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Crítica | Sandy Wexler

por Gabriel Carvalho
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Contém leves spoilers.

O terceiro filme da saga de Adam Sandler na Netflix prometia diversas coisas, e poucas, senão nenhuma dessas expectativas oriundas poderiam ser consideradas positivas, pois apesar do sucesso de público gerado por produções anteriores, The Ridiculous 6 e Zerando a Vida são obras difíceis de se entender. Sendo assim, as expectativas para um longa desse “porte” teriam de ser extremamente calculadas e manejadas. Dito e feito, desta vez, com o intuito de “homenagear” seu verdadeiro gerente de talentos, Sandy Wernick, o ator encarna uma sátira, retomando seus clássicos papeis esdrúxulos, com direito a vozes irritantes, comportamentos irracionais – e surpreendentemente, certo teor humorístico efetivo. A obra tem como protagonista Sandy Wexler (Adam Sandler), um homem difícil de se relacionar. Seu comportamento ascoso, sua voz esganiçada e seu senso de humor desprovido de razão contribuem para que as pessoas ao seu redor tenham a ele um sentimento de rejeição.

Contudo, o carinho pelos seus artistas invoca uma graciosidade em seu trabalho, que mesmo sem enxergar de fato o potencial de seus talentos, por meio de mentiras e atitudes ingênuas, surpreendentemente faz ele tornar Courtney Clarke (Jennifer Hudson), uma legitimamente talentosa cantora, em uma verdadeira estrela. O roteiro, mesmo acolchoado de convenções narrativas típicas de filmes como este, faz um papel considerável em construir a relação principal que permeia o longa. Apesar de Sandy ser extremamente caricato, impossibilitando a existência de uma verdadeira química sexual entre ele e Courtney, o personagem de Adam Sandler consegue exprimir um senso de preocupação pelo futuro da personagem. Os dois possuem alguns bons momentos, que são ainda mais aperfeiçoados pela decente atuação de Jennifer Hudson, que além de dramaticamente, convence musicalmente, sendo que, particularmente, é um espetáculo a parte ouvi-la cantar.

No entanto, o verdadeiro divisor de águas do filme é Adam Sandler. Enquanto alguns – ou a maioria – dos espectadores terão no desempenho do ator motivos suficientes para relegar a obra ao limbo da Netflix, outros poderão aceitar – de cara feia – a intenção de Sandler e assim como o crítico que vos escreve, compreender, mesmo que superficialmente, o discurso proposto pela interpretação de tal. De fato estamos falando de um idiossincrático papel formulado por um roteiro que pouco cria situações verdadeiramente engraçadas. São piadas previsíveis, algumas um tanto escatológicas, e outras até um pouco ofensivas. A graça encontrada aqui está no fato de se não se presumir uma tentativa do ator em criar um personagem engraçado, e sim, em criar um personagem intencionalmente sem graça. Uma sátira da sátira. O famoso “tão ruim que fica bom”. As palmas irritantes e a risada escandalosa poderiam muito bem serem classificadas como tentativas amadoras de se criar humor, mas subvertendo-se essa ideia, fica-se mais palpável. É uma experiência difícil de se comprar, diferentemente da, mais sagaz, utilização da ambientação dentro dos anos 90, que comporta algumas piadas referenciais inteligentíssimas.

O que corrobora para tal argumento é o estilo mockumentary apresentado logo no começo do filme. Entendendo-se a natureza absurda daquele personagem, e o fator de deslocamento empregado sobre ele, a obra fica mais interessante, visto que o protagonista permite-se funcionar mais. A narrativa, infelizmente, não convence em seu terceiro ato, rapidamente resolvendo conflitos por meio de situações extremamente improváveis, que apesar de não serem de total miséria operacional realçam as imperfeições da obra. A sequência final, uma espécie de ode ao show business, é bem dirigida, e casa apropriadamente com o desenvolver da história, mesmo que tal seja falho. Por outro lado, há um ponto em especial, que mesmo essencialmente previsível, acaba caindo em bom tom ao filme: a questão da relação daqueles famosos todos com Sandy. Para completar, a cinematografia não é nada espetacular, porém a utilização de cores mais vivas a torna mais agradável visualmente. Por assim sendo, a direção de Steven Brill acaba por ficar acima da média, comparada com outras produções mais automáticas produzidas por Sandler.

O filme ainda é bastante inflado pelas presenças de personagens menores que compõem o time de talentos do personagem principal. Embora suas intenções narrativas sejam claras e funcionais, ou seja, a manutenção da empatia pelo protagonista, suas devidas explorações acabam por soarem superficiais, até mesmo as mais interessantes como as de Terry Crews e Kevin James. Isso sem comentar a aparição de mau gosto de Rob Schneider utilizando de maquiagem para aparentar ter uma etnia que não é a sua, como já fizera em outras inoportunas vezes, mesmo em pleno século XXI. Excessivamente longo, Sandy Wexler consegue ter a alma necessária para fazer a si, mesmo pobre em conteúdo e falho no desempenho, não ser tão depreciável como outros filmes da mesma vibe. É de longe a melhor produção do Adam Sandler na Netflix, que ainda assim não sai de sua zona de conforto. Embora não entregue uma atuação horrenda, vale muito da boa vontade do espectador para que sua performance seja considerada aceitável.

Sandy Wexler — Estados Unidos, 2017
Direção:
 Steven Brill
Roteiro: Dan Bulla, Paul Sado, Adam Sandler
Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Terry Crews, Jennifer Hudson, Jamie Gray Hyder, Rob Schneider, Nick Swardson, Colin Quinn, Lamorne Morris, Darius Rucker, Jason Priestley, Gary Dell’Abate, Arsenio Hall, Quincy Jones, Judd Apatow, Janeane Garofalo, Pauly Shore, Kevin Nealon, Lorne Michaels, Dana Carvey, Chris Rock, David Spade, George Wendt, Penn Jillette, Henry Winkler, Tony Orlando, Vanilla Ice, Jimmy Kimmel, Conan O’Brien, Jay Leno, Louie Anderson, “Weird Al” Yankovic, Kenneth “Babyface” Edmonds, Mason “Ma$e” Betha, Lisa Loeb, Jon Lovitz, Budd Friedman
Duração: 131 min.

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