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Crítica | Reborn

por Guilherme Coral
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O além-vida já foi trabalhado das mais diversas formas na ficção, ora apoiando-se em crenças religiosas, ora criando algo absolutamente novo. Em sua minissérie de fantasia, Reborn, Mark Millar e Greg Capullo seguem pelo inesperado, criando uma nova vida em um universo fantástico para aqueles que deixaram o nosso mundo. Com mitologia própria, essa minissérie nos cativa, de imediato, justamente pela forma como toda a premissa é estabelecida – isso, porém, não nos distancia das grandes falhas cometidas pelo roteiro de Millar, que, como sempre, sabe criar novos mundos, mas não é tão eficiente em seu desenvolvimento.

Com um ar melancólico somos recebidos na primeira das seis edições desse primeiro livro de Reborn. Bonnie, uma senhora com mais de setenta anos, lamenta a morte de seu marido e vive temendo sua própria morte. Quando essa, enfim, chega, o inesperado acontece: a mulher acorda em um mundo completamente diferente, de volta em sua juventude e já tem seu destino definido: batalhar contra o grande vilão que assola aquelas terras. Com novas habilidades, ela deve lutar contra exércitos do mal, dragões, tudo enquanto preocupa-se em encontrar seu marido, que também deve estar em algum lugar daquele estranho universo.

As primeiras edições da minissérie fazem um bom trabalho em nos apresentar a esse novo mundo, que funciona como uma variação da dicotomia entre Céu e Inferno, com pessoas boas sendo enviadas para determinado lugar e as más, mandadas para as terras sombrias. O texto de Millar rapidamente nos envolve, estabelecendo essa criativa nova mitologia através dos diálogos e alguns painéis expositivos. O grande problema está na ausência de desenvolvimento de seus personagens, que permanecem extremamente rasos, sem gradativa evolução ao longo da trama – quando há mudança, ela ocorre de uma hora para a outra, como pode ser visto em relação à antiga melhor amiga da protagonista e da própria personagem principal.

Algumas passagens criativas e outras bem humoradas até escondem esse fator, mas não são o suficiente para transformar essa história em algo mais do que meramente divertida. Trata-se da velha luta do bem contra o mal, sem grandes novidades, tirando a premissa básica, que, curiosamente, pode até ser esquecida quando chegamos no meio da minissérie, visto que esse novo mundo apenas dialoga com a antigo através das memórias das pessoas e, claro, pelas suas essências. A ausência de uma área cinzenta quando se trata da personalidade dos personagens mantém tudo no básico e mesmo a vilania do principal antagonista não é o suficiente para atrair tanto o leitor, visto que ele, também, não possui qualquer profundidade, chegando a contar com um twist que, de fato, não influencia em absolutamente nada.

Na arte, Greg Capullo não decepciona, conseguindo fazer muito com pouco espaço disponível. A história, em geral, progride através dos balões de fala e não pela ação dos personagens, o que tira um pouco do valor da arte, mas, ainda assim, ela pode ser apreciada pela caracterização de cada personagem, que não é apenas criativa, como dialoga perfeitamente com suas histórias pessoais. Por outro lado, a violência explícita não combina nada bem com o tipo de fantasia apresentada aqui – mesmo que eu jamais dispense uma boa dose de gore, é preciso que esse recurso narrativo seja justificado e isso não ocorre aqui, visto que estamos diante de uma fantasia mais clássica narrativamente falando e não algo na linha de Fábulas ou Game of Thrones, ambas com tons mais sombrios e com personagens dúbios.

Dito isso, Reborn não é mais que uma história feita para divertir. Ainda que sua premissa seja bastante criativa, seu desenvolvimento é nada menos que clichê, trazendo-nos uma fantasia que, em momento algum, foge da mesmice. É a velha história do bem contra o mal, sem tirar nem pôr, com alguns detalhes que soam fora do lugar, como o grau mais elevado de violência gráfica. Mark Millar, portanto, mais uma vez, cria um fascinante universo, mas não é capaz de desenvolvê-lo apropriadamente.

Reborn — EUA, 2016/17
Roteiro:
 Mark Millar
Arte: Greg Capullo
Arte final: Jonathan Glapion
Cores: Fco Plascencia
Letras: Nate Piekos
Editora original: Image Comics
Data de lançamento original: outubro de 2016 a junho de 2017
Editora no Brasil: ainda não publicado
Páginas: 172

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