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Crítica | Rogue One: Uma História Star Wars (Trilha Sonora Original)

por Handerson Ornelas
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Michael Giacchino vem sendo o compositor queridinho dos blockbusters nos últimos anos. E nem por isso seu trabalho é unanimidade, muito pelo contrário, muita opinião divide. Veja que só em 2015 e 2016 este compôs trilhas para longas do calibre de: Doutor Estranho, Zootopia, Star Trek Beyond, Jurassic World, Divertida Mente e O Destino de Júpiter. E embora este que aqui escreve ache seu trabalho nos últimos anos competente, mas com pouco brilhantismo (com exceção de sua empreitada em Divertida Mente), preciso admitir que ele chega a um dos ápices de sua carreira com sua sensacional trilha para Rogue One. Seria o peso da responsabilidade do primeiro a “substituir” John Williams? Apesar de Alexandre Desplat ser inicialmente o escolhido para compor as canções do filme, devido a problemas em atrasos da refilmagem e montagem, precisou sair fora de órbita e focar em outros compromissos. E assim que Giacchino entra em cena, literalmente como tapa buraco, o que faz seu exercício aqui ser ainda mais digno de méritos.

Em um filme onde todos nós imaginávamos o fim que levariam os personagens, mas que o desenvolvimento profundo destes não é o real enfoque, sendo a “missão” e o universo bem mais importantes, era essencial que a trilha trouxesse a dramaticidade da “missão suicida” e sua tragédia, ao mesmo tempo que também o início de uma nova esperança. O compositor entra certeiro aqui, recapitulando suas obras mais assertivas no quesito emoção, a música criada para filmes da Pixar como Up – Altas Aventuras, Divertida Mente e Ratatouille. Já o senso de aventura típico da franquia é bem utilizado aqui também, embora bem menos que na nova trilogia Star Trek, dando um holofote maior a arranjos que revezam entre ares militares dramáticos e emotivos. Um dos grandes destaques, a construção heróica criada em Your Father Would Be Proud, funde esse clima aventuresco com um vasto catálogo de cordas melancólicas que trazem um teor emotivo gigantesco que, unido à sua sequência no filme, será motivo para lágrimas.

Um dos acertos da obra é criar uma trilha efetivamente nova, sabendo utilizar os temas clássicos da franquia de maneira diferenciada de John Williams em O Despertar da Força, que recorria às músicas icônicas a todo instante, por mais que nos trouxesse fantásticas composições como Rey’s Theme March of the Resistance. Evidentemente o foco era outro, Williams precisava corresponder o que o Episódio VII representa: um Star Wars para uma nova geração. Aqui, Giacchino usa os temas inesquecíveis como espécies de “interludes”, pequenos “samples” levemente alterados e inseridos geralmente no meio das canções; atente a isso, por exemplo, em Krennic’s Aspirations, Rebellions Are Built On Hope e outros diversos momentos.

Suas composições novas, contudo, dialogam perfeitamente com as clássicas de Williams, a tal ponto que esperamos começar a ouvir um dos temas da trilogia original, como é o caso do desfecho de A Long Ride Ahead, uma evidente piscadela ao tema de Star Wars, que ouvimos na costumeira abertura dos filmes da saga. O compositor aqui alimenta a a nostalgia do fã ao máximo até ser surpreendido com a derradeira mudança de notas, uma afirmação do que seria sua ideia aqui: referenciar os clássicos de Williams, mas se mantendo bastante autêntico. Perceba como Giacchino sabe mesclar seu próprio estilo com aquele da franquia como um todo – um belo exemplo disso é a emotiva Jyn Erso & Hope Suite, que herda muito de Across the Stars, uma das poucas coisas realmente boas que saíram de Ataque dos Clones.

Em certo momento, antes da estreia da obra, o maestro foi perguntado se ouviríamos a Marcha Imperial durante o filme. Evidente que ele se esquivou da indagação, mas, apesar de escutarmos trechos do icônico tema de Darth Vader, é interessante como Giacchino cria sua própria marcha, através de Imperial Suite, cujos trechos podem ser escutados ao longo do longa-metragem – uma dessas variações, When has Become Now, inclusive, faz uma menção evidente a Imperial Attack, da trilha de Uma Nova Esperança, que funcionava como o tema do Império. Instrumentos metálicos dominam ao lado da percussão, marcando o ritmo da marcha que, a cada instante parece dar abertura para encaixar a clássica Imperial March de forma orgânica. De sua própria maneira, Giacchino criou seu próprio prelúdio para a música que nos cativou em O Império Contra-Ataca.

Hope é a cereja do bolo, tal como a derradeira sequência de Vader no longa. Impactante, cheia de corais estarrecedores e sinfonia em constante mudança e progressão (perceba como somos levados desde a vislumbres do tema Imperial quanto do tema clássico de Uma Nova Esperança). Seu início é composto por um arranjo assustador, uma verdadeira composição de atmosfera thriller que ressalta a alma assassina e sem piedade do maior vilão da história do cinema, deixando o espectador praticamente sem ar.

Há quem dirá que a trilha sonora de Rogue One carece de uma faixa memorável. Já eu, prefiro ver que Giacchino deu seu máximo na construção sonora perfeita para ambientar o sacrifício de milhares de rebeldes afim de entregar esperança à galáxia. Todo momento que um fã escutar o fantástico tema de Jyn isso agora terá um significado. O quadro geral de composições aqui é épico e emocionante, além de rico em homenagens aos temas clássicos sem deixar de mostrar sua própria face nova, cheia de personalidade. O legado de Williams dessa vez caiu em boas mãos.

Aumenta!: Confrontation On Eadu
Diminui!: Cargo Shuttle SW-0608

Rogue One: A Star Wars Story (Original Motion Picture Soundtrack)
Artista: Michael Giacchino
País: Estados Unidos
Gravadora: Hollywood Records
Ano: 2016

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