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Crítica | Psicose IV – O Início

por Ritter Fan
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Ok, agora estou preocupado comigo mesmo. Dos quatro filmes feitos com base no original de Hitchcock, só consegui esculhambar de verdade o remake dirigido Gus Van Sant. As duas continuações diretas considerei como divertidos slasher movies, talvez até acima da média desse tipo de filme da década de 80 e, agora, depois de assistir Psicose IV – O Início, com a certeza absoluta que, claro, uma terceira continuação e, ainda por cima, feita para a TV, jamais poderia ser minimamente razoável, estava já com gosto de sangue na boca para sair escrevendo palavras maldosas sobre o trabalho de Mick Garris na direção (cuja filmografia se resume a coisas ruins feitas para a televisão) e de Joseph Stefano no roteiro que, por incrível que pareça, escreveu Psicose, de 1960.

Mas, novamente, para minha desgraça, não consegui.

O filme, com orçamento apertado, o que pode ser constatado pelo cenários espartanos da rádio comandada pela apresentadora Fran Ambrose (CCH Pounder), a cozinha da nova casa de Norman Bates (Anthony Hopkins) e o hospital onde a esposa de Norman, Connie (Donna Mitchell) trabalha, foi feito para ser veiculado na televisão, depois do fracasso financeiro de Psicose III. Curiosamente, as sequências em flashback contando a “origem” de Norman Bates na casa de sua mãe e no fatídico Bates Motel foram filmados no parque de diversões Universal Studios, na Flórida, logo na época de sua inauguração.

Joseph Stefano, que foi chamado para dar peso à produção, não havia gostado das duas continuações anteriores e resolveu ignorá-las completamente. Com isso, nasceu uma espécie de continuação direta do primeiro filme, ao mesmo tempo que um prelúdio para ele. Mas, na verdade, se pararmos para pensar nos detalhes da “verdadeira mãe de Bates” trazidos em Psicose II e o que acontece em Psicose IV, não há, no final das contas, muitas incongruências, apenas “correções de rumo”. De toda forma, o que importa é que Stefano partiu de uma ideia simples para fazer dois filmes em um. Fran é a apresentadora de um programa noturno de rádio e a fita abre com ela entrevistando um matricida (depois de um estranho e incômodo plano detalhe na boca falante do assassino), o pai dele e um psiquiatra especialista no assunto. Uma das ligações que Fran recebe é de Norman, que se identifica apenas como Ed, já que ele, aparentemente, se sentiu incomodado com as explicações motivacionais do psiquiatra e, depois de soltar que “terá que matar novamente”, começa a contar sua vida desde o começo.

Recebemos várias informações interessantes ao mesmo tempo, com o diretor sabendo muito bem deixar as pistas visuais durante esse começo de diálogo ao telefone. Vemos a aliança no dedo de Bates, além do ambiente caseiro onde ele se encontra, mais especificamente a cozinha, além dos apetrechos para matar, digo, cozinhar que vemos espalhados sobre a bancada. Logo aprendemos que Bates se casou com a psiquiatra que o tratou nos últimos quatro anos (notem, aqui, que quatro anos é exatamente o intervalo de tempo entre o lançamento de Psicose III e IV, mostrando que, na verdade, os eventos do III não foram exatamente ignorados) e que os dois têm algum tipo de segredo que, de início, não é revelado aos espectadores. Ficamos sem saber quem Bates pretende matar (apesar disso ser mais do que óbvio) e somos jogados ao passado, em constantes flashbacks que mostram o personagem em outras duas idades, com seis anos, logo depois da morte de seu pai e como adolescente, quando enlouquece, mata sua mãe e o amante dela, além de outra vítimas. Mas não são flashbacks cronológicos. Vamos para a frente e para trás no tempo, na medida em que a conversa entre Fran e Bates se desenvolve e isso é outro aspecto interessante do roteiro. Apesar de toda a situação ser forçada, acabamos aceitando a conversa como algo no mínimo intrigante.

E, quando finalmente a doentia relação entre mãe e filho é abordada, somos brindados com uma surpresa: a bela Olivia Hussey, a eterna Julieta de Romeu e Julieta de Zeffirelli, é a louca progenitora do jovem assassino! Escalada exatamente por sua beleza e para fazer par com a beleza masculina de Perkins no primeiro filme, Hussey, apesar de não se mostrar uma excelente atriz, faz o papel de maneira competente, vagarosamente saindo da confortável função de eye candy para a de Norma Bates como esperávamos que ela fosse. Ah, e para quem tiver dificuldade de reconhecer, Henry Thomas, que faz o papel de Norman Bates adolescente é o ator que faz o garotinho Elliott, em E.T.!

No entanto, apesar das boas intenções do roteiro e da direção, Psicose IV peca por revelar demais sobre Norman Bates. O mistério é sempre mais interessante do que seu descortinamento, especialmente quando esse mistério já havia sido revelado desde o primeiro filme. O que vemos nada mais é do que a versão “audiovisual” da explicação do psiquiatra ao final de Psicose, de 1960, com algumas coias a mais para dar cor e sabor. E nem um slasher movie propriamente dito a parte IV é, pois o roteirista, propositalmente, se afastou dessa pecha, criando algo que tenta ressonar mais do lado psicológico. Com isso, o resultado é um filme que fica em uma espécie de limbo entre a trasheira e o drama de suspense, sem apegar-se a uma coisa ou outra de maneira correta e, com isso, perdendo identidade.

Em termos de atuação, Henry Thomas está particularmente interessante ao tentar emular a postura corporal que Perkins apresentou no primeiro filme. Apesar dos traços do rosto do jovem serem muito diferentes dos de Perkins, ele logo nos convence que é a mesma pessoa, só que mais jovem. Desde os passos desengonçados, até as expressões de horror, ele foi uma escolha acertada. Hussey também convence depois que o espectador consegue ultrapassar a barreira inicial do “olha lá a Julieta!” e nos dá uma performance digna. Mas o resto do elenco é dispensável, inclusive o próprio Perkins. Diagnosticado como portador de HIV durantes as filmagens e iniciando o tratamento também durante essa época, o ator está visivelmente desconfortável na pele de Bates e o roteiro, com muito texto expositivo, acaba atrapalhando ao retirar a característica reclusa e de ermitão do assassino serial. É difícil aceitá-lo como “dono de casa” que espera sua amorosa esposa chegar do trabalho.

E o final, já no presente, na casa da mãe de Bates, é longo demais, arrastado demais, anti-climático demais. Esses 15 ou 20 minutos finais parecem levar horas, com absolutamente nenhuma consequência prática para a história que não pudesse ter sido alcançada da mesma forma em cinco minutos.

Psicose IV quase consegue ser um filme bom. Quase consegue fazer jus ao material fonte. Quase consegue acrescentar elementos significativos à mitologia de Norman Bates. E foi justamente esses “quases” todos que me surpreenderam positivamente pela terceira vez.

Que venha Psicose V!

Brincadeirinha!!!

Psicose IV – O Início (Psycho IV – The Beginning, EUA – 1990)
Direção: Mick Garris
Roteiro: Joseph Stefano (baseado em personagens criados por Robert Bloch)
Elenco: Anthony Perkins, Olivia Hussey, Henry Thomas, CCH Pounder, Warren Frost, Donna Mitchell, Tom Schuster, Sharen Camille, Bobbi Evors, John Landis
Duração: 96 min.

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