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Crítica | Risco Máximo (1996)

por Ritter Fan
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Risco Máximo marca a segunda estreia hollywoodiana de um diretor chinês em filmes de Jean-Claude Van Damme e a terceira vez em que o conceito do “duplo” seria utilizado em alguma obra do lutador belga. John Woo estreou nos EUA com O Alvo, com o saudoso Ringo Lam ganhando sua abertura do outro lado do oceano aqui, e Duplo Impacto e O Guardião do Tempo sendo as duas outras fitas em que Van Damme faz dois papeis, no primeiro como irmãos gêmeos separados no nascimento por uma tragédia que se reúnem para lutar juntos e no segundo como duas versões temporalmente separadas do mesmo policial.

Agora, em Risco Máximo, a premissa de irmãos separados no nascimento ganha outros contornos. No lugar de uma reunião, o que vemos é a morte de Mikhail Suverov (Van Damme) em uma perseguição automobilística em Nice, França, levando seu irmão Alain Moreau (Van Damme), policial na cidade, a descobrir sobre sua existência e a começar a tentar descobrir o porquê da morte e quem exatamente era Suverov. As respostas a essas perguntas não são exatamente originalíssimas, mas nem precisavam ser, pois o roteiro de Larry Ferguson é surpreendentemente bem construído e amarrado, levando Moreau à Nova York e de volta à Nice em uma investigação de estrutura clássica, pontilhada de perseguições e lutas, que o faz transitar entre a máfia russa e policiais do FBI e a envolver-se com Alex Bartlett (Natasha Henstridge), a bela namorada de seu irmão e com um particularmente prestativo e simpático (ainda que falastrão) motorista de táxi na cidade da maçã.

Como acontece nos melhores filmes do ator, ele mostra a que veio em termos dramáticos quando se afasta efetivamente das meras desculpas para que uma sequência de luta aconteça. Não que ele seja um grande ator – longe disso! – mas ele inegavelmente tem carisma e esse carisma consegue transformar-se em atuação minimamente competente quando ele tem algum espaço para trabalhar seriamente entre chutes e socos. Arriscaria dizer, portanto, que ele tem sua melhor atuação em Risco Máximo, pelo menos até este ponto de sua prolífica carreira, graças a um roteiro que sabe dosar as sequências de ação e à direção de Lam que não se perde na estrutura narrativa, apesar das infinitas, mas felizmente variadas, sequências de ação.

Mesmo com alguns maneirismos estranhos como inexplicavelmente volta e meia virar a câmera em uma versão estranha do ângulo holandês, o cineasta extrai o que Van Damme tem de melhor, incluindo aí sua química quase que automática com Henstridge e também com o pobre motorista de táxi que, muito sinceramente, merecia ter ganhado mais tempo de tela. E o mesmo pode ser dito dos vilões, especialmente o comicamente intenso Zach Grenier como o ambicioso e violento mafioso russo Ivan Dzasokhov e o cinicamente simpático Paul Ben-Victor como o agente corrupto do FBI Pellman. Até mesmo o brutamontes principal, o grego Stefanos Miltsakakis em sua quarta e penúltima parceria antagonística com Van Damme, ganha bom destaque e bom uso dentro da história, com Lam realmente conseguindo fugir das lutas ensaiadas, partindo para algo mais violento e gutural.

Sem dúvidas que o cadenciamento dos eventos poderia ter se beneficiado de alguma economia narrativa aqui e ali, evitando sequências que parecem se repetir, mas é incrível como o longa consegue manter sua integridade, jamais descambando para o absurdo total, ainda que, claro, não particularmente preze pelo realismo. Há até mesmo um cuidado grande para manter a seriedade da premissa e da história que se desenrola a partir dela, sem que o diretor recorra a alívios cômicos muito fáceis ou piadinhas fora de lugar. Fica quase parecendo aquele momento em que a carreira de Jean-Claude Van Damme mudaria de rumo e se tornaria menos dependente de suas acrobacias e mais de histórias atraentes e bem trabalhadas, ainda que, em linhas gerais, mantendo os tropos clássicos de seus respectivos gêneros. Todos nós sabemos que não foi isso que aconteceu com o belga, mas é bom notar que ele pelo menos tentou.

Risco Máximo é um thriller policial hollywoodiano muito competente de Ringo Lam, em sua estreia nos EUA, além de uma das mais interessantes e bem acabadas obras protagonizadas por Van Damme, em uma parceria que se repetiria mais uma vez e, por coincidência ou não, novamente abordando o tema do “duplo”. É, sem dúvida alguma, outra prova que o ator belga podia ser mais do que apenas o cara que espancava todo mundo em ringues de lutas.

Risco Máximo (Maximum Risk – EUA, 1996)
Direção: Ringo Lam
Roteiro: Larry Ferguson
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Natasha Henstridge, Jean-Hugues Anglade, Zach Grenier, Paul Ben-Victor, Frank Senger, David Hemblen, Dan Moran, Stefanos Miltsakakis, Stéphane Audran
Duração: 101 min.

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