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Crítica | Rei Arthur: A Lenda da Espada

por Davi Lima
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E por isso, eu te abençoo. Você dá sentido ao Diabo – Arthur para Vortigern

Ainda estamos em maio de 2017, passando dos lançamentos blockbusters no cinema, por Guardiões da Galáxia Vol 2, Ghost in The Shell e Velozes e Furiosos 8, e em breve lançará Baywatch, A Múmia e Alien: Covenant. Não é costume de se ver o diretor Guy Ritchie por essas bandas do verão americano com um grande lançamento, mesmo após os dois filmes de Sherlock Holmes e o último O Agente da U.N.C.L.E. É a primeira vez que o diretor britânico com sua parceria com Lionel Wigram na produção ganham uma boa quantia em dinheiro de produção para fazer um filme de grande escopo digno de um dito arrasa quarteirão. Apesar da torcida para que o criador de malandros e gangsteres tivesse sucesso em sua adaptação da lenda arthuriana, nem a bilheteria o recebeu com bom grado, muito menos a mente de Ritchie parece conseguir nesse filme impor seu ritmo e ironia dentro das dimensões gigantescas de um filme de ação visualmente detalhado em seu contexto. Ele parece estar envenenado pelas possibilidades do dinheiro e o antídoto do estilo ameniza sinônimos de perdição numa grande produção.  arthur

O estilo do diretor britânico se baseia muito na ausência de linearidade temporal da montagem e desdém irônico da verossimilhança da imagem como modo de criar graça com seus personagens, ou, no caso de Rei Arthur: A Lenda da Espada, criar drama. Nenhum de seus filmes é de difícil identificação do estilo, porque não se preza pelo realismo, e sim pela eloquência de situar o espectador em ordinariedades de ações, especialmente de protagonistas nada clássicos, para que o universo seja montado e desmontado pela imersão nos pensamentos das ações e dos protagonistas com a possibilidade de dar tudo errado. Por isso a história desse Arthur do filme se refere a um homem criado no bordel, porque se não fosse assim não seria um irreverente estiloso, não necessariamente sujo, filme de Guy Ritchie. Possivelmente por essa falta de sujeira, mas conservando uma malandragem que o projeto da Warner de vender um Arthur a parte da espada Excalibur, dela como um fardo e ele como um ângulo humano, há um implícita contradição que vai se fazendo na composição do filme, entre a aceleração e as câmeras lentas. A narrativa é como um jogo de xadrez, para o bem, em como conflitar positivamente o herói clássico se formando e desfazendo dentro dos seus destinos, e para o mal, quando a comédia humaniza em rapidez e narração e o drama é feito de clipes de dor ensaiados de lentidão com músicas trovadorescas.

Em constante a obra perde e ganha com as maneiras de tentar mapear a grandiloquência paisagista, da lenda arthuriana e da magia contextual, enquanto torna risível acordos medievais, uma emboscada errática e a incapacidade de compreender os efeitos visuais que uma espada proporciona para uma luta. Soa como uma beyblade batendo e nunca decidindo se vai parar ou acelerar, ou como um duelo de arcade que a cada ataque forte é defendido pelo oponente, e cada escolha de Arthur ou não escolha desafoga no humor situacional, ou num drama que mantém uma ironia. 

Ao redor desse protagonista interpretado pelo limitado Charlie Hunnam, há as impressões que perdem a verossimilhança e partem para a fantasia que criam um certo mapa, uma dimensão de planos gerais e fotografias aéreas que definitivamente constroem um universo Guy Ritchie e Wigram, ambos roteiristas do filme, aliado a trilha única, sem temporalidade definida, de Daniel Pemberton, e o design e vestimentas que harmonizam numa Londinium e Inglaterra com a data Ritchie de filmografia. Pensando na personalidade de Arthur e com essa geografia de blockbuster, o que determina a qualidade de maneira geral é a conexão narrativa, como o mestre do RPG vai direcionar os jogadores.

Então, surge o problema do estilo, o dito autorismo pré-definido e pré-preparado no roteiro para uma direção clipesca e ágil que precisam de um timing de introduções rápidas e circulações de tramas com atalhos para o momentum da malandragem, e com um fio condutor, que nos filmes maiores de Guy Ritchie ficam mais explícitos, como a memória de Arthur da sua infância que vai pondo o conflito com a Excalibur. Surge o problema porque essa maneira de direção não é atenta aos detalhes, e sim aos pontos que se quer detalhar. Seria como a pergunta: o que mais importa, o homem com a espada, ou a espada com um homem para empunhá-la? Isso perpassa perfeitamente pelo drama que o filme clama, ao propor que um filho do rei criado num bordel pode ser digno de assumir o trono. Mas como a ligação do escopo já detalhado e o protagonista posto humanizado – recheado de humanismos e representações de narrativas de micro-histórias acinzentadas sem heroísmo para angariar mais identificação com o público – é essa forma de contar história, efusiva-se um longa-metragem 2 em 1, um filme que para emocionar com a câmera lenta perde ritmo das introduções malandras harmônicas com o personagem e seu trauma infantil, e quando acelera para dinamizar a ação perde os detalhes do design, dos efeitos visuais, etc. 

O que permanece é o fio condutor, que por sua vez é carregado de pretume e ambiente artificial de CGI e VFX, provocando uma conclusão narrativa suficiente pela falta de mapeamento do diretor, ainda que pareça um outro universo mágico pronto para surgir dentro da mitologia do filme, mas não tem bases dramáticas de Arthur, apenas da Excalibur jogável em tela e as poses que o tio Vortigern atuado por Jude Law que faz propaganda para o amigo Guy Ritchie dirigir.

Afinal, falava-se no início sobre o histórico de blockbusters esse ano, e esse modelo de encontrar ideias marginais mais limpas de Guy Ritchie como alto investimento no verão americano, e o resultado ruim nas bilheterias de Rei Arthur: A Lenda da Espada refletem bem como o diretor Steven Spielberg falou em 2013 para os alunos de Cinema na Universidade Sul da Califórnia: “Esse é o grande perigo, e eventualmente haverá uma implosão – ou um grande colapso. Vai haver uma implosão em que três ou quatro ou talvez até meia dúzia de filmes megabudget vão se espatifar no chão, e isso vai mudar o paradigma.” Por mais que a história de xadrez bem escrita para o estilo Guy Ritchie tenha boas intenções narrativas de como os destinos são imprevisíveis para heróis não clássicos, e como as roupas e contexto soam atemporais para criar uma nova franquia após o sucesso de Sherlock Holmes, ainda assim o veneno monetário e o antídoto estiloso na verdade implodem ao som de Daniel Pemberton.

Rei Arthur: A Lenda da Espada (King Arthur: Legend of the Sword) — EUA/ Reino Unido, 2017
Direção: Guy Ritchie
Roteiro: Guy Ritchie, Joby Harold, Lionel Wigram
Elenco: Charlie Hunnam, Jude Law, Eric Bana, Djimon Hounsou, Astrid Berges-Frisbey, Aidan Gillen, Tom Wu, Freddie Fox, Annabelle Wallis
Duração: 126 min

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