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Crítica | “Rock Believer” – Scorpions

A crença do poder do rock em disco celebrativo.

por Iann Jeliel
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Rock Believer

Dezenove álbuns de estúdio. Cinco décadas de existência. Scorpions é gigantesco para a história do rock. Quiçá a maior banda em atividade do gênero. Klaus Meine, Rudolf Schenker já não precisam provar mais nada para ninguém. Aos 73 anos (ambos), eles querem produzir música para se divertir e celebrar a própria história. Rock Believer é exatamente esse tipo de disco-homenagem. Um passeio emotivo sob as raízes da banda. Um desabafo, a despeito da força do rock atualmente, na crença que ele ainda tem algo a dizer, de que ele respira. O próprio Return to Forever já tinha esse caráter de retrospectiva, embora tentasse em algumas canções sonoramente mais modernas. Este tem um claro apelo para uma melodia de uma outra época, mais limpa de efeitos eletrônicos e, portanto, mais próxima das origens.

Há uma ou outra canção com o caráter experimental da fase dos anos 2000 – visando o objetivo de ter amplitude na homenagem: agradar a novos e velhos admiradores –, mas, no geral, o timbre sempre puxa o hard rock mais clássico dos anos 70 e 80 mesclado com a atmosfera às vezes poética, às vezes progressista presente no final anos 80 até o início de 90, trazendo um cenário confortável para que o efeito de deja-vu exista, adequado ao gasto de energia possível para a idade dos integrantes. É tão agradável de cantar, quanto de ouvir. No entanto, o disco passa longe de ser dependente somente de um efeito nostálgico para funcionar. Scorpions nunca deixou de ter criatividade em suas composições e aqui entrega um disco conciso e equilibrado em tom durante todas as suas 11 faixas – 15, se contarmos a versão Deluxe, que conta também com When You Know (Where You Come From) em versão acústica (totalizando 16), para remeter àquele fantástico show de Lisboa, em 2001.

A abertura com Gas In The Tank e Roots In My Boots é o tradicional impacto imediato buscado por qualquer disco que se preze. Aquele hard rock cru, guiado sob constantes riffs de peso que diminuem o compasso para enfatizar o refrão melódico. Particularmente, não vejo a segunda tão harmônica quanto a primeira, que cumpre muito bem esse papel de nos jogar para a atmosfera enérgica semelhante à rebeldia do passado – “Let’s play it louder and play it hard … There’s gotta be more gas in the tank”–, enquanto a outra ficaria na beira do abismo da genericidade não fosse o ótimo solo de guitarra no meio. As duas faixas seguintes, já mudam o tom e a velocidade. Knock ‘Em Dead passa aquela vibe aventureira de “rock de estrada”. Não chega a ser uma balada, mas fica nesse limiar enquanto entrega um instrumental de peso e bastante grudento. Rock Believer, essa sim, uma balada de ritmo contemplativo e agitado na medida certa, que traz o caráter homenagem em evidência do disco (tanto que deu o nome ao disco) na letra metalinguística. Basicamente, a canção é um convite explícito aos amantes do rock saírem do armário, expurgar sua paixão, bem como a alma emotiva da lírica faz Meine se declarar de amor ao gênero no belíssimo refrão.

As próximas duas, Shining Of Your Soul e Seventh Sun, novamente modificam o tom. Desta vez para uma vertente próxima do rock progressivo, com aquela atmosfera etérea única da banda. Classificaria como uma mescla eclética de elementos remetentes a In Trance, Is There Anybody There e The Zoo, criando as duas canções mais criativas do álbum ao lado de Call Of The Wild, que acredito ser a música mais próxima da fase “moderna” experimental da banda. Leia-se: aquela de Unbreakable e Humanity: Hour I’, lançados já a um tempinho e que tinham essas características próximas do progressivo. Entre elas, há outras três que retomam o hard rock mais puro visto das duas primeiras do disco, só que com letras bem mais diretas, ficando a um pé do metal graças à presença marcante da bateria de Mikkey Dee (ex-Motorhead) como guia rítmico dos refrões criados para se reproduzir em palco. Não curto tanto a velocidade galopante de When I Lay My Bones To Rest, nem as quebras propositais de peso em Hot And Cold, mas Peacemaker acerta precisamente na proposta, empolgando nas linhas vocais arranhadas de Maine e no baixo volumoso de Pawel Maciwoda.

Por fim, When You Know (Where You Come From) finaliza o disco com esperança, trazendo essa fé no rock distribuída no discurso para um lado humano na letra poética e reflexiva. A lírica cadenciada e o vocal intimista tentam trazer (com muito sucesso) a mesma mágica de músicas como Wind of Change e Send me Angel. É a minha favorita do álbum. É onde enxergo o que há de melhor em Scorpions. O que os diferenciam das demais bandas do hard rock: Canções que prezam pela apaziguação da alma, nos elevam espiritualmente e transcendem emocionalmente. Se esse será o último álbum da banda, a última música não poderia ser outra, não poderia finalizar melhor essa trajetória histórica celebrada em Rock Believer. Creia no rock, mas creia em si mesmo. Essa é a última picada de lição que esse mágico escorpião da música nos deixa de legado.

Falando resumidamente das canções extras presentes na versão DELUXE:

  • Shoot For Your Heart: Absolutamente viciante em refrão e ritmo . Seria o Rock You Like a Hurricane/No One Like You do álbum. Incrível!
  • When Tomorrow Comes: É um semi-instrumental guiado por backings psicodélicos de fundo. Bem diferente, contemporânea e ousada.
  • Unleash The Beast: Parece a parte do tom positivo do disco. Canção sombria, mas que apresenta pouco vigor na presença muito intrusa dos vocais de apoio.
  • Crossing Borders: Outro “rock de estrada” aventuresco dos bons. Pegada quase country da guitarra. Gostei muito da proposta da música, só não me agradou tanto o refrão.

Aumenta!: Shining Of Your Soul, Shoot For Your Heart e Peacemaker
Diminui!: When I Lay My Bones To Rest

Minha Canção Favorita do álbum!: When You Know (Where You Come From)

Rock Believer
Artista: Scorpions
País: Alemanha
Lançamento: 25 de fevereiro de 2022
Gravadora: Vertigo Records
Estilo: Rock, Hard Rock

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