug, realizador guiado pelo roteiro assinado por Jerry Schafer, Martin Sundland e Tomas Holdestad. Com trilha sonora funcional, composição assumida por Magnus Beite, esta produção lançada em 2006 ganhou mais duas continuações e se transformou numa franquia rentável. Em Presos no Gelo 2, de 2008, a história começa exatamente de onde terminou o antecessor, com a final girl sendo internada no hospital mais próximo do hotel abandonado, num resgate que também contou com o assassino, aparentemente morto, mas a ressurgir para mais uma sequência de matança, numa possível referência ao segundo filme da franquia de Michael Myers, situado no mesmo tipo de ambiente.

No desenvolvimento de Presos no Gelo 3, de 2010, os produtores investiram num retorno ao passado e decidiram contar as origens do Homem da Montanha, explicando a mitologia do personagem ao público, no elo mais frágil da franquia. Um grupo vai para a região e começa a ser perseguido pelo antagonista que descobriremos, é ajudado por um mentor, numa história que preenchem algumas lacunas, mas já falha por inserir uma atmosfera outonal num universo que prezava pela instabilidade temporal para tornar a trama uma trajetória de obstáculos mais complexos. Não funcionou, mas é acompanhável. Produzido num esquema mercadológico diferente do habitual, o subgênero slasher ganhou, com estas narrativas, uma contribuição interessante, mesmo que a estrutura dramática seja padrão e óbvia. Há, me Presos no Gelo, uma preocupação com o ritmo de entretenimento necessário para este estilo de filme, algo que já o coloca numa posição privilegiada diante dos demais exemplares morosos da sua época.

Presos no Gelo (Fritt Vilt, Noruega – 2006)
Direção: Roar Uthaug
Roteiro: Thomas Moldestad, Martin Sundland, Roar Uthaug, Jan Eirik langoen, Magne Lyngner
Elenco: Ingrid Bolsø Berdal, Rolf Kristian Larsen, Tomas Alf Larsen, Endre Martin Midtstigen, Rune Melb
Duração: 90 min.

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