Home TVTemporadas Crítica | Remedy – A Série Completa

Crítica | Remedy – A Série Completa

Um drama médico canadense sobre nepotismo e relações humanas.

por Leonardo Campos
1,3K views

Episódios dinâmicos. Formatos consagrados. Estilo exaurido. Temáticas sempre contemporâneas e necessárias. Assim é Remedy, uma série canadense em duas temporadas, exibida entre 2014 e 2015 e com 20 episódios no total, todos na média dos tradicionais 42 minutos. Criada por Greg Spottiswood, a produção pode parecer um manancial de discussões sobre nepotismo, isto é, a prática de nomear familiares e protege-los na designação de cargos diante de outras pessoas igualmente ou até mais qualificadas para desenvolver um trabalho, aqui direcionado ao âmbito da saúde. A trama, desenvolvida no fictício Bethune General Hospital, retrata os casos comuns ao ambiente de uma emergência, com acidentados, suicidas, drogados, dentre todo tipo imaginado de situação que pode ou não ser resolvida por ali ou em alguns casos, ganhar espaço na sala de cirurgia. O foco humano e dramático da história é a família Conner, centro gravitacional de todos os acontecimentos internos e externos ao centro hospitalar que tem vítimas de sinistro de trânsito, quedas, overdose, parasitas, micro-organismos fatídicos, dentre outros problemas de ordem emergencial, trabalhos no alinhamento narrativo procedural.

É um grupo de pessoas financeiramente bem-sucedidas e com problemas de gente privilegiada, mas ainda assim, importantes para refletirmos sobre como pessoas de vida econômica amena, nível educacional sofisticado e estilo de vida confortável também tem as suas celeumas, não resolvidas por meios materiais, como muita gente pensa. O patriarca é o Dr. Allen Conner (Enrico Colantoni), diretor do hospital durante a primeira temporada, pai da enfermeira Sandy Conner (Sarah Allen), da neurocirurgiã Melissa Conner (Sara Canning) e do complicado Griffin (Dillon Casey), jovem expulso da faculdade de medicina, considerado o garoto-problema da família que se desestruturou há tempos, com o divórcio de Allen e Rebecca Baker (Martha Burns), uma mulher que assumiu o seu interesse lésbico e vive o cotidiano entre o alcoolismo e a execução de seu trabalho como advogada, muito competente e cheia de contatos, por sinal.

Mais próximos deste centro dramático estão Zoe (Genele Williams), auxiliar de serviços gerais do local, Frank (Patrick McKenna), médico da emergência que mantém um relacionamento com a enfermeira Sandy, e Peter Cutler (Niall Matter), residente bonitão que além de exalar muita competência, encanta a Dra. Melissa com o seu charme ao longo da segunda temporada. Interessante observar que na dinâmica de Remedy, outros segmentos do funcionamento hospitalar são contemplados, em especial, a vida complicada dos auxiliares de limpeza, representados por Zoe Rivera, jovem que logo no piloto, tem o dedo picado por uma agulha contaminada por HIV, celeuma que se arrasta por alguns episódios, crise estabelecida por causa da desatenção de uma das filhas da família Conner, grupo considerado cheio de privilégios dentro da emergência. Entre processar o hospital ou chegar num acordo, a jovem atravessa dias difíceis, cotidiano ainda imprensado pela falta de perspectiva num trabalho que apenas a explora e a tem exclusivamente como um dos números de uma lista qualquer.

Interessante que apesar da semelhança estética com as demais séries médicas, estilo de produção numeroso na atual cultura do entretenimento, Remedy tem um toque especial que a faz ser um programa de personagens carismáticos e situações dramáticas atrativas, algumas clichês demais, na linha Grey’s Anatomy, a série criada por Shonda “que é ruim, mas é boa”. Na seara dos dilemas, temos o filho desajustado que retorna para o eixo familiar dois anos depois de um longo período de sumiço, ainda mais devastado pelas drogas, catalisador de vários problemas para seu pai, sua mãe e suas irmãs, causando inclusive um sinistro de trânsito terrível com uma delas antes do desfecho da segunda e última temporada, sequência de episódios que amarrou as suas pontas adequadamente, sem deixar muito espaço para arcos escancarados. Ademais, os pontos de sempre na ficção televisiva seriada estão presentes entre um episódio e outro: é a mãe que aparece para pedir um transplante, a relação Ulisses e Telêmaco contemporânea, a decisão entre o profissional e o sentimental, o emocional e o racional, etc.

Em Remedy, exibida pelo Global Television Network, temos Robert Carli e Tom Third no desenvolvimento da trilha sonora, sem nada de muito especial, mas funcional para o desenvolvimento da carga dramática dos episódios. Na maquiagem, Mark Holton cumpre com excelência a sua função de supervisionar os efeitos especiais para as cirurgias e outras modalidades de exposição do corpo humano virado e revirado por métodos científicos inovadores. Na direção de fotografia, temos Stephen Reizes no comando da movimentação e da captação de imagens que regem os personagens médicos, enfermeiros, auxiliares e demais pacientes e profissionais de saúde que circulam pelos espaços engendrados por Oleg M. Savytski, design de produção da série que exibe as tradicionais paletas esverdeadas e esbranquiçadas, comuns ao ambiente médico na vida real e na ficção que o representa. Eficiente na construção de suas histórias, mas talvez por conceber um padrão já bastante trabalhado na ampla oferta de material para entretenimento atual, Remedy foi cancelada após o seu segundo ano, uma escolha infeliz dos produtores que neste caso, pensaram movidos pelos números, longe da lógica artística conteudista vitimada pelas escolhas mais objetivas num esquema de produção que não pode se sustentar sem a devida audiência.

Remedy – A Série Completa (Idem, Canadá/2014-2015)
Criação: Greg Spottiswood
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Genele Williams. Sarah Canning, Niall Matter, Patrick McKenna,  Sarah Allen, Dillon Casey, Enrico Colantoni. Martha Burns
Duração: 45 min. (Cada episódio – 20 episódios no total)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais