Home TVEpisódio Crítica | Primal – 2X01 e 02: Sea of Despair / Shadow of Fate

Crítica | Primal – 2X01 e 02: Sea of Despair / Shadow of Fate

O começo de uma nova jornada.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

E, finalmente, Primal, a mais nova animação de Genndy Tartakovsky retorna com sua premissa simples sobre a amizade entre um homem das cavernas e um dinossauro depois que ambos perdem suas famílias para nos brindar com dois capítulos que partem exatamente do ponto em que Slave of the Scorpion parou, com Mira (Laetitia Eido-Mollon), mulher claramente mais evoluída, é sequestrada por misteriosos seres que a levam em um navio para lugar incerto e não sabido, deixando Spear (Aaron LaPlante, que faz da gritaria gutural uma arte) olhando para o horizonte e, pela primeira vez, falando uma palavra em desespero: o nome dela.

Sea of Despair, então, não perde tempo em colocar Spear freneticamente tentando construir uma jangada com toras de madeira que derruba com seu machado e com a ajuda da fiel Fang que usa suas garras e mandíbula para o mesmo fim. Não demora e a embarcação rústica está pronta, com Spear tendo que usar expedientes alimentícios para atrair Fang lá para cima. Mesmo que a jangada em si seja um passo evolutivo considerável para o grandalhão Spear, acho perfeito como Tartakovsky deixa de fora o remo, pois seria demais imaginar que o homem da caverna teria capacidade de criar um. O que segue daí, então, é uma épica viagem pelo mar, com a dupla encontrando meios para impulsionar o barco, “pescando” um gigantesco arquelônio (tartaruga marinha do Cretáceo) que acaba fornecendo não só carne como abrigo contra o sol, enfrentando um inevitável megalodonte e assim por diante, tudo enquanto a animação nos oferece visuais de tirar o fôlego.

Acho particularmente importante notar como Tartakovsky não tem pressa e constrói uma narrativa de “perdidos no mar” que vai em um crescendo lógico dentro desse universo alternativo que criou. De situações prosaicas que leva Fang a usar o poderoso rabo para remar, passando por um cardume de peixes voadores que trazem pterossauros em seu encalço, até a chega deles, separadamente, em terra firme, tudo serve para mostrar a grande mágica da animação, que a improvável amizade entre homem e animal, com Spear revelando-se um homem capaz de qualquer coisa para salvar Mira, inclusive atirar-se ao completo e ameaçador desconhecido.

Quando Shadow of Fate começa, temos um raro episódio em que os dois estão completamente separados, cada um explorando essa nova terra onde vão parar, com Fang fazendo amizade com o que parece ser um Tiranossauro macho vermelho e Spear primeiro enfrentando, depois sendo acolhido por uma aldeia de homens e mulheres evoluídos cujos cabelos ruivos, pinturas azuis no corpo, uso de remédios e magia, língua (o chefe é o único que fala, com a voz de Adam Fergus em um dialeto que poderia muito bem ser “proto-escocês”) e assim por diante. Se Tartakovsky já havia aberto a porta da multitude de tribos de diferentes graus evolutivos na primeira temporada, agora ela é completamente escancarada, com Spear tendo que ser “conquistado” aos poucos por um povo que, ao que tudo indica, quer evitar mais derramamento de sangue.

Mas, claro, isso se torna impossível e a convergência final do episódio, com Fang e seu companheiro chegando e atacando a aldeia que Spear, então, passa a defender, é uma violenta e poderosa luta pela sobrevivência, ao mesmo tempo que pela perenização da amizade entre os dois que acabam, depois de toda a tragédia, abandonando a aldeia e retorna ao caminho solitário e não exatamente com os dois realmente juntos, pois creio que a morte do dinossauro vermelho ainda terá consequências maiores. O que realmente importa, porém, lá no fundo, é a reiteração de que Spear e Fang são inseparáveis e farão tudo um pelo outro, nem que isso signifique ceifar a vida daqueles que de alguma forma ameace essa união.

Sea of Despair e Shadow of Fate são dois excelentes episódios de retorno de Primal, que mostra a qualidade imbatível da técnica de animação à mão 2D, algo tão raro hoje em dia. Agora é torcer para Tartakovsky continue a exploração desse novo continente ou ilha e evite algo que pessoalmente tendo a desgostar em sua obra, que é constante tentativa de se cambar para o lado sobrenatural. Creio que será inevitável por tudo o que foi mostrado na temporada inaugural, mas a grande verdade é que a série se beneficia muito da simplicidade de seus conceitos e a introdução de elementos verdadeiramente mágicos tende a reduzir esse impacto. Mas, eu sei,  Tartakovsky é Tartakovsky!

Primal – 2X01: Sea of Despair / Shadow of Fate (EUA – 21 de julho de 2022)
Criação: Genndy Tartakovsky
Direção: Genndy Tartakovsky (2X01), Genndy Tartakovsky e David Krentz (2X02)
Roteiro: Darrick Bachman, Genndy Tartakovsky
Elenco: Aaron LaPlante, Laetitia Eido-Mollon, Adam Fergus
Duração: 23 min. (cada episódio)

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