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Crítica | Rosa de Esperança

por Luiz Santiago
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William Wyler admitiu diversas vezes que aceitou dirigir Rosa de Esperança (1942) por “motivos de propaganda“. O diretor vinha em uma maré de ótimas recepções de seus filmes nesse início de anos 40, com O Galante Aventureiro (indicado a 3 Oscars e vencedor de 1), A Carta (indicado a 7 Oscars) e Pérfida (indicado a 9 Oscars), linha de lançamentos que o colocava em uma posição que interessava a MGM para dirgir um filme de guerra com forte mensagem patriotista e de engajamento para que nações e pessoas despertassem e entrassem na luta contra o Eixo o mais rápido possível. O longa acabou superando todas as expectativas do estúdio e do próprio diretor — em crítica e arrecadação –, e acabou recebendo 12 indicações ao Oscar, levando 6 prêmios para casa.

Baseado na obra de Jan Struther, o filme trabalha a guerra não como ponto de partida, ou seja, o conflito já em andamento, mas como segundo bloco da história, uma clara intenção do roteiro em contrastar a abertura pacífica — a vida comum — com o rastro de destruição deixado pela guerra, e vejam que o principal palco dos enfrentamentos nem era, o Reino Unido… A apresentação dos personagens é feita em tom de confraternização e harmonia, mesmo que alguns pequenos desentendimentos sejam sentidos entre famílias de posição social levemente diferentes. Existe um caminho inteiro do texto, representado por Vin, o filho mais velho dos Miniver (Richard Ney, todo sorrisos) que aponta para uma discussão sobre luta de classes, mas essa discussão, na verdade, jamais existe. Ela é exposta de maneira um tanto cômica na obra, propositalmente forçada e caricata, e sua intenção é criar um cenário ideológico distinto para Vin e Carol, que mesmo de famílias ricas mas de “diferentes tradições” acabarão de apaixonando, um romance à la Romeu e Julieta, por assim dizer.

Wyler, que sempre foi um excelente diretor de “grandes sequências” tenta aproveitar ao máximo cada situação, tirando delas momentos preciosos. É claro que existem inúmeras situações que não condizem exatamente com o tipo de personagens representados ou posições do roteiro que facilmente irritarão o espectador, mas considerando a intenção primordial da obra e atentando para o trabalho de direção, fica difícil não ser entretido pelo filme. Até a subtrama da competição da Melhor Rosa do Vilarejo consegue fazer sentido no final de tudo, mesmo que, a rigor, não acrescente nada à história.

Em um filme com esse propósito de propaganda, especialmente com um caminho narrativo da paz à guerra, não raro a família ou laços de amizade e algumas redenções sejam exploradas ao limite. A mensagem final deve ser calorosa e mostrar a união a despeito de tudo, e para isso é necessário que haja divergência e “pessoas boas” e “pessoas quase-más” para que essas intrigas sejam esquecidas e os dois grupos unam forças para lutar contra um inimigo em comum, que inclusive aparece aqui em pessoa, trabalhado como uma caricatura fanática, fraca e desequilibrada, a pura visão do comportamento sem contexto que é comum nesse tipo de representação, independente do lado que estejamos falando. É até interessante que a protagonista tenha mostrado alguma compaixão pelo alemão ferido.

Após o início da guerra, todas as atenções se voltam para o núcleo familiar, e é onde os laços se fortalecem, o dever para com a pátria é colocado como uma obrigação inquestionável e acima de qualquer coisa (ironicamente o mesmo pode ser dito para os soldados do outro lado do front) e algumas lágrimas começam a ser vertidas. Nesta segunda parte, a montagem de Harold F. Kress se destaca grandiosamente, e de seu trabalho pinçamos a passagem muito bem orquestrada do avanço dos barcos para Dunquerque ou a principal noite de bombardeios dentro do abrigo, uma das melhores sequências do filme, com excelentes atuações, dinâmica e meticulosa direção de Wyler e bela fotografia de Joseph Ruttenberg.

Há cenas muito tensas no filme, além bons momentos cômicos (o personagem de Christopher Severn como Toby, o caçula dos Miniver, é impagável), boa abordagem da relação das famílias com a guerra e o famoso discurso final que encantou Roosevelt e Churchill, e que na verdade é a peça em torno da qual todo o filme orbita. O apelo ali se torna um chamado para todos e, pela forma como é filmado ou pelas consequências que apresenta, tem uma força enorme sobre o público, finalizando o filme exatamente da forma como ele deveria ser encerrado.

Rosa de Esperança foi o marco de uma época. Mesmo que se diga que o filme não tenha merecido toda essa atenção toda do Oscar (levando em consideração que estava concorrendo com Soberba, de Orson Welles e Na Noite do Passado, de Mervyn LeRoy, fica fácil entender que o prêmio de Melhor Filme aqui foi fortemente movido pela febre social e política do momento), este não é um daqueles casos de “obras menores ou ruins injustamente premiadas”, como já tinha acontecido com Melodia da Broadway, em 1930; com Cimarron em 1931; com Cavalgada, em 1934 e com A Vida de Emile Zola em 1938. Rosa de Esperança, apesar de não ser uma produção perfeita e livre de erros, é um bom filme com um caminho e uma mensagem específicas e necessárias para aquele momento da História. Talvez por isso ainda hoje esteja entre os icônicos clássicos sobre a Segunda Guerra Mundial.

Rosa de Esperança (Mrs. Miniver) — EUA, 1942
Direção: William Wyler
Roteiro: Arthur Wimperis, George Froeschel, James Hilton, Claudine West (baseado na obra de Jan Struther).
Elenco: Greer Garson, Walter Pidgeon, Teresa Wright, Dame May Whitty, Reginald Owen, Henry Travers, Richard Ney, Henry Wilcoxon, Christopher Severn, Brenda Forbes, Clare Sandars
Duração: 134 min.

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