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Crítica | Rick and Morty – 2ª Temporada

por Kevin Rick
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No último episódio da primeira temporadaRiksy Business (referência à Risky Business, estrelado por Tom Cruise), o personagem Birdperson revela a Morty que, em sua língua nativa, “wubba lubba dub dub”, expressão que Rick diz durante o show em tom humorístico, significa “eu estou com uma grande dor”. É um pequeno momento que inicia um ponto de virada na abordagem da série para o personagem de Rick, assim como muda o próprio tom da animação para um estilo mais mórbido com a comédia irreverente da obra.

A 2ª Temporada realmente procura esse humor mais sombrio psicologicamente dentro do visual violento e transgressor que se tornou característico da série, desenvolvendo o arco dos personagens através das consequências deixadas pelas aventuras traumáticas, algo que, por um lado, melhora o encadeamento da série ao escapar um pouquinho do exclusivo absurdo semanal das aventuras, além de dar substância para uma obra que parecia se construir apenas no choque visual e nas referências. Neste segundo ano, Justin Roiland e Dan Harmon realmente parecem interessados em explorar o narcisismo de Rick por um lado mais reflexivo com a embalagem sci-fi, como no soberbo episódio Auto Erotic Assimilation, que acompanha o romance entre Rick e uma mente coletiva, a perfeita narrativa absurda para trabalhar o ego do cientista que só encontra amor quando uma sociedade inteira o venera.

Além disso, adoro como Summer, Jerry e Beth têm uma papel mais ativo nas aventuras de Rick e Morty nesta temporada, desenvolvendo com mais cuidado a dinâmica familiar de todo o grupo para além dos estereótipos de adolescente birrenta, homem fracassado e esposa depressiva que ficam comicamente cansativos. O maior espaço familiar ajuda bastante a série, em um primeiro momento, em sua estrutura episódica. Cada episódio mescla as aventuras com diferentes membros da família, às vezes todos juntos, o que ajuda a descansar a dinâmica da dupla principal, além de diversificar o humor para além do vovô maluco e sua bússola moral (quem nem é tão moral assim mais…). Isso já existia na primeira temporada de maneira superficial, mas, aqui, temos episódios inteiros focados no casamento fracassado de Beth e Jerry, nas inseguranças de Summer e Morty, e nas relações complexas da família com Rick. Tudo isso colabora para variar a comédia estruturalmente, mas também coopera para adicionar mais conteúdo dramático, culminando no excelente The Wedding Squanchers, o fechamento de temporada que põe em perspectiva os atos de Rick e se ele realmente se importa com alguma coisa.

Meus problemas com a Temporada residem na inconsistência dada à nova abordagem. Temos episódios sensacionais como os já citados Auto Erotic Assimilation The Wedding Squanchers, como também Big Trouble in Little Sanchez, dividido entre o conflito interno de Rick em um corpo adolescente e a maravilhosa narrativa que exterioriza os problemas matrimonias de Beth e Jerry em monstros codependentes – como esse episódio é divertido! -, ou então Total Rickall, uma paródia àqueles episódios de flashback em sitcoms, com a adição de uma narrativa violenta de Onde está Wally?, mas, em contrapartida, temos várias histórias fraquinhas que puxam aquela mesma proposta referencial vazia ou então um estilo de humor mais pastelão. Vemos isso em Look Who’s Purging Now, que é basicamente Uma Noite de Crime com comédia, ou o péssimo Interdimensional Cable 2, um episódio inteiro sobre… piadas de pênis e surrealismo na TV a cabo dimensional.

No mais, o saldo da segunda temporada é extremamente positivo. Temos umas 4 derrapadas em 10 episódios, que não entregam nada que não tenhamos visto em 20 anos de sitcoms adultas animadas com a violência exacerbada e o extremismo sem graça, mas quando consegue propor algo próprio e original, Rick and Morty se mostra realmente especial. Seja a criatividade da ficção científica com a comédia situacional e mundana, como em miniversos dentro de baterias de carro para fazer comédia com escravidão ou então uma terapia de casal com monstros, ou o ótimo aprofundamento dramático com consequências, conflitos familiares e o narcisismo problematizado, Justin Roiland e Dan Harmon encontram um belíssimo equilíbrio entre seu conteúdo nerd com uma narrativa mais encorpada. Ainda falta calibrar as temporadas como um todo, que sofrem de altos e baixos, mas o segundo ano já demonstra progresso nestes aspectos, distanciando-se de apenas ser irreverente para relativizar temas, personagens e circunstâncias com um senso maior de continuidade.

Rick and Morty – 2ª Temporada (EUA, 26 de julho de 2015 a 04 de outubro de 2015)
Criação: Justin Roiland, Dan Harmon
Direção: Wes Archer, Dominic Polcino, Bryan Newton, Juan Meza-León
Roteiro: Dan Harmon, Justin Roiland, Ryan Ridley, Matt Roller, David Phillips, Tom Kauffman, Mike McMahan
Elenco: Justin Roiland, Chris Parnell, Spencer Grammer, Sarah Chalke, Keegan-Michael Key, Jordan Peele, Jermaine Clement, Christina Hendricks, Patton Oswalt, Keith David, Kurtwood Smith, Stephen Colbert, Richard Christy, Alan Turdy, Gary Cole, Werner Herzog
Duração: 230 min. (10 episódios)

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