Home TVEpisódio Crítica | Samurai Jack – 5X06: XCVII

Crítica | Samurai Jack – 5X06: XCVII

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

  • Contém spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Os últimos capítulos de Samurai Jack têm trazido fortes traumas para o protagonista. Primeiro ele teve de lidar com seu passado o assombrando em forma de visões, depois, com o fato de ter matado uma das filhas de Aku e, por fim, com a morte das crianças (que, de fato, não chegaram a morrer em XCVI). Esse último, claro, funcionou como a gota d’água para que o guerreiro desistisse de tudo, aceitando a morte, figura representada na forma de um samurai em um cavalo, que já vinha aparecendo há algumas semanas. XCVII vem, portanto, como um dos mais dramáticos capítulos da série, ao mesmo tempo que nos atinge em cheio com a nostalgia.

Com Jack desaparecido, cabe a Ashi procurá-lo. Acreditando que o samurai corre perigo, ela percorre as terras dominadas por Aku, buscando por pistas ou alguém que possa levá-la ao paradeiro do herói. É nessa jornada que a garota se encontra com inúmeras figuras do passado do guerreiro, que já apareceram em outras temporadas, como os três arqueiros cegos (não mais cegos), os Woolies (de Jack, the Woolies, and the Chritchellites, quarto episódio da primeira temporada), dentre outros, todos relatando sobre como o samurai salvou suas vidas, jurando que irão ajudá-lo caso, algum dia, ele precise.

Evidente que esse sentimento de gratidão dessas diversas criaturas será trazido de volta futuramente, em uma possível grande batalha contra Aku, algo já prenunciado no episódio anterior, através da figura do Escocês. De fato, a presença desse velho amigo de Jack funciona perfeitamente como a preparação do terreno para algo que está por vir e, semana após semana, vemos as peças se movimentando para um ponto comum, enquanto o protagonista se mantém em sua jornada para se reencontrar, ainda que ele próprio não saiba disso. Ashi funciona, pois, como mais que apenas uma coadjuvante e, sim, aquela capaz de resgatar o samurai de si próprio.

Antes, contudo, ela precisaria enxergar como mudar, ver a verdade que Jack quis mostrar a ela, se purificar antes de salvar o guerreiro. XCVII, portanto, é isso, é um episódio que simboliza perfeitamente a purificação, algo deixado bem claro na mudança de aparência da ex-Filha de Aku. Não temos apenas um abandono do passado e sim uma lavagem de sua própria alma, com o preto, simbolizando o bloqueio para as energias exteriores, dando lugar a tons mais claros, demonstrando a abertura da personagem em relação ao restante do mundo. Claro que há mais nessa alteração do que apenas isso, ela utiliza uma roupagem feita de elementos da natureza, dispensando o carvão, a chama que resume a destruição provocada por Aku. Aqui temos a metamorfose completa de Ashi.

Chegamos, portanto, à emblemática sequência do seppuku e, surpreendentemente, descobrimos que a figura prestes decepar Jack não está apenas em sua mente. A Morte ganha uma manifestação física e é interessante observar como ela busca convencer o guerreiro que ele precisa perder a vida, o enganando, dizendo que as crianças do capítulo anterior morreram. A arte, aqui, novamente trabalha com os tons de verde, tão ligados à morte. O mais interessante, porém, é observar como, atrás desse espectro, há uma luz, simbolizando o além da vida. Além disso, é importante observar como é preciso que Jack, primeiro, faça o harakiri, não só respeitando a cultura japonesa, como maneira de mostrar que a nefasta entidade não pode levá-lo contra sua vontade.

Curiosamente, enquanto espera que o protagonista inicie o processo de tirar sua própria vida, a Morte não hesita em acabar com Ashi, que somente sobrevive em virtude de seu treinamento. Aqui é possível interpretarmos que somente um guerreiro merece uma morte honrada. Apesar de ter considerado a honra de Jack perdida, a entidade reconhece seu passado, tudo o que fizera e, portanto, não pode apenas acabar com ele sem um duelo ou o seppuku. Todo esse drama construído ainda conta com o papel narrativo essencial de conectar o herói às suas origens, funcionando, junto do convencimento realizado por Ashi, como a peça que faltava para que ele retornasse a quem ele era lá nas temporadas iniciais.

Do outro lado, descobrimos que Scaramouch (Tom Kenny como dublador, novamente sensacional) está, surpreendentemente, vivo. Fica bem claro que, aqui, ele funciona como o alívio cômico do capítulo, com o característico humor da série novamente dando as caras. Mais que isso, porém, é importante lembrar que o principal antagonista está na mesma situação que sua antítese: desmotivado. Scaramouch, portanto, funciona como um paralelo de Ashi, como o elemento que irá trazer Aku de volta à forma, já que, sem a espada mágica, ele não precisa temer o samurai. Evidente que ele irá ter uma bela surpresa quando descobrir que o guerreiro recuperou a lâmina (algo que, provavelmente, veremos no próximo capítulo).

XCVII pode ter um ar de fillerfan-service, mas ele é não menos essencial que todos os outros episódios dessa temporada, que está sendo elaborada cuidadosamente, peça após pela, nos levando a um possível dramático desfecho. Falta apenas mais um passo para Jack reencontrar o seu verdadeiro eu: sua katana e, com isso, teremos o velho samurai de volta, de verdade. Aqui, graças a Ashi, ele venceu a morte e, agora, sua batalha final contra o mal em si começa.

Samurai Jack – 5X06: XCVII — EUA, 2017
Direção:
 Genndy Tartakovsky
Roteiro: Genndy Tartakovsky
Elenco: Phil LaMarr, Tara Strong, Greg Baldwin, Grey DeLisle,  Tom Kenny, Kevin Michael Richardson, Keegan-Michael Key, Aaron LaPlante
Duração: 22 min.

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