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Crítica | Psicose III

por Ritter Fan
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Leitores, eu tentei! Tentei odiar a segunda continuação de Psicose, de Hitchcock, assim como tentei odiar Psicose II. Mas, novamente, frustrado e cansado, devo confessar que fracassei em meu objetivo. Psicose III, dirigido também por Norman… digo, Anthony Perkins, é outro divertido slasher movie galgado na mitologia estabelecida pelo Mestre do Suspense e vários momentos de homenagem ao original.

Além disso, o filme é a estreia na direção de Perkins e, diferente de Richard Franklin, diretor do anterior, o eterno Norman Bates, apesar de sim homenagear Hitchcock, faz um filme com um toque pessoal e próprio. Não é uma direção brilhante, longe disso, mas Perkins consegue, com muita eficiência, criar uma atmosfera legítima de suspense oitentista, com algumas sequências particularmente interessantes e bem estruturadas, como o inesquecível “gelo com sangue sendo chupado pelo xerife” (essa imagem aí em cima) e o genuíno “susto básico” de slasher movies da época.

Na verdade, o que sustenta mesmo a fita é o roteiro de Charles Edward Pogue, que relata o que aconteceu com Norman Bates apenas um mês depois de ele assassinar sua verdadeira mãe – Emma Spool (Claudia Bryar) – no final do segundo filme. Uma repórter, Tracy (Roberta Maxwell) chega à cidade para investigar o ocorrido e a possível (in)sanidade de Bates. Mas o que chama a atenção logo de início é a inclusão de uma personagem intrigante nova, Maureen (Diana Scarwid), uma noviça que perdeu a fé e que, na sequência de abertura, é a protagonista de uma espécie de reencenamento da cena do campanário da Missão San Juan Batista de Um Corpo Que Cai, o que imediatamente cria estranhamento e reconhecimento no espectador. Estranhamento, pois é um começo completamente inusitado e que captura de vez a atenção de quem assiste o filme. Reconhecimento, claro, por ser a mais evidente “homenagem” à Hitchcock, uma que ninguém espera.

E o roteiro tem outros momentos inteligentes que trabalham justamente em cima da perda da fé da ex-noviça Maureen que, desesperada, foge do convento e, claro, acaba no Bates Motel, onde um cafajeste padrão, que dera carona para ela na véspera, tentando se aproveitar dela, é, agora, o gerente. Nesse desespero da moça, vemos a recriação da cena do chuveiro, mas com personalidade, um dos momentos mais genuinamente interessantes do trabalho de Perkins com Pogue: há uma mistura perfeita entre culpa, morte e redenção, tudo com a conotação divina da salvação católica.

Mas, sendo um slasher típico, a profundidade da discussão que o roteiro chega a propor logo desaparece soterrada debaixo das mortes seguidas e bem explícitas, da canastrice extrema da atuação de Jeff Fahey como o cafajeste que mencionei acima e também de 80% do elenco, o que não só demonstra a falta de talento dos atores, como a incapacidade de Perkins de dirigi-los. Nem Perkins se salva completamente, pois a narrativa, no afã de revelar mais sobre o lado psicológico do personagem, exagera nos diálogos expositivos com Bates, esvaziando o mistério. Até mesmo as conversas entre Bates e sua mãe empalhada são mostradas em detalhes, o que arranca a aura grotesca e doentia estabelecida por Hitchcock no original.

No entanto, se o espectador olhar para Psicose III como mais um representante da era em que foi criado, uma era que trabalhava o terror como uma mera sucessão de sustos, trilhas sonoras que têm o volume aumentado nos momentos chave e muito sangue aleatório e desimportante (claro, há honrosas exceções!), então verá na fita uma obra comparativamente superior, que desdobra a mitologia de um clássico até o limite, nos lega boas sequências que vão além do susto fácil e cria outras de genuína aflição. Nada brilhante, nada marcante, mas, mesmo assim, uma surpreendentemente boa segunda continuação de um clássico incomparável.

 Psicose III (Psycho III, EUA – 1986)
Direção: Anthony Perkins
Roteiro: Charles Edward Pogue (baseado em personagens de Robert Bloch)
Elenco: Anthony Perkins, Diana Scarwid, Jeff Fahey, Roberta Maxwell, Hugh Gillin, Lee Garlington, Robert Alan Browne, Gary Bayer, Patience Cleveland
Duração: 93 min.

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