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Crítica | Rosalina (2022)

Uma divertida releitura shakespeariana.

por Felipe Oliveira
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A moda é subverter. Se bem que esta não é a primeira empreitada que se propõe a fazer uma releitura sobre o trágico romance de Romeu e Julieta, mas essa é a número um em dar protagonismo a Rosalina, a primeira amada do galã apaixonado escrito por William Shakespeare. Na liberdade criativa do roteiro, Rosaline pode funcionar como uma paródia romântica da dramaturgia clássica, além de uma sátira ao tradicionalismo dos romances e contos que acompanhamos por décadas, porém, apesar dessa nova releitura, o filme de Karen Maine não atinge um efeito além do alívio cômico imediato.

Seguindo a linha do mais recente Cinderela (2021), Scott Neustadter e Michael H. Weber, roteiristas conhecidos por O Maravilhoso Agora e A Culpa é das Estrelas adapta a contemporânea releitura do livro de Rebecca Serle de Romeu e Julieta, When You Were Mine e a insere no século XVI. Então, o que temos aqui, nada mais é do que a reimaginação da história clássica que oferece a Rosalina o protagonismo nos moldes da geração Z. Embora soe tão simplesmente metódico (o que é mesmo), é graças à performance de Kaitlyn Dever que essa aposta encontra algum êxito, mesmo que caia numa estrutura convencional.

Dever transmite um sarcasmo contagiante que capta a essência despretensiosa e debochada que a releitura convoca ao telespectador a embarcar, no entanto, se comparado a outros roteiros da dupla, faltou aqui mais criatividade, personalidade e autocontrole nessa concepção que sabe como fazer média, mas não ir além disso. Antes do texto se limitar em não estender seu potencial, a abordagem que contesta as convenções através do humor se mostrou inicialmente assertiva quando Romeu (Kyle Allen) surge com o peito cheio para recitar formalidades e a perspectiva de Rosalina entra como forma de expurgar essa convencionalidade e dizer que esta é a história é dela, e não sobre a tragédia do amor proibido.

Desse modo, enquanto apresenta uma protagonista que busca ter voz e independência num período em que as mulheres não tinham autonomia, o roteiro vai desconstruindo os atributos que conhecíamos da dramaturgia. Romeu então é um típico garoto galinha que as duas palavras bonitas que aprendeu, são as únicas que sabe repetir para se mostrar um pretendente apaixonado. Já Julieta (Isabela Merced) sofre nos caprichos da prima que ao descobrir que estaria perdendo seu amado, tenta a todo custo ter sua atenção de volta e sabotar a história de amor. Mas vejamos como essas duas figuras consagradas se tornam coadjuvantes da narrativa de Rosalina, a subversiva personagem que age como um contraponto aos valores tradicionais da época.

Da proposta de humor irreverente, Rosalinda vai se fundindo a um coming of age adolescente com ares de comédia romântica e aventura, neste momento é que a premissa autoconsciente e que não se importava em inserir exageros vai perdendo pontos ao não ter tanta inspiração ao recontar a trágica história por uma nova ótica. Em parte, o roteiro trata esse conto cômico como a versão desconhecida do romance, tanto que utiliza de uma metalinguagem para satirizar que poucos vão se lembrar de Rosalina quando a história for passada. Certo de que isso é uma sacada inteligente em ironizar a participação esquecida da personagem conhecida como a primeira pretende de Romeu, e como nos moldes da rom-com, ela termina sendo uma peça ideal para a união dos pombinhos à medida que descobre seu amor verdadeiro.

A falta de ambição da história se resume na simples pretensão de fazer de Rosalina a peça central para contrariar o romance trágico de Shakespeare. Afinal, temos aqui Romeu como um superficial garoto dos sonhos e uma Julieta ingênua, e depois das muitas declarações e belas palavras, são apenas duas pessoas unidas pela emoção, mas até nisso, precisavam da prima ciumenta para fazer acontecer. A ironia é de que toda essa configuração pavimenta uma sátira ao romance tido como uma das histórias mais referenciais sobre casais, agora com Rosalina e o irresistível e apaixonante Dario (Sean Teale) assumindo o posto dos pombinhos que influenciaram tantas outras narrativas sobre a tragédia e o amor proibido, e Romeu e Julieta como os mais chatos do mundo. Seria Rosalina a mãe para a fórmula da comédia romântica? É uma interpretação que o texto gosta de brincar, mas que longe da teoria, o filme se define a uma divertida, mas rasa tentativa de trazer a sátira ao clássico romance shakespeariano e aos moldes do romance moderno.

Rosalina (Rosaline – EUA, 2022)
Direção: Karen Maine
Roteiro: Scott Neustadter, Michael H. Weber (baseado no livro When You Were Mine, de Rebecca Serle)
Elenco: Kaitlyn Dever, Sean Teale, Isabela Merced, Kyle Allen, Spencer Stevenson, Minnie Driver, Bradley Whitford, Christopher McDonald
Duração: 97 min.

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