Home QuadrinhosEm Andamento Crítica | Rorschach (2020) #1

Crítica | Rorschach (2020) #1

por Luiz Santiago
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Algumas coisas funcionam na base da abertura de precedente, não é mesmo? E em algumas vezes em que isso acontece, a reação é morna ou nula… e nada muda. Já em outras, parece que temos definitivamente os ventos da mudança. E assim foi com o material derivado de Watchmen. A escalada foi até interessante, se a gente parar para pensar (e rir um pouco com o ódio acumulado de Alan Moore a cada vez que resolvem mexer na obra dele). Passamos pelo filme de Zack Snyder + todo o material correlato que veio junto, na época do lançamento do filme; pelo projeto Antes de Watchmen; pela minissérie em quadrinhos Doomsday Clock e pela série da HBO, que estabeleceu seus eventos 30 anos depois do original. Observando a linha histórica, não era segredo para ninguém que mais dia, menos dia, a DC iria revisitar esse Universo. E aqui estamos… mais uma vez.

Rorschach é um projeto de Tom King, acompanhado pelo artista barcelonês Jorge Fornés. Sobre a constituição desse Universo, sabemos que faz 35 anos desde que o plano de Ozymandias com a lula gigante foi revelado para o mundo. Existe a memória de quem foram os Minutemen, os icônicos heróis do passado, e isso fica claro através das populares fantasias de Dia das Bruxas vendidas por toda Nova York. Mas a organização política e social parece pouco alterada, se compararmos ao que já conhecemos desse Universo. O ponto central aqui, aquilo que gera a investigação que costurará a minissérie [e só para deixar claro, o que vem adiante não é spoiler: está na sinopse oficial da obra!] é a tentativa de assassinato do opositor político de Robert Redford, ainda presidente dos Estados Unidos.

Basicamente, é isso. O que Tom King faz, ao longo da edição, é incrementar essa tentativa de assassinato com uma porção de informações que claramente serão trabalhadas nos números posteriores do projeto, levando adiante a mesma toada de “mistérios dentro de mistérios” que Geoff Johns utilizou no início de Doomsday Clock. Alguns curiosos elementos que dificultam a investigação levam a minissérie para uma trilha de conspiração política com uma boa dose de nostalgia, mais ou menos similar àqueles suspenses que lidam com o legado de um determinado indivíduo muitos anos depois de ele ter saído de cena. Rorschach, aqui, é aquele tipo de fantasma que surge do nada e faz com que as pessoas se lembrem de muitas coisas desagradáveis.

A passagem do manto do mascarado não é uma novidade pra ninguém e, em uma leitura crítica, tem implicação moral, ética e politicamente instigantes, já que as ideias de Rorschach podem ser interpretadas das mais diversas formas, seja por um viés fascista, como o da Sétima Kavalaria; seja por um viés realmente anti-heroico, como o que temos em Doomsday e que parece ser o adotada aqui. A dicotomia comportamental do personagem salta aos olhos já nesse início, e mesmo que a gente não tenha praticamente nenhum grande detalhe narrativo ou um real estabelecimento e construção de personagens, notamos muitas piscadelas para o original e entendemos o encaminhamento dado ao detetive, à dificuldade de se identificar os criminosos e às ligações intricadas que se estabelecem nessa investigação, uma delas inclusive metalinguística.

O que torna essa primeira edição “diferente” de um conto investigativo comum em quadrinhos é o fato de se tratar de uma história de Rorschach, além da presença de um certo capricho na hora de estruturar o crime, as pistas, os personagens. A arte de Jorge Fornés dá conta do recado, criando uma estética bem específica para esse tipo de história, brincando com enquadramentos típicos de filmes policiais e HQs do gênero. Vamos ver para onde Tom King irá nos levar até o final dessa empreitada… e se tudo isso valerá a pena.

Rorschach #1 (EUA, 2020)
Roteiro: Tom King
Arte: Jorge Fornés
Arte-final: Jorge Fornés
Cores: Dave Stewart
Letras: Clayton Cowles
Capa: Jorge Fornés
Editoria: Jamie S. Rich
28 páginas

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