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Crítica | Privacidade Violada

por Iann Jeliel
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Triste perceber que, depois de Breaking Bad, Aaron Paul não tenha emplacado em quase nada e Privacidade Violada provavelmente é mais um exemplo disso. Filme bem underground de terror, clichê de home invasion e de produção de baixíssimo orçamento, mesmo com sua qualidade questionável, com diversos elementos falhos e ilógicos no roteiro, temos material suficiente para aproveitar um petisco de 30% do talento do ator. Um thriller psicológico até bem executado dentro de sua baixa pretensão de pincelar discusões interessantes sobre crise de relacionamentos e os perigos obscuros da internet, mais precisamente: os stalkers.

A linha de tensão parte justamente daí, ou seja, um stalker encontra um casal em desentendimento como vítimas de suas práticas voyeuristas. Novamente seguindo à risca o clichê da mudança temporária de casa para tentar reabilitar o relacionamento e de preferência em uma residência isolada, nesse caso no interior italiano, não demora muito para o clima de paranoia instalar-se e, sem muito mistério, já partir para um jogo de manipulação entre o observador e o casal. O sociopata desafia a sanidade de cada um, questionando ainda mais a relação à medida que suas ações os influenciam e é nessa estrutura que o roteiro cozinha seu suspense.

Essa perspectiva dos olhares do inimigo poderia facilmente cair na armadilha de fazer o público não comprar as atitudes irracionais dos personagens; contudo as linhas de texto são bem escritas o suficiente para saber a hora de encaixar cada situação de forma orgânica, além de saber dosar bem o “desconfiômetro” dos personagens. Há até um certo controle de tensão constante devido a essa dosagem de informações, sempre intrigando o público sobre o próximo passo do inimigo. Suas motivações não claras e amplificam o suspense pelo desconforto das situações propostas e o ator Riccardo Scamarcio transforma os trejeitos clichês do personagem em algo menos cafona, jamais perdendo essa linha.

O diretor tem boa parte de influência nisso, pois ele conduz bem o elenco, conseguindo até um equilíbrio de Emily Ratajkowski, claramente limitada em termos de atuação e uma liberdade contida para Aaron Paul dar mais vivacidade ao desconforto da situação. Há momentos isolados de muita inspiração nesse sentido, mas falta coragem para ir além nesse desconforto. Tudo parece guardado para um inevitável clímax que, embora seja bem satisfatório e resguardando até uma boa surpresa na última cena sobre a mensagem principal do filme, no geral ele se mostra bem tímido em relação ao potencial estabelecido pelo restante. Revelando inconsequentemente um caráter bem irregular no tom da narrativa, parece que o roteiro desistiu em cada linha dramática que tenta estabelecer.

Os desdobramentos não saem muito do esperado, diferente do que a construção sugeria, não que ela fosse subversiva, mas ela tinha um caráter aleatório. Talvez a escolha errada tenha sido mostrar demais as motivações, por mais que elas fossem necessárias para o que o filme tinha a dizer, mas o problema é que elas acabam ganhando linhas muito previsíveis e óbvias. Por outro lado, o texto leva essas explicações para o humor negro, o que até amplifica o caráter de estranheza do vilão, mas faltou isso ser assumido mais cedo, acabando por parecer uma solução involuntariamente cômica dentro da seriedade em que o filme mantém em boa parte do tempo. Acaba que, por melhorar o ritmo estafante dos atos anteriores, para o telespectador mais impaciente não deixa de ser o ponto mais alto do filme.

Para os fãs de terror underground, Privacidade Violada é uma diversão média inconsistente dentro de méritos bem limitados tanto em narrativa, como em temática, mas, dentro do potencial para mais, entrega sua mensagem de forma minimamente bem passada, com um suspense honesto, um “Domingo Maior” ou filme isolado e aleatório de suspense nos confins das locadoras. Enquanto dura, não incomoda, não impressiona, mas vale uma conferida casual, principalmente para quem gosta do estilo e sente falta de Aaron Paul atuando.

Privacidade Violada (Welcome Home, EUA – 2018)
Direção: George Ratliff
Roteiro: David Levinson
Elenco: Aaron Paul, Emily Ratajkowski, Riccardo Scamarcio, Alice Bellagamba, Daphne Alexander, Francesco Acquaroli, Katy Louise Saunders, Nav Ghotra
Duração: 97 min.

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