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Crítica | Reality Z – 1ª Temporada

por Ritter Fan
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Transformar quem assiste e quem participa de reality shows naquilo que eles são de verdade é um conceito sensacional. E o melhor é que a própria Endemol, proprietária do mais conhecido desses programas zumbificantes é que é a proprietária de Dead Set, minissérie britânica de 2008 cujo formato foi licenciado para a Conspiração Filmes que, em parceria com o Netflix, produziu Reality Z. Ou seja, é basicamente uma meta-série que, se vista com o olhar certo, pode magoar as hordas (ops!) de fãs cegos de reality shows.

Como “todo meu amor” por esse tipo de entretenimento já foi declarado em minhas críticas de UnReal, basta dizer que a ironia descrita acima casada com a possibilidade – sádica, eu admito – de ver fãs e participantes de um reality show serem literalmente comidos, decapitados e desmembrados na telinha foi o que me atraiu para a série e isso ela, felizmente, entrega com vigor. E mais, com qualidade técnica. A adaptação comandada por Cláudio Torres é madura em seus efeitos práticos e nem um pouco econômica no número de mortes, oferecendo o espetáculo de sanguinolência que qualquer fã do subgênero saberá apreciar.

A história é básica: o apocalipse zumbi chega ao Rio de Janeiro e o cenário do reality show Olimpo (que faz as vezes de Big Brother, claro) torna-se uma ilha de segurança em razão de seu ambiente fechado e autossuficiente. Esqueçam maiores profundidades ou personagens bem desenvolvidos. Isso inexiste aqui, até porque a temporada de 10 breves episódios, na verdade, é muito claramente dividida em duas partes, com a primeira sendo quase que uma transposição literal de Dead Set para o Brasil, com a segunda decorrendo de uma subtrama que vai vagarosamente tomando forma, mas que é basicamente a mesma coisa.

Portanto, Reality Z é uma diversão muito efêmera que se vale da satirização dos reality shows para chamar a atenção, com personagens extremamente caricatos com o produtor e voz de Zeus Brandão (Guilherme Weber), o ser humano mais sensacionalmente asqueroso e babaca possível e que merece um spin-off prelúdio só por causa disso, a participante recém-eliminada Jéssica (Hanna Romanazzi), que é o protótipo da loira burra e o metido a gostosão completamente insensível e preconceituoso Marcos (Gabriel Canella). No segundo momento, o foco fica no político Alberto Levi (Emílio de Mello) que eu ia classificar também como asqueroso e babaca, mas esses adjetivos seriam elogios para ele (ou para qualquer outro político), no policial cocainômano Robson (Pierre Baitelli) e na trinca que representa o último bastião da civilidade formada por Teresa (Luellem de Castro), TK (João Pedro Zappa) e Ana (Carla Ribas), personagens que ganham substancialmente mais desenvolvimento do que aqueles da primeira metade que mais parecem stock characters escritos com funções muito limitadas.

Além do prazer de ver um reality show ser desancado violentamente, a temporada até consegue, por meio de seus estereótipos, lidar com alguma mínima destreza com críticas sociais que, porém, são didáticas demais, quase como se fosse a leitura de algum panfleto. Mas, pelo menos, elas estão lá, já que obras que giram em torno de zumbi precisam classicamente desse subtexto de uma forma ou de outra. Além disso, como já mencionei, há um cuidado grande na produção em si, com um bom trabalho de maquiagem para os desmortos, além de um manejo de câmera muito eficiente, que sabe posicionar-se para momentos de tensão sem desnortear o espectador ou chamar muita atenção para si mesmo.

Em um mundo em que a oferta de filmes e séries sobre zumbis é gigantesca, com uma pandemia verdadeira assolando o planeta, Reality Z pode não oferecer novidades sofisticadas como Kingdom ou porralouquices completamente descerebradas como Black Summer, mas ela certamente tem o seu lugar no panteão de obras nada ambiciosas, mas bem produzidas, que são feitas para divertir descompromissadamente. E, claro, tem fãs e participantes de reality shows sendo dilacerados diante das câmeras, o que é sempre – SEMPRE – um bônus.

Reality Z – 1ª Temporada (Brasil, 10 de junho de 2020)
Criação: Cláudio Torres (baseado em Dead Set, de Charlie Brooker)
Direção: Cláudio Torres
Roteiro: Cláudio Torres, João Costa
Elenco: Ana Hartmann, Emílio de Mello, Carla Ribas, Ravel Andrade, Guilherme Weber, Luellem de Castro, João Pedro, Hanna Romanazzi, Pierre Baitelli, Jesus Luz, Leandro Daniel, Gabriel Canella, Natália Rosa, Wallie Ruy, Arlinda Di, Julia Ianina, Sabrina Sato, Leda Nagle, Pierre Baitelli, Arlinda Di Baio
Disponibilidade no Brasil: Netflix
Duração: 301 min. (10 episódios)

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