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Crítica | Primal – 2X05: The Primal Theory

O que foi isso que acabei de assistir???

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Não sei muito bem explicar o que eu acabei de assistir. O que eu posso afirmar com certeza é que foi uma experiência surpreendente, totalmente inimaginável. Além disso, tenho certeza de que eu absolutamente adorei o que vi, por mais estranho que tenha sido! Genndy Tartakovsky, na metade da segunda temporada de Primal, quando já estávamos mais do que acostumados com a refrescante estrutura de sua mais recente criação, nos arremessa uma bola curva mais do que completamente inesperada que exige uma readaptação tão longa para simplesmente aceitarmos que estamos mesmo vendo a série em tese sem diálogos sobre um homem da caverna que faz amizade com uma T-Rex que é essencial assistir The Primal Theory duas vezes, até para ter certeza de que por alguma razão não clicamos na animação errada sem querer.

Para começo de conversa, esqueçam Spear, Fang, Mira, os vikings montados em ursos gigantes ou qualquer conceito pré-histórico ou primitivo. Bem, esqueçam disso pelo menos por um tempo, pois The Primal Theory, por mais diferente que possa ser, mais do que dialoga com o que Tartakovsky criou. E, quando digo “dialoga”, quero dizer literalmente dialoga, pois o episódio é, por pelo menos metade de sua duração, um debate entre intelectuais da Londres de 1890 sobre a teoria da evolução e involução a partir de um jovem chamado Charles (Jacob Dudman) – é importante o uso só do primeiro nome, já falo sobre isso – que defende que, em condições de ameaça extrema, o ser humano seria capaz de involuir ao seu estado primordial, violento e descerebrado como um instrumento de defesa, o que apenas corroboraria que a distância da raça humana atual em relação a nossos antepassados primitivos não seria tão grande assim. Claro que os intelectuais mais velhos e esnobes, liderados por Lorde Darlington (Jeremy Crutchley), fazem de Charles uma chacota, duvidando de tudo o que ele diz por não haver base científica para tanto.

É natural imaginarmos que o Charles que vemos é Charles Darwin, mas é importante lembrarmos que o “nosso” Darwin faleceu em 1882, o que deixa claro que o ano de 1890 que vemos no início está lá não só para nos situar na Era Vitoriana, como também para indiretamente revelar que não estamos no “nosso” universo, por assim dizer. Se aquele ali é mesmo Charles Darwin, retratado com um homem jovem ainda por cima, ele não é o Charles Darwin que conhecemos. Isso contribui, no plano macro, para corroborar algo que já havia ficado claro em Primal: a pré-história que vimos ao longo de 14 episódios não é a nossa pré-história, mas sim uma pré-história em que homens da caverna conviveram com dinossauros – o que, claro, não aconteceu – e também com outros povos muito mais evoluídos.

Mas o desenrolar de The Primal Theory nos leva a outra possível conclusão. Afinal, assim que Charles tem sua teoria demolida por seus pares, um policial chega na mansão de Lorde Darlington para avisar que houve uma fuga de um sanatório prisional próximo dali e que é para todos ficarem atentos. Não demora e, claro, o fugitivo aparece por ali, matando o mordomo Stevens (também Dudman) e colocando os demais homens em estado de alerta máximo, iniciando um insano combate que vai do em tese civilizado ao momento mais primitivo, com Darlington deixando seus instintos mais basais tomarem conta dele de forma a derrotar o invasor e, no final das contas, provando que Charles estava certo, algo que é feito de forma inesperadamente humorística, com o jovem gozando da cara de seu “superior intelectual” transformado em um animal pré-histórico.

É importante reparar nos detalhes de tudo o que acontece em meio à pancadaria, pois a correlação com o que sabemos de Primal vai ficando cada vez mais evidente. Primeiro, o fugitivo do sanatório é, para todos os efeitos, uma versão ensandecida, careca e de dentes afiados de Spear. Seus movimentos são muito parecidos com o do protagonista da série, assim como sua selvageria. Mas, interessantemente, quem mais se parece com Spear em termos de fisionomia é Charles. O que isso poderia significar? Além disso, a transformação de Lorde Darlington em um selvagem feroz o aproxima também de Spear, ainda que sua fisionomia e seu físico sejam bem diferentes. Temos o uso da lança como sua arma principal no ponto em que sua humanidade vai para o ralo e temos o momento climático em que ele mata o fugitivo de maneira quase idêntica a que Spear mata o tiranossauro chifrudo vermelho no começo da primeira temporada.

Esses diversos elementos podem ter sido escolhas de Tartakovsky para deixar seus espectadores ensandecidos na criação de teorias sobre o episódio e os acontecimentos que transcorrem. Pode ser uma trollagem do criador russo-americano? Claro. Pode ser um experimento, um filler tematicamente semelhante ou um mero intervalo que marca a metade da segunda temporada? Sim, todas as opções estão na mesa. Mas e se Tartakovsky quis efetivamente emprestar um significado a tudo o que vimos em The Primal Theory? E se ele quis dizer algo que muito gente já pensava sobre sua série, que os eventos se passam não no passado longínquo, mas sim no futuro longínquo dessa Terra paralela, depois que um apocalipse se abateu e levou à involução dos humanos? Essa é a teoria de Charles que poderia ser um antepassado do próprio Spear. E isso “explicaria” essa “pré”-história livre de amarras históricas e científicas que Tartakovsky criou, pois ela seria uma “pós”-história. Ele precisava oferecer alguma lógica para sua animação? Claro que não e ele não oferece, pelo menos não didaticamente e talvez sequer oficialmente, mas é fascinante imaginar que Spear e Fang vivem em um futuro distópico distante, não é mesmo?

Seja o que for que Tartakovsky tenha querido fazer aqui e se o que vimos em The Primal Theory terá ou não algum tipo de encaixe posterior na temporada corrente, creio que não importa. O episódio é tão ousado e surpreendente e, nessa surpresa toda, tão eficiente na forma como lida com uma temática que paraleliza e comenta os eventos da série, que minhas únicas reações, quando os créditos começaram a rolar, foram colocar a mão no queixo para encaixá-lo novamente em seu lugar e começar a assistir o episódio novamente para ter certeza de que não foi uma alucinação.

Primal – 2X05: The Primal Theory (EUA – 12 de agosto de 2022)
Criação: Genndy Tartakovsky
Direção: Genndy Tartakovsky
Roteiro: Genndy Tartakovsky, Darrick Bachman
Elenco: Jeremy Crutchley, Jacob Dudman, Aaron LaPlante, Fred Tatasciore, Giles Matthey
Duração: 20 min.

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