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Crítica | Riachos, Campos e Rostos Adoráveis

por Guilherme Coral
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estrelas 3

Um dos aspectos mais atraentes do cinema é como ele consegue nos aproximar de diferentes culturas, por mais distantes que elas possam estar. O filme egípcio Riachos, Campos e Rostos Adoráveis é um bom exemplo disso, nos oferecendo um olhar sobre a família e o amor no Egito. Dirigido por Yousry Nasrallah e roteirizado por ele próprio em conjunto com Ahmed Abdallah temos aqui uma história que mostra como os casamentos arranjados podem transformar a vida de uma pessoa em uma prisão, afastando-a de seus verdadeiros sentimentos, especialmente em virtude da pressão familiar.

A trama gira em torno de Re’efat, filho mais velho de uma família famosa pelos seus dotes culinários. Já prometido a sua prima, Karima (Menna Shalabi), ele acaba se apaixonando por Shadia (Laila Elwi), que acabara de retornar para sua cidade natal. A história procede, portanto, nos mostrando como o protagonista se aproxima de sua amada, enquanto, junto de sua família, prepara o banquete de um casamento de uma outra família, ao mesmo tempo que uma família com poder da região tenta tomar conta do restaurante da família de Re’efat, mesmo sendo o mais famoso da região.

Há um certo charme que nos atrai de imediato para a narrativa de Riachos, Campos e Rostos Adoráveis. A forma como retrata os personagens centrais consegue, por si só, nos prender à narrativa. Há uma boa dose de humor, que, em nenhum ponto, deixa a história muito séria, criando um bom equilíbrio entre a comédia familiar e o drama. Quando vemos o trabalho dos atores, o que enxergamos são pessoas em seus ambientes de normal convívio e não profissionais exercendo seu trabalho, o que garante nossa imersão sem muito esforço. Mesmo com sua duração prolongada não sentimos os minutos passarem em quase nenhum momento.

Alguns elementos, contudo, acabam fugindo do que estamos acostumados, trazem um tom ridículo à obra, junto com algumas caracterizações. O que mais salta aos olhos é a da antagonista, que parece ter sido tirada diretamente de uma novela mexicana, nos fazendo sentir como se estivéssemos diante de A Usurpadora. O desfecho ainda causa uma vergonha alheia sem precedentes, com uma cena envolvendo pessoas sendo perseguidas por um enxame de abelhas evidentemente criadas digitalmente, algo completamente desnecessário e que de nada acrescenta à trama, prejudicando o bom final que havia sido formado até então.

O roteiro segue de forma bastante previsível e não nos oferece nada realmente de novo em termos narrativos. Alguns pontos de virada, contudo, conseguem nos surpreender, quebrando nossas expectativas e abordando questões bastante assustadoras dessa cultura tão diferente da nossa, o que acabamos esquecendo em virtude de alguns pontos que são similares. É interessante enxergar, todavia, como o amor se manifesta de forma igual, independentemente de onde estamos, algo muito bem retratado pelo trabalho de Bassem Samra, que, consegue nos entregar uma atuação contida, mas que gera uma simpatia imediata no espectador. É algo bastante humano a forma como encara seu personagem, garantindo uma boa dose de realidade ao longa-metragem.

Riachos, Campos e Rostos Adoráveis provavelmente não chegará ao circuito nacional e, de fato, não oferece muita novidade ao cinema como um todo, mas é uma ótima maneira de entrarmos em contato com uma cultura diferente, que, em muitos aspectos, muito se parece com a nossa própria. É um filme que consegue nos divertir de forma bastante despretensiosa, sem almejar ser algo grandioso, apenas uma história sobre o amor e como ele deve ser livre e não limitado a acordos entre famílias, que enterram a individualidade de seus filhos, almejando somente o status ou os dotes que vem junto da prometida.

Riachos, Campos e Rostos Adoráveis (Al ma’wal khodra wal wajh el hassan) – Egito, 2016
Direção:
 Yousry Nasrallah
Roteiro: Yousry Nasrallah, Ahmed Abdallah
Elenco: Bassem Samra,  Laila Eloui, Menna Shalabi, Ahmed Dawood, Mohamed Farag
Duração: 115 min.

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