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Crítica | Prey (2019)

Um cão raivoso e uma jovem tetraplégica numa batalha claustrofóbica.

por Leonardo Campos
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Como lidar com um cachorro raivoso? Essa é umas lições que aprendemos ao terminarmos de assistir a este filme espanhol que é um argumento de puro horror, apesar de sua execução deixar a desejar em alguns momentos pontuais. Desorientado, agressivo, com dificuldade de deglutição, espasmos e salivação excessiva. Esse é o resultado de um cão com raiva que não teve a devida vacinação em tempo hábil. O vírus, contraído muitas vezes por mordida de animais silvestres, muitos casos, por sinal, oriundos dos morcegos, entre em contato com o sistema nervoso periférico, isto é, o local da mordida, para depois se replicar e atingir o cérebro e por fim, o sistema nervoso. Ao se instalar nas glândulas salivares do animal contaminado, pode ser transmitido a outros bichos e seres humanos, num mal que é passado apenas entre os mamíferos. No desenvolvimento do filme, temos o dócil pastor-belga, conhecido por sua lealdade, proteção aos tutores e tranquilidade, sendo transformado numa ameaça assassina perigosa.

Uma mescla de filme de confinamento com elementos basilares do horror ecológico. Assim é Prey, também conhecido como Ropes, narrativa sobre Elena (Paula Del Rio), uma garota tetraplégica que precisa se defender de um cão acometido pela mazela descrita acima, um pastor-belga que deveria ajuda-la na reabilitação e acessibilidade diante de sua condição, mas que se torna um dos grandes obstáculos de sua vida já bastante complicada. Sob a direção de Jose Luis Montesinos, cineasta guiado pelo próprio roteiro, escrito numa parceria com Yako Blesa, acompanhamos a saga de jovem traumatizada por todos os problemas que a tomam de assalto no tempo narrativo prévio ao advento da história que contemplamos. Acostumado com sua vida independente, ela precisa ir morar com o pai numa casa de campo afastada, haja vista o desenvolvimento da deficiência após o sinistro de trânsito que ceifou a vida de Vera (Del Rio, noutro desempenho dramático) e a deixou para sempre acoplada numa cadeira de rodas elétrica.

Aqui, trauma, culpa, dor, luto e outros sentimentos se mesclam numa simbiose desconfortante, incômoda também em sua execução, pois por mais que haja um bom argumento, o filme peca pelo ritmo em alguns instantes e cria algum desinteresse/impaciência para quem está no posto de espectador, mesmo que a trama seja breve, com apenas 87 minutos de duração. Ao chegar para essa nova vida, Elena é apresentada ao seu companheiro Author, um cão de guarda treinado que a ajudará no processo de adaptação da casa que traz, graças ao bom design de produção de Dolors Company, muitos ambientes claustrofóbicos, com cordas e outros objetos adequados para o deslocamento da personagem que só consegue erguer um pouco das mãos alguns centímetros da altura superfície de sua cadeira de rodas. Envelhecida em alguns ambientes e com uma iluminação sombria, estabelecida pela direção de fotografia de Marc Zumbach, a nova moradia de Elena é desafiadora, mas lidar com um cão raivoso é algo muito mais assustador. Pior: em determinado momento, o seu pai sofre um ataque cardíaco e a jovem precisa enfrentar a sua ameaça sozinha.

Em determinado momento da história, o animal contrai raiva após uma mordida de morcego, situação que após a era da covid-19, torna-se ainda mais alegórica e reflexiva para pensarmos os nossos medos internos. Neste processo, o cão vai ataca-la, criar uma atmosfera de terror na residência, promover alguns momentos de tensão, não ampliados diante das possibilidades do argumento por causa dos efeitos visuais da equipe supervisionada por Luis Tinoco, CGI que atrapalha um pouco o estabelecimento de um clima real de perigo. Ademais, Arnau Bataller entrega uma trilha sonora interessante, mas não memorável o suficiente para nos fazer esquecer alguns problemas narrativos de Prey, um horror ecológico de confinamento que refina velhas fórmulas e consegue criar algum envolvimento para quem assiste, mas que infelizmente, perde um pouco de seu impacto por não executar melhor as ideias presentes em sua estrutura dramática. O cão com sua boca espumante não chega a ser uma ameaça monstruosa, mas a tensão da situação de mobilidade é bem mais desconfortável que qualquer outra celeuma gravitante.

Prey ( Espanha – 2019)
Direção: Jose Luis Montesino
Roteiro: Jose Luis Montesino, Yako Blesa
Elenco: Paula Del Rio, Miguel Angel Jenner, Jordi Aguilar, Ana Terrasa, Irene Terrasa, Luís Pocar
Duração: 87 minutos

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