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Crítica | Raised by Wolves – 2X06: The Tree

A árvore da vida.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Antes de mais nada, sim, The Tree empilha mais mistérios em cima dos que já existiam, tenho plena consciência disso, mas, como já disse algumas vezes antes, Aaron Guzikowski faz isso com elegância e técnica, além de, principalmente, um senso de fascinação tal que eu não consigo, a essa altura da série, condenar essas escolhas. Pode até ser que, lá para a frente, isso venha contribuir para que a obra venha à ruína, mas, quando chegarmos a esse ponto, conversaremos sobre o assunto. Pelo momento, eu só consigo dizer que há muito tempo não mergulhava em uma série assim, que surpreende a cada episódio e que oferece discussões interessantíssimas.

Claro que a boa e velha “água ácida” continua nos levando a momentos incompreensíveis como os dois que temos neste episódio, o tanque trafegando sem problemas por sobre a areia bem molhada e Tempest não levando um respingo quando faz seu parto nas pedras, mas eu já incorporei isso como parte da “graça” da temporada. É aquela bobagem que simplesmente precisamos fechar os olhos e aceitar sem discussões para podermos aproveitar todo o restante que vale muito a pena. Fica a esperança não de que haja uma explicação lógica para o que vemos acontecer em relação a esse aspecto, mas sim que o ácido em si tenha alguma função narrativa verdadeira e não estar lá apenas por um possível “fator cool”.

Seja como for, vamos a The Tree, episódio que continua a tendência de inclementemente catapultar a história para a frente. No fronte da vida artificial que se torna cada vez mais importante e enfronhada no passado remoto de Kepler 22-b, Avó é finalmente batizada para além dos créditos e ganha um começo de desenvolvimento, seja por despertar com a chegada de Campion, seja, depois, ao ser desligada e, em seguida, analisada por uma Mãe particularmente preocupada ou, talvez, enciumada, com a descoberta de que ela tem componentes incomuns e com funções desconhecidas. Seu breve despertar ao final, perante Pai e as perguntas que faz sobre os habitantes do planeta evocam uma ancestralidade, uma espécie de história pregressa encapsulada na reação de uma androide de véu que inevitavelmente estabelece um senso de ameaça, de perigo iminente, mesmo que ele não venha necessariamente se concretizar.

É curioso ver, dentre os vários hologramas projetados a partir dos dados de Avó, justamente a criatura marinha resistente ao ácido que acaba sendo atraída pelo choro do bebê de Tempest e que tem um compartimento abdominal(???) aparentemente feito para aninhar bebês humanos e protegê-los do mar ácido. Não gostei muito do parto perto da água, pois a montagem do episódio tornou tudo muito fácil, rápido e conveniente demais, falhando ao criar tensão mesmo quando fica evidente que o que a jovem quer, antes do nascimento, é arremessar a criança aos elementos de forma a não ter que encará-la, com aquela típica reviravolta materna que suaviza tudo ao final. Mas a chegada da criatura aquática e sua captura do bebê daquele jeito é um momento tão WTF? e com uma mescla de CGI e efeitos práticos tão bom, que a bizarrice do momento acabou funcionando bem para mim.

Outra facilidade de roteiro foi a libertação de Marcus por uma Sue semi-convertida à crença de Sol – digo “semi” porque ela ainda e corretamente racionaliza o divino, pelo que não é uma fé cega, mas sim, ao que tudo indica, uma crença em algo consideravelmente mais palpável – e a fuga deles dois com Paul, dentro de um tanque, pelo planeta. Tudo bem que Mãe não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, mas se ela foi alertada remotamente para problemas na cela de seu filhote serpente ela deveria ter sido alertada também para a abertura da cela de Marcus. Outro aspecto que a série nos pede para aceitarmos em prol da história, mas que poderia ter sido mais cuidadosamente executado.

A mensagem à la Campo dos Sonhos que Sue vinha recebendo – “plante a semente” – manifesta-se na literalidade, ou seja, com a plantação de uma semente contida no artefato religioso que Paul encontrara, com direito, ainda, ao paralelo disso com outra semente germinando, o nascimento do bebê, claro. A família em fuga faz de tudo para abrir o objeto, só conseguindo mesmo excitar Número 7 por razões que desconhecemos e que só acrescentam aos mistérios, mas ele só oferece seu conteúdo depois que Sue canta uma canção de ninar ou só oferece para Sue especificamente, independentemente do que ela falasse ou cantasse, fundindo-se a ela em seguida e, ao que tudo indica, transformando-a literalmente na árvore do título e que também é a imagem proeminentemente usada no material publicitário da temporada. Outro momento WTF?, sem dúvida alguma, especialmente se a árvore for mesmo Sue (só falta o rosto dela aparecer no tronco como o da avó da Pocahontas aparece na animação da Disney), mas outro momento igualmente fascinante e cheio de simbologia – árvore da vida, claro – e mistério.

Raised by Wolves tem potencial para irritar muita gente, eu admito, mas essa é uma série que eu aconselharia deixar a irritação para seu final, se ele for insatisfatório – e a História das Séries da TV, se é que existe algo assim, leva a crer que será -, pois, pelo momento, o que temos é uma originalíssima e absolutamente cativante, além de prodigiosa visão sci-fi em forma de série que sabe misturar muito bem filosofia, religião e ciência em um conjunto que assombra. Não tenho a menor ideia do que está por vir e isso é ótimo!

Raised by Wolves – 2X06: The Tree (EUA, 03 de março de 2022)
Criação: Aaron Guzikowski
Direção: Alex Gabassi
Roteiro: Aaron Guzikowski
Elenco: Amanda Collin, Abubakar Salim, Niamh Algar, Travis Fimmel, Jordan Loughran, Felix Jamieson, Ethan Hazzard, Aasiya Shah, Ivy Wong, Peter Christoffersen, Selina Jones, Morgan Santo, James Harkness, Kim Engelbrecht, Jennifer Saayeng
Duração: 53 min.

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