Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Queremos Matar Gunther

Crítica | Queremos Matar Gunther

Onde está o Schwarzenegger?

por Ritter Fan
595 views

Para que o espectador desavisado possa ter alguma chance de apreciar Queremos Matar Gunther pelo que ele é, é necessário começar com um aviso que considero relevante, de forma a equalizar expectativas: apesar de Gunther, o rei dos assassinos de aluguel vivido por Arnold Schwarzenegger, ser provavelmente o personagem mais citado ao longo do filme, ele somente aparece quando estão faltando 25 minutos para o fim e, mesmo assim, não por todo o tempo. Portanto, não se trata de um longa do fisiculturista austríaco, mas sim um longa com ele, o que, provável e naturalmente, faz uma enorme diferença para muita gente.

Depois de esclarecido esse aspecto, algo importante dado que as peças publicitárias do filme usam e abusam do nome e da imagem de Schwarzenegger, vale dizer que, apesar dele, o filme é uma comédia até interessante sobre um grupo de assassinos liderados por Blake (Taran Killam que, além de protagonista, é produtor e roteirista da obra, além de estrear na direção aqui) que resolve matar Gunther de forma a mostrar seu valor. É uma evidente alegoria, lá para o final reiterada em uma frase do próprio Gunther, sobre a eterna dicotomia entre construir uma carreira ao longo de décadas de trabalho e tentar criá-la praticamente do nada, tomando todos os atalhos possíveis.

O eclético grupo arregimentado por Blake é, como esperado, de suprema incompetência, com todos ali – talvez com exceção da iraniana Sanaa (Hannah Simone) – parecendo um monte de patetas batendo cabeças em meio a planos sem sentido e execuções piores ainda. E, claro, tudo piora quando, ao que tudo indica, o próprio Gunther entra off screen na história (sem Schwarzenegger pois, como disse, ele só aparece no clímax e no epílogo) para terminar de ferrar de vez a vida dos pretensos jovens sedentos por fama, desorganizando o grupo para a completa frustração de Blake.

Em resumo, a história é uma bobagem completa, um quase-pastelão que, surpreendentemente, tem alguns momentos inspirados que conseguem arrancar genuínas risadas do espectador pela pura sandice que é a coisa toda. Isso, claro, se, além da ausência do ex-governador da Califórnia, o espectador aceite a computação gráfica feita com TK-85, alguns efeitos práticos que nem são tão ruins assim e sequências de luta que são propositalmente horríveis (ou, pelo menos, parecem ser propositalmente horríveis).

O roteiro de Killam, porém, se desgasta com muita rapidez. Fica evidente que ele teve uma ideia simples que funcionaria muito bem em um curta metragem ou em uma série de esquetes de algum programa humorístico de televisão. No formato de um longa-metragem, por mais econômico que ele pareça ser com seus 92 minutos de duração, essa ideia não tem substância ou fôlego para se manter acesa e refrescante por muito tempo. Lá pelo meio, mesmo com a inesperada participação especial de Cobie Smulders (esposa do diretor fazendo um favor ao marido) como ex-namorada tanto de Blake quanto de Gunther (o que explica a raiva que o primeiro sente do segundo) tentando sustentar mais algumas cenas, a grande verdade é que o filme começa a demonstrar cansaço, recorrendo a repetições que, claro, diluem a graça quase que completamente.

Quando, porém, Schwarzenegger realmente entra em cena, acaba o cochilo do espectador e tudo volta a ser divertido mais uma vez, com o ator grandalhão, mas já visivelmente envelhecido, vivendo uma versão exagerada dele mesmo ou dos personagens que marcaram sua carreira. Até mesmo a reviravolta que ele traz para a história – que se relaciona com o fato de ela ser um mockumentário, com câmeras na mão seguindo Blake desde o início, já que ele quer documentar sua jornada – funciona bem e a sequência climática, mesmo demorada, entrega aquilo que o filme precisava para acabar de maneira satisfatória.

Queremos Matar Gunther tem pouco Schwarzenegger, mas vale o preço do ingresso não por ser algo especial ou particularmente bem feito, mas sim por ser uma boa ideia executada com alguma eficiência, mesmo que haja minutos demais de barriga narrativa que logo são esquecidas pelo surgimento do tão falado Gunther em carne e osso. É uma diversãozinha rasa e passageira que entrega o que entrega na base do escracho e da bobeira pura, sem qualquer compromisso com mais do que isso.

Queremos Matar Gunther (Killing Gunther – EUA/Reino Unido/Hong Kong – 2017)
Direção: Taran Killam
Roteiro: Taran Killam
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Taran Killam, Bobby Moynihan, Hannah Simone, Peter Kelamis, Aaron Yoo, Paul Brittain, Amir Talai, Steve Bacic, Ryan Gaul, Allison Tolman, Cobie Smulders, Aubrey Sixto
Duração: 92 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais