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Crítica | Quem Matou Rosemary?

por Leonardo Campos
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Quem Matou Rosemary? Ao revisitar este clássico da Safra Slasher de 1981, as básicas leituras sobre Freud realizadas ao longo de minha formação me acompanharam durante e depois da exposição aos 88 minutos da versão restaurada desta produção dirigida por Joseph Zito. Há alguns anos, acreditava que a saga do psicopata da máscara de hóquei, Halloween – A Noite do Terror e A Hora do Pesadelo, os “medalhões” do que a crítica chamou de Segunda Era de Ouro do Horror, eram os filmes mais emblemáticos do segmento composto por narrativas sobre psicopatas que fatiam jovens incautos em locais desertos. Ao fazer uma breve arqueologia do subgênero, percebemos que campanhas publicitárias mais eficientes, elementos semióticos mais firmes e mecanismos de distribuição mais competentes ajudaram na permanência de Jason Voorhees, Freddy Krueger e Michael Myers no imaginário cultural.

Quando digo semióticos, refiro-me ao Jason e a sua máscara, ao silencioso e sádico Michael Myers e as lâminas e a camisa listradas do implacável Freddy Krueger. São marcas fortes numa época de assassinos do natal, réveillon, dia das mães, páscoa e dia dos namorados, figurinos clichês e tramas apelativas. Sabemos que a marca de John Carpenter trouxe elementos estéticos que colocam o primeiro filme da saga de Michael Myers em outro patamar, tal como a sofisticação dramática do texto de Wes Craven para Freddy Krueger. Mas, em suas continuações, a estrutura geral do slasher se manteve e não dá para encontrar muitas diferenças em comparação aos demais filmes do segmento, lançadas na mesma época e sem o mesmo prestígio. Este é o caso de Quem Matou Rosemary?, dirigido por Zito, também responsável por Sexta-Feira 13 Parte 4 – O Capítulo Final, lançado mais adiante, no começo da defasagem da franquia.

De volta ao começo, o que Freud tem a ver com isso? Em relação ao prazer sádico dos espectadores diante dos assassinatos no filme, diria que “tudo”. Segundo as considerações do psicanalista, recorrentes quando analisamos o comportamento humano ao passo que as sociedades avançaram durante e depois da publicação de suas teorias, o perverso é algo inerente a cada um de nós. A franquia Uma Noite de Crime e o famoso “dia do expurgo” só reiteram essas questões.  Tal como as crianças que na infância, insistem em ser ouvintes de histórias de terror, mesmo sabendo que não conseguirão dormir a noite, a nossa sensação diante do espetáculo da morte em filmes slashers é a cabal confirmação do exercício sadomasoquista que parte de uma agressividade enjaulada no interior da inerente perversidade humana.

Da mesma maneira que os órgãos sexuais dispõem o prazer durante o ato, os olhos o fazem durante filmes deste tipo. E não apenas em narrativas slashers. Basta que sejamos observadores do que é feito por Mel Gibson em A Paixão de Cristo, produção que passeia dentro de outro patamar industrial. É a destruição do corpo em prol da exposição simbólica da dor. Salvaguardadas as devidas proporções, é como encaramos a morte e sua espetacularização no slasher em questão, narrativa que se inicia em 1945. Diversos soldados voltavam das missões referentes aos conflitos da Segunda Grande Guerra. Por uma carta, ficamos sabendo que uma moça chamada Rosemary largou seu namorado antes que este retornasse dos embates bélicos. Ela estava preocupada em perder tempo e desperdiçar a juventude, em suma, a jovem queria viver mais intensamente e arrumar um namorado novo.

Com este mote, não há espaço para muita desconfiança. Sabemos que o rejeitado voltará e tomado por uma imensa fúria, descerá o machado com toda força na juventude sexualidade da região. E é mais ou menos isto que acontece. Na festa de retorno dos soldados, na pequena cidade Avalon Bay, o renegado pela moça não é visto por ninguém. Ao sair do evento, um casal é brutalmente assassinado durante seu momento intimidade, numa cena que nos remete aos empalados em Sexta-Feira 13 Parte 2, cena polêmica supostamente “inspirada” em Banho de Sangue, de Mario Bava, lançado anteriormente.  O crime que chocou toda a cidade deixa muitas pessoas assustadas. Após 35 anos do ocorrido, uma festa que havia sido proibida nesta data é capitaneada por um grupo de jovens.

Assim, a figura vestida de uniforme do exército, armado de facas e demais armas brancas parece ter voltado. A final girl Pam (Vicky Dawson) e o policial Mark (Christopher Goutman) são os responsáveis por tentar desvendar o mistério, ao passo que também precisam salvar as suas vidas. Diferente de Sexta-Feira 13, esta produção foi ofuscada graças ao poder dos estúdios, voltados ao sucesso da franquia de Jason, em campanhas esmagadoras que deixavam os demais filmes do segmento ofuscados para o consumo mais abrangente. Joseph Zito, tal como exposto anteriormente, parece ensaiar em sua cadeira de diretor, com assassinatos e maquiagem muito similares ao que já havíamos visto em outras produções de sua autoria.

O roteiro escrito por seis pessoas não abre espaço para oxigenação de um subgênero que ainda não estava desgastado em 1981. Glenn Leopold, Neal Barbera, Eric Lewald, Mark Edward, Michael Edens e Sarah Higgins assumem o texto que reforça algo que já sabemos, isto é, a quantidade de participantes na composição dramática não impede que haja um extensivo panorama de furos na narrativa, com personagens que desaparecem sem deixar rastro, dentre outros problemas que não fazem tanta importância dentro um filme que não se preocupa em ser mais que um entretenimento repleto de mortes bastante sanguinolentas. O filme pode não ter tido o prestígio de público de outros slashers famosos, mas por ser uma produção independente, não sofreu muitos cortes.

Tom Savini, o maquiador responsável pelo visual da versão infantil de Jason em Sexta-Feira 13, além dos assassinatos em dos jovens ceifados por Pamela Voorhees, elaborou um trabalho na concepção dos assassinatos para deixar qualquer um boquiaberto. Sabe aquela facada básica desferida e editada rapidamente em outros filmes do gênero? Aqui, os crimes são excessivamente violentos, com mortes que nos mostram o assassino a trucidar as suas vítimas por bastante tempo em tela. Outro detalhe: diferente dos demais, o assassino deixa a sua marca após cometer cada crime. Como? Uma rosa vermelha é depositada ao lado do cadáver. Macabro, não? Pois essa é a estratégia de exposição da sua ira, compreendida no desfecho, quando o traje cai e as motivações exageradas são expostas para o público. Após o panorama de mortes sangrentas, caso o leitor já tenha conferido, será difícil discordar das associações com as reflexões freudianas sobre o prazer diante perverso.

Quem Matou Rosemary? (The Prowler) — Estados Unidos, 1981
Direção: Joseph Zito
Roteiro: Glenn Leopold, Neal Barbera, Sarah Higgins, Eric Lewald, Mark Edward Edens, Michael Edens
Elenco: Vicky Dawson, Christopher Goutman, Lawrence Tierney, Farley Granger, Cindy Weintraub, Lisa Dunsheath, David Sederholm, Bill Nunnery, Thom Bray, Diane Rode, Bryan Englund, Donna Davis
Duração: 85 min.

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