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Crítica | Saga – Volume Dez

A espera mais do que valeu a pena!

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais volumes.

Saga #55, publicada exatamente dia 26 de janeiro de 2022, nos EUA, quebrou o longo jejum de três anos e meio sem a mais sensacional HQ sci-fi ocidental de todos os tempos (sim!), com a mesma trinca composta por Brian K. Vaughan (roteiro), Fiona Staples (arte) e Fonografiks (letreiramento e design) retornando para a segunda metade do épico de anunciadas 108 edições. A gigantesca mudança de status quo ao final do Volume Nove é, de certa forma, o grande destaque do novo volume, pois era essencial, pelo tempo passado, relembrar o acontecido e lidar com sua consequências, com a confirmação – ou não dos sucessivos abalos sísmicos a que somos “presenteados”.

Para fazer isso, BKV não perde tempo em, primeiro de tudo, fazer na ficção o que aconteceu na realidade, ou seja, reiniciar a história de Hazel três anos depois dos eventos do volume anterior, com a menina, agora, com 10 anos e não só capaz de usar a magia herdada do pai, como, também, as asas herdadas da mãe, ainda que, por razões, óbvias, ela tenha que fazer de tudo para jamais demonstrar isso ao mundo exterior. Também sem perder tempo, temos a confirmação de que sim, Marko realmente morreu e, mais para a frente, de que sim, Príncipe Robô IV também morreu e que sim, Alana, em razão da perda de uma de suas asas, removeu cirurgicamente todos os traços físicos de sua herança genética.

Ainda que a morte de Marko seja abordada e reconfirmada logo no início, o restante das informações vem muito bem costuradas nas edições seguintes, mesmo que boa parte do foco do arco permaneça quase que exclusivamente na família de Hazel, agora composta por ela, sua mãe, Squire que, para todos os efeitos, é seu irmão adotivo, e Bombazine, personagem novo e parceiro de Alana em seus negócios – legítimos, com a venda de fórmula para bebês e escusos, com o tráfico de drogas – e que é um panda humanoide grandalhão com um braço protético. Claro que há espaço para a abordagem de O Querer e Gwendolin, sempre maquinando traições e movimentos políticos, além da família real, com o rei sofrendo pela morte do filho, e o reenquadramento do agente Gale, de Aterro, não mais como um intermediário, mas sim como um caçador de Hazel e de todos aqueles que conhecem a menina, o que tem a tendência de transformá-lo em uma ameaça poderosa no arco seguinte. Por outro lado, não houve espaço para BKV abordar Petrichor, Upsher e Ghüs, com os dois primeiros aparecendo somente em fotografias e o terceiro em um flashback.

Há muitas mudanças no Volume Dez que dão conta e substância a essa grande elipse temporal, com Alana e sua família estendida sendo albergadas por piratas espaciais e saindo de uma missão para eles quase que completamente careca, em mais uma mudança radical de visual. Bombazine, estranhamente, ganha um mínimo de desenvolvimento que indica que ele tem um passado escuso de violência e morte que não é esclarecido e que Alana desconhece, logo deixando de fazer parte do grupo para juntar-se aos piratas, ao passo que dois dos piratas – uma alienígena que parece ter sido inspirada em Nosferatu e um sapo humanoide – passam a engrossar o grupo de Alana, sem, porém, trazer com eles desenvolvimento narrativo ou de personagens. Resta esperar que, no futuro, todos que foram introduzidos neste arco ganhem uma abordagem mais completa, especialmente Bombazine, já que sua presença me pareceu quase que exclusivamente uma forma de criar uma efêmera figura paterna para Hazel, sem dar tempo ao leitor de se apegar a ele.

E, é claro, somos deixados como um flamejante cliffhanger ao final que, muito mais do que isso, é uma das sequências de quadros mais bonitas e tristes de toda a série até agora, com Hazel correlacionando o que acontece com a perda de seu pai, na única vez que a vemos fisicamente sofrer pela morte de Marko. Aliás, Fiona Staples, apesar de entregar a arte no costumeiro nível elevadíssimo, sem por um segundo parecer que três anos e meio transcorreram desde o arco anterior, parece chegar a um outro patamar de narrativa visual nesse momento de triturar os corações que nos deixa pendurados e desesperados pelo que vem por aí.

Saga finalmente retornou e esse retorno dissipa de imediato aquele justificado receio de que a trinca criativa deixaria sua obra máxima esmorecer. Não há nada disso no 10º volume do épico, muito pelo contrário, com BKV mais uma vez sendo um mestre em seu texto econômico, Staples arrasando na arte e Fonografiks imprindo todo o estilo visual necessário para dar a literal voz à Hazel em sua continuada narração dos eventos de sua tumultuada e trágica vida.

Obs: Conforme BKV informa ao final da edição #60, Saga entrará em hiato novamente, só que mais curto, retornando em janeiro de 2023. Torturante? Sem dúvida. Mas valerá a pena aguardar? Sem nenhuma sombra de dúvida.

Saga – Volume Dez (Saga – Volume Ten – EUA, 2022)
Contendo:
 Saga #55 a 60
Roteiro: Brian K. Vaughan
Arte: Fiona Staples
Letras: Fonografiks
Editora (nos EUA): Image Comics
Datas originais de publicação: 26 de janeiro de 2022 (#55), 23 de fevereiro de 2022 (#56), 23 de março de 2022 (#57), 27 de abril de 2022 (#58), 25 de maio de 2022 (#59) e 06 de julho de 2022 (#60)
Editora (no Brasil): Editora Devir
Data de publicação no Brasil: fevereiro de 2023
Páginas: 168

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