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Crítica | Riocorrente

por Guilherme Coral
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estrelas 3

Paulo Sacramento, já conhecido por O Prisioneiro da Grade de Ferro e pelo seu premiado trabalho de montagem em diversos longas, como Amarelo Manga, nos traz, em seu novo filme, uma história melhor definida pelo caos. Riocorrente foca em um triângulo amoroso formado por Marcelo (Roberto Audio), um jornalista, Renata (Simone Iliescu), uma mulher desconhecida e Carlos (Lee Taylor), um ex-ladrão de carros. A temática, contudo, não é romântica e sim virada para as contrastantes personalidades, as dúvidas e motivações de cada um desses personagens.

O que, de imediato, já nos chama a atenção na obra é sua montagem, também realizada por Sacramento. Vemos encadeamentos criativos e nada menos que orgânicos, que não só fazem a história fluir, garantindo seu dinamismo, como provocam uma contemplação por parte do espectador, que se vê entretido com cada transição perfeitamente conduzida. De Renata para Marcelo, para Carlos, em nenhum momento nos sentimos perdidos e ainda assim ficamos surpresos com a mudança precisa de foco da narrativa.

Esse mesmo fluxo contínuo, porém, não se traduz para o roteiro, que visa um enfoque maior no emocional que na história propriamente dita. O grande problema aqui está na escolha do diretor em atores pouco experientes no cinema, que ainda trazem consigo marcas da teatralidade. A precisão de sua montagem não está presente na direção, produzindo personagens e situações que, em geral, não conseguimos nos identificar ou acreditar. Tal defeito está especialmente claro na subtrama de Marcelo, que em poucos momentos soa como uma pessoa de fato, em um filme que implora pelo alto grau de realismo.

Ainda assim, apesar da falta de um fio condutor da trama, Riocorrente consegue prender seu espectador pela dúvida e curiosidade gerada a cada sequência, dada à vida através da hipnotizante fotografia de Aloysio Raulino. Tendo em vista o enfoque dramático da obra, vemos uma clara priorização de planos mais fechados que vão dos médios até os closes propriamente ditos, com poucos movimentos de câmera. Em geral temos sutis panorâmicas ou travelings que compõem com exatidão o tom sufocante almejado por Sacramento. Em geral, Raulino trabalha com uma iluminação mais escura, visando transparecer na imagem o contraste dos personagens já explícito no roteiro.

O longa de Paulo Sacramento é de caráter mais intimista que acaba pecando na constante perda de realismo garantido pela direção. Sua narrativa, porém, é salva pela montagem e fotografia que conseguem fisgar a atenção do espectador, nos prendendo a cada transição. Trata-se de uma obra que poderia ter sido muito mais, mas que, ainda assim, vale a pena ser assistida, nem que seja por uma aula de como se montar um longa-metragem.

Riocorrente (idem – Brasil, 2013)
Direção: Paulo Sacramento
Roteiro: Paulo Sacramento
Elenco: Roberto Audio, Vinicius Dos Anjos, Simone Iliescu, Lee Taylor
Duração: 79 min.

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