Um homem. Uma mulher. Um obstáculo. Ele a deseja e ela se entrega num fervor mútuo, mas ambos precisam dar conta de algo no meio do caminho, o marido da sedutora criatura que levará todos os envolvidos nesta história para uma descida por um perigoso e mortal espiral de cobiça e desejos nada sutis. Essa é a estrutura dramática de Relações Perigosas, filme independente lançado em 2019, trama que conta, de maneira relativamente diferente, tudo aquilo que já conhecemos por meio de outras histórias onde a mulher é o diabo em pessoa e os homens, atraídos por seu canto ao estilo “sereia”, se deixam levar pelos atributos sexuais e pela volúpia da situação, torrencialmente arrastados por crimes e acontecimentos que demarcam um caminho sem volta. É o que contemplamos ao longo dos 90 minutos deste filme sobre mulheres ambivalentes, homens acossados, traições e manipulações que afundam alguns e triunfam a existência de outros. Tudo isso, envolto numa atmosfera de latência sexual e condução narrativa que mescla elementos policiais com o suspense dosado por camadas generosas de erotismo.
Sob a direção de Goran Dukic, cineasta que assume o roteiro de Michael Andrews, acompanhamos a trajetória de Sonny Jordan (Mekhi Pfeiffer), um homem negro que vaga sem qualquer privilégio pelas ruas da cidade onde a história se desenvolve, preocupado com a sua condição após alguns projetos não terem alcançado os propósitos imaginados. Jordan é um homem sem grandes perspectivas, tenso diante de sua realidade nada confortável, mas prestes a ganhar uma mão amiga ao salvar o empresário George Good (Brad Dourif) de um assalto. Ao afugentar o ladrão munido de uma faca e pronto para ceifar a existência de Good, ele ganha um novo amigo. E assim, ao entender a história do rapaz desiludido com a falta de oportunidades da vida, ele oferece um lugar para moradia e um trabalho na função de mecânico na fazenda onde mora com a sua esposa Larissa (Elika Portnoy), sua noiva russa radicada nos Estados Unidos.
Para o espectador que já conhece tais esquemas narrativos, o óbvio se estabelece: Larissa vai olhar de soslaio para Sonny várias vezes e não demora muito para que o jovem se interesse pela sensual esposa de seu amigo e “mentor”. Será que a dupla teria a capacidade de fazer algum mal ao bom homem, marido cuidadoso e a mão amiga que tirou Sonny da possibilidade de se tornar um indivíduo vagante e esfomeado pelas ruas? Por ser inspirado em nossa dura realidade, muitas vezes, mais sádica que as narrativas inventivas do cinema, a resposta é um sonoro “sim”. A ardência do desejo que mescla ereções que precisam ser contidas e suor sufocante de uma mulher em busca de elevar os seus desejos mais profundos são elementos que falam mais alto e logo a dupla se junta para eliminar o obstáculo e consumar os seus interesses carnais. E sociais, pois com o tempo, aparentemente eles pretendem ser um casal.
A coisa começa a se perder quando Sonny descobre que Larissa executa planos mais ambiciosos e ele talvez seja só uma peça do audacioso jogo manipular da mulher que usa a sua exalação sexual para manter a atração de seus homens enquanto estabelece um mapeamento cheio de traições para os envolvidos em sua saga perigosa e mortal. Para atrapalhar os planos iniciados após o crime contra a vida de George, temos os detetives Elias (Kerry Cahill) e Crawford (Ruben Santiago-Hudson), pedras nos sapatos da dupla criminosa, captada quase sempre sensualmente pela iluminação da direção e fotografia de Scott Winig, acompanhados pela trilha sonora também atmosférica de Bobby Johnston. Com algumas reviravoltas, mas óbvio e simples, Relações Perigosas é um suspense com doses de erotismo básico, sem ousadia dentro de sua fórmula narrativa largamente conhecida e utilizada, mas um exercício cinematográfico não ofensivo como muitas das produções deste subgênero que envolve mulheres fatais e planos diabólicos.
Relações Perigosas (Obsession | EUA – 2019)
Direção: Goran Dukic
Roteiro: Michael Andrews
Elenco: Mekhi Phifer, Elika Portnoy, Brad Dourif, Ruben Santiago-Hudson, Kerry Cahill
Duração: 90 min
