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Crítica | “Rodrigo y Gabriela” – Rodrigo y Gabriela

Flamenco para os amantes de Heavy Metal instrumental.

por Davi Lima
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gabriela

A conexão entre o Rock e o Flamenco são as cordas. A guitarra como símbolo máximo do Rock se diferencia pelo metal e a tecnologia envolvida, enquanto no Flamenco, o violão ou guitarra flamenca compensa o reverb contínuo do Rock com as batidas na corda e o frenesi do dedilhado nas três primeiras notas: Mi, Si e Sol. Não é Rock, mas o ecoar sonoro vindo da boca do violão, com o tempo certo, cria o mesmo espírito sem eletricidade.

Os mexicanos Rodrigo Sánchez e Gabriela Quintero, como a dupla Rodrigo y Gabriela, fizeram sucesso em 2006 como hit irlandês pelos covers de Stairway to Heaven do Led Zeppelin e Orion do Metallica, fazendo os instrumentais estarem em alta por um tempo. Mesmo não tendo a mesma guitarra que coloca a paixão da primeira banda e o religioso da segunda, a graça musical da dupla vai bem além de uma reinterpretação com  a essência do Heavy Metal. Com o Flamenco, o violão se torna um objeto sonoro completo, do tampo à cabeça, e as cordas são a linha do Jazz que o improviso sempre se volta a consertar com a beleza. Assim, o Rock da dupla surge entre as paradas do limite humano, que vibra as cordas e a madeira, como um reverb acentuado que testa a constância dos ouvidos e a pluralidade do instrumental.

Stairway to Heaven e Orion, quando reproduzidas por Rodrigo e Gabriela, não se diferenciam das outras faixas, mesmo que existam notas que fogem ao “dedilhado” nas primeiras notas que as canções conhecidas acabam por se sustentar em pontes de notas mais graves. Essa não-diferenciação é por Led Zeppelin se tornar mais improvisado, mais obscuro e maleável em intensidade, como o Flamenco almeja; enquanto Metallica perde a continuidade do elétrico, formulando mais paradas que torna o Heavy Metal em faroeste e thriller. Num resumo, tudo fica mais romântico, isso é inevitável, mas não dançante. Os violões de Rodrigo e Gabriela chamam mais atenção para como são manuseados do que explodem em melodia. Por isso são categorizados  como parte do Nuevo Flamenco, algo próximo da loucura enervante do Fusion.

Saindo dos covers, os grandes chamariz na época da estreia e o que pode chamar mais atenção dos descobridores da dupla, a espiritualidade agitada da faixa Tamacun, com Gabriela tornando o corpo do violão numa verdadeira percussão viva enquanto Rodrigo faz o trio Sol, Sí e Mí terem três fases antes de entrar no Flamenco propriamente dito. Numa sequência do álbum, a música Diablo Rojo incendeia as pausas do ritmo dançante e romântico. Talvez a faixa com mais identidade cultural explícita, dando ênfase no Ré, e com mais paradas para Gabriela utilizar o tampo do instrumento como pontes e introduções melódicas únicas. Não há dúvida de que a energia instrumental que cria mistérios de histórias – especialmente nessa Diablo Rojo – evidencia o escopo dos arranjos que não apenas as notas e as melodias transformam os sons, mas a interação com o instrumento como parte da performance.

A sensação é que em algum momento as músicas precisam de um acompanhamento, isso realmente pode passar pela mente de quem ouve o álbum por completo. No entanto, quando se ouve Vikingman, mais lenta em relação às duas faixas anteriores, não pela intensidade, mas por provocar mais efeitos melódicos com o intento de criar reverbs, pode-se imaginar uma história de guerra, uma narrativa completada pelo som de dois violões. Essa faixa mais Satori pode abrir os ouvidos para sensações fora do Flamenco, fora do som clássico do violão. Satori é o som mais suave da dupla em que Gabriela tem um espaço no trato com o violão, que numa metáfora de vocais, Rodrigo seria a primeira voz e Gabriela a segunda. A completude dos dois vai permitindo que o instrumental seja um exemplo de a capella e ainda mais reforçado de arranjos. 

Voltando-se aos retrospectos rockeiros da dupla, se as últimas faixas, como Juan Coco e Ppa, fortificam o uso do violão como objeto sonoro completo e constroem uma finalização da harmonização do álbum, a sensação de ouvir um solo de guitarra elétrica em violão flamenco fica mais clara após passar por Stair to Heaven e Orion. Juan Coco parece mais “simples” na melodia, no quesito intensidade, ao mesmo tempo que tem efeitos na batida das mãos que, se ligadas a um cabo, seria um reverb contínuo, enquanto a bateria já consta na percussão de Gabriela, pela madeira do violão. Ppa alcança o romance e a melancolia do Jazz, movimentando mais os pés de quem ouve, mas o choro rockeiro existe em boas passagens da faixas, especialmente nos últimos segundos. 

Rodrigo e Gabriela não pertencem ao Flamenco nem ao Rock, ou ao Jazz, pertencem ao poder que o violão tem para  fazer música. Entre os improvisos e o solo, sobra até uma faixa mais ritualística como Ixtapa. Quando se vê as performances da dupla num show no Japão, ou quando se compreende a rara explosão do instrumental nas contagens da indústria fônica, fica pouca dúvida do poder musical, meio medieval em algum momento, que essa dupla é capaz de fazer. Para alguns ainda pode parecer repetitivo ouvir as faixas do álbum, pois o estilo sonoro instrumental se baseia apenas na percussão e nas cordas do violão. Mas talvez afinar o ouvido seja parte da experiência de ouvir a dupla e captar as variações de um mesmo instrumento em foco, assim como Hans Zimmer captou para levá-los para contribuir na trilha de Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas cinco anos depois. O violão nunca foi tão completo como ouvindo Rodrigo y Gabriela.

Aumenta!: Diablo Rojo
Diminui!: –
Minha Canção Favorita do Álbum: Vikingman

Rodrigo y Gabriela
Artista: Rodrigo y Gabriela
País: México
Lançamento: 17 de fevereiro de 2006
Gravadora: Riverside Studios, Bath
Estilo: Acústico, Folk, Rock

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