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Crítica | Saga – Volume Sete

As silenciosas vítimas da guerra.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais volumes.

Saga, desde suas origens shakespeareanas, gira em torno de tragédias. Afinal, não só temos a premissa básica de Romeu e Julieta, como toda a ação tem como pano de fundo um sangrento conflito intergaláctico entre o planeta Aterro (Landfall) e sua lua Grinalda (Wreath) travado por meio de guerras por procuração que devastam milhares de planetas habitados. Não há boas notícias no épico de Brian K. Vaughan e Fiona Staples e, dentre todos os arcos até o momento, o sétimo é o que mais deixa isso em evidência.

Tentando retornar ao planeta onde Squire, filho de Sir Robô (ex-Príncipe Robô IV), vive com Ghüs, a árvore foguete de Alana e Marko fica sem combustível e o grupo formando ainda por Hazel, Izabel e Petrichor é obrigado a pousar no cometa habitado Phang, onde, os leitores lembrarão, Sophie nasceu. O que era para ser um pouco rápido somente para dar tempo para a árvore recarregar fincando suas raízes no solo, torna-se uma epopeia de seis meses, com o maior problema sendo o fato de que Phang é um dos maiores e mais quentes “teatros de guerra” entre as duas nações rivais. Em paralelo, acompanhamos Gwendolyn, agora casada com Velour e de volta à Grinalda, onde, junto com a agora bem crescida Sophie, faz maquinações políticas, além de O Querer tentando justamente achar Sophie e sua Gata da Mentira para reconstruir sua vida.

Como de praxe, há perfeita convergência narrativa entre as três linhas narrativas ao final, mas a inegavelmente principal e mais bem construída ao longo do arco é a que se passa em Phang, com um pulo temporal de meses em que vemos Alana muito grávida, depois de todos ali darem abrigo a uma religiosa família de suricatos falantes que encantam todo mundo, incluindo Hazel que estabelece um forte rapport com o jovem Kurti. Phang é, sem sombra de dúvidas, a versão de Vaughan e Staples para a trágica Síria e outros países destruídos por conflitos semelhantes que tanto vêm de dentro como de fora. O horror dos refugiados resultantes de um conflito que não tem fim é paralelizado com a citada família de suricatos, já que a árvore foguete é como um santuário temporário em que eles ganham espaço para respirar.

Com isso, há uma nuvem ainda mais sombria por toda essa história, uma que inclui a chegada de mais um caçador de recompensas, desta vez The March, “irmãos siameses” de sexos diferentes com armas que acabam ceifando novamente a vida de Izabel, desta vez para valer e que acabam levando Marko, tentando ainda ser pacifista e se recusando sequer a usar sua espada, a portar um rifle poderoso que Kurti acha um pouco antes, como a Arma de Chekhov do arco. Sim, ele novamente quebra seu juramento e novamente para defender sua família, mas todos nós sabemos que esse tipo de atitude não é apenas defensiva e sim algo que faz parte da natureza do personagem e ele não consegue lutar contra ela, apesar de reconhecer o prazer que sente ao fazer uso de violência, prazer esse que ele mesmo diz que às vezes é maior do que segurar sua filha no colo.

O poder desse desenvolvimento, que culmina com a dolorosa – mas claramente já esperado em razão de tudo o que Saga é – morte do feto de Alana, que, ainda por cima. vem simultânea à eliminação da família de suricatos com a destruição de Phang graças aos esforços de ninguém menos do que Gwendolyn em conluio com agentes de Aterro, é impressionante. Aqui, o leitor pode muito claramente entender a mensagem macro dos autores: a guerra é insensata e mata sem distinção, inclusive ceifando aqueles que sequer têm chance de nascer. Mais ainda, a guerra corrompe ideais, distorce noções e separa famílias, eliminando gerações. Ao mesmo tempo, Vaughan e Staples deixam evidente que, mesmo sabendo disso tudo – e sim, nós sabemos – a guerra é inevitável e, em muitos e muitos casos, desejada, seja por razões religiosas, políticas ou, as mais terríveis de todas, econômicas.

O sétimo volume de Saga, que apropriadamente tem o nome informal de A Guerra por Phang, o único arco até agora a ser batizado, vale lembrar, é uma pedrada, uma história que eleva ainda mais o impossivelmente alto nível deste épico sci-fi para adultos que simplesmente tinha que receber mais destaque por aqui dada sua qualidade incomparável com quase qualquer outra HQ hoje em andamento. A ópera espacial selvagem, violenta e sexualmente explícita da dupla criativa formada por Brian K. Vaughan e Fiona Staples é um incrível feito da Nona Arte que muito poucos autores conseguem repetir: uma série mensal, não fechada em poucas edições, que mantém, de número a número, de arco a arco, uma impressionante coesão narrativa que se recusa a cair de nível. Ainda bem!

Saga – Volume Sete (Saga – Volume Seven – EUA, 2016/17)
Contendo:
 Saga #37 a 42
Roteiro: Brian K. Vaughan
Arte: Fiona Staples
Letras: Fonografiks
Editora (nos EUA): Image Comics
Data original de publicação: agosto de 2016 a janeiro de 2017
Editora (no Brasil): Editora Devir
Data de publicação no Brasil: novembro de 2018
Páginas: 152

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