Home TVEpisódio Crítica | Primal – 1X06: Scent of Prey

Crítica | Primal – 1X06: Scent of Prey

por Ritter Fan
2,K views

Mais de dois anos depois de retornar a Samurai Jack para uma 5ª e última temporada, Genndy Tartakovsky retornou discretamente à televisão com o que parecia ser uma temporada curtíssima de apenas cinco episódios transmitidos pela Cartoon Network em dias consecutivos de sua nova criação, Primal, uma animação pré-histórica sobre a improvável amizade entre um homem da caverna (Spear) e um Tiranossauro fêmea (Fang) que perderam sua família em tragédias conectadas. Impondo-se restrições como a ausência de diálogos – só sons animais e guturais – e foco exclusivo na dupla protagonista, Tartakovsky mostrou como é perfeitamente possível fazer muito com muito pouco.

Eis que, alguns dias antes de completar um ano do final da micro-temporada, o criador e showrunner retorna à Primal não com uma nova temporada, mas sim mais cinco episódios da 1ª, desta vez transmitidos de maneira convencional, ou seja, semanalmente. Scent of Prey é o primeiro capítulo dessa segunda metade e ele começa exatamente de onde Rage of the Ape-Man parou: com Fang aparentemente morta em meio aos terríveis homens-macaco que os atacaram. Spear está inconsolável por mais essa perda, mas é claro que Fang não está morta e, ao movimentar-se debilmente, sem forças sequer para abrir os olhos, Spear passa então a cuidá-la de ameaças externas, especificamente os abutres que passam a sobrevoar a arena e a devorar as carcaças dos homínidas destroçados ao redor, depois uma alcateia de hienas e, também insetos particularmente resistentes.

Ao longo de quase toda a duração do episódio, o que vemos é Tartakovsky desafiando-se, pois, agora, ele precisava contar uma história em que Fang não participa ativamente, tendo Spear como único efetivo personagem com a dificuldade inata de se defender sei lá quantas toneladas de dinossauro desfalecido. E, como não tinha dúvida que aconteceria, Tartakovsky triunfa mais uma vez, desta vez valendo-se de um roteiro extremamente simples, mas muito eficiente de Bryan Andrews que também foi o responsável pelos tão valiosos storyboards que estabelecem uma cadência perfeita, sem jamais permitir que um segundo sequer de duração seja desperdiçado e sem aliviar a tensão que  é construída pelo desespero de Spear em salvar Fang a todo custo.

E o melhor é que, diferente do capítulo anterior e do que veio antes dele, Terror Under the Blood Moon, Tartakovsky não recorrer a invencionices dentro de seu universo. Em outras palavras, ele não introduz criaturas míticas ou homens-da-caverna que sabem fazer anabolizantes mágicos para fazer sua narrativa funcionar, algo que, para mim, foi o único verdadeiro problema da primeira metade que, até o terceiro episódio, havia se contentado em manter a “realidade” da coisa toda, apenas valendo-se do sempre válido recurso anacrônico de se colocar o homem coexistindo com dinossauros, algo que nunca aconteceu. Em Scent of Prey, as ameaças são singelas, banais mesmo, mas galgadas em um certo grau de realismo (ok, os insetos são estranhos, mas dá para aceitá-los perfeitamente, especialmente depois que Spear os usa como… hummm… ferramentas) e sempre – SEMPRE – criando tensão pela sua mera presença, por mais longe que seja.

Claro que temos que aceitar a inteligência macgyveriana e a força fora do comum de Spear, mas, novamente, isso faz parte do jogo e funciona muito bem dentro do que o episódio se propõe, ou seja, estreitar ainda mais os laços entre Homem e Natureza, entre dois inimigos naturais que, por circunstâncias trágicas, acabam tornando-se grandes amigos que estabelecem quase uma conexão simbiótica. E, para tornar isso realmente possível, mais uma vez a trilha sonora de Tyler Bates e Joanne Higginbotton cumpre função essencial em um episódio da série, quase que realmente tornando-se mais um personagem. Cada nota, cada acorde é brilhantemente utilizado pelos compositores para dar vida ao silêncio, para aprofundar uma tensão subliminar que fala mais alto do que qualquer ameaça física à pobre Fang, por vezes até mesmo substituindo a poderosa presença da simpática “dinossaura”.

Scent of Prey é um excelente recomeço para a temporada inaugural de Primal tanto tempo depois que os rápidos primeiros cinco episódios foram ao ar. Que essa amizade improvável continue gerando frutos dessa qualidade por muito mais tempo nem que intervalos assim sejam realmente necessários!

Primal – 1X06: Scent of Prey (EUA – 04 de outubro de 2020)
Criação: Genndy Tartakovsky
Direção: Genndy Tartakovsky
Roteiro: Bryan Andrews
Elenco: Aaron LaPlante
Duração: 22 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais