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Crítica | Proud Mary

por Gabriel Carvalho
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“Novidades, bundão. Eu sou o tipo materno.”

Qual a necessidade do longa-metragem em conter a canção homônima ao seu nome, original do Creedence Clearwater Revival, aqui reinterpretada durante o clímax explosivo, igualmente possuir um pôster com clara inspiração na estética sessentista/setentista, mas se passar na atualidade, com uma essência muito mais genérica do que criativa e sem muitas cores? A obra foi criada apenas para brincar com esse nome da protagonista e ser embalada por essa canção, justamente essa canção? A imponente Mary (Taraji P. Henson) nem é muito orgulhosa – como proud aponta -, sendo que a sua jornada tem muito mais a ver com um equívoco do passado, quando, por ser assassina profissional, deixou um menino órfão, do que com um orgulho verdadeiro. “Resentful Mary” deveria ser o nome desse projeto, comandado pelo cineasta Babak Najafi.

O relacionamento da protagonista com Danny (Jahi Di’Allo Winston), um garoto que acaba tendo que entrar para o mundo do crime após a morte do seu pai, portanto, move o espectador na trama, visto que o restante dos paralelos narrativos é muito mais desinteressante. O roteiro, assinado por três pessoas, possui exposições em demasia sobre o passado de alguns personagens, em consequência transformando toda a narrativa em uma quase que estafante peça cinematográfica sobre o controle criminoso, sobre os deveres que devem vir antes das emoções e vice-versa. Najafi conduz o seu longa-metragem da maneira mais burocrática possível, um problema enorme, que, por exemplo, movimenta algumas revelações, não apenas de história, mas também de sentimentos, um pouco irreais. O trivial é uma marca que aparece bem, porém, não é suficiente.

O mais injusto seria acabar apontando Taraji Henson como uma péssima protagonista, o que não é o caso, porque a artista demonstra um controle em cena, carregando diversas situações com um carisma poderoso – não todas, porém. O protagonismo termina prendendo o espectador diante de uma obra, para as melhores das características, diante de vários deméritos, curta, com menos de uma hora e meia de duração. Os coadjuvantes ao redor também são competentes, como é o caso de Danny Glover e Billy Brown, entretanto, Proud Mary, para um longa que insiste em uma desconstrução do que antes estava estável – como a canção comenta -, não busca perigar em uma escala maior, encontrar-se em um senso de cerceamento diante de decisões com inevitáveis consequências, senão a única previsibilidade, complementando a sem-graça dos termos gerais.

Proud Mary é um projeto com ambições pequenas, contrastando com o gênero em que se encontra – a ação muitas vezes anseia por um escopo mais grandiloquente, ao invés do verdadeiro funcionamento das tantas propostas cênicas embutidas em si. Uma obra, enfim, sobre ressentimento, transformado derradeiramente em amor, mas sem qualquer apelo imagético, apenas emocional, dada uma carga dramática coesa. A sequência conclusiva, contudo, é a cara do crime metamorfoseado em uma espécie de entretenimento grandioso, entre piruetas e tiroteios, sob uma coreografia, porém, menos invejável do que o número de pessoas que terminam sendo mortas. Uma pena que, no final das contas, Proud Mary não tenha o porquê de se orgulhar realmente, sendo um grande desperdício, até mesmo da música que ostenta tão preguiçosamente.

Proud Mary – EUA, 2018
Direção: Babak Najafi
Roteiro: Christian Swegal, John Stuart, Newman Steve Antin
Elenco: Taraji P. Henson, Jahi Di’Allo Winston, Danny Glover, Billy Brown, Neal McDonough, Margaret Avery, Xander Berkeley, Rade Serbedzija, Owen Burke, Alex Ziwak, Jose Guns Alves, Arthur Hiou, Leah Procito, David Chen
Duração: 88 min.

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