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Crítica | Sangue Mineiro (1929)

Uma história sobre grandes paixões.

por Luiz Santiago
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O primeiro intertítulo da versão que eu assisti deste filme dá um contexto importante sobre a obra que acho importante reproduzir aqui. Segue o texto: “Sangue Mineiro é um filme silencioso produzido em 1929 por Humberto Mauro, com fotografia de Edgar Brasil [Edgar Hauschildt] e estrelado por Carmen Santos. Em 2011, como parte de um projeto de recuperação da memória audiovisual brasileira, a BossaFilmes tomou a liberdade de adicionar uma trilha musical ao filme. Foram selecionadas músicas e intérpretes brasileiros em gravações originais, respeitando o universo musical da época. Este filme foi restaurado no laboratório da Fundação Cinemateca Brasileira, São Paulo“.

A obra é um romance com um roteiro confuso, também escrito pelo diretor do filme, Humberto Mauro. Expoente cinematográfico do Ciclo de Cataguases, o longa acompanha uma ciranda de paixões, sentimentos exagerados, abusos, tentativa de suicídio e flertes entre os jovens em torno da fazenda Acaba-Mundo, em Minas Gerais. Carmen (Carmen Santos), Cristóvão (Maury Bueno), Neusa (Nita Ney), Roberto (Luís Soroa) e Juliano Sampaio (Pedro Fantol) são os personagens centrais da narrativa, mas em termos de atuação, a presença que verdadeiramente se destaca é a de Carmen Santos, com uma atuação memorável. Os outros, mesmo com alguns momentos interessantes em tela, são majoritariamente afetados ou regulares.

O diretor junta uma porção de clichês do melodrama e adequa esses elementos à realidade do interior do Brasil na década de 1920, com a ação ambientada no campo e tendo como uma das linhas críticas a relação entre a cidade e o interior. A essa discussão, somam-se as visões dos mais velhos da fazenda sobre a “perda dos costumes tradicionais” e a preocupação do patriarca com “a estranha educação que é dada nos colégios“, ou seja, a dicotomia entre “velho” e “novo” (o conflito de gerações) também aparece aqui, fazendo dessa marcha por ser amado e ter o seu amor correspondido pelo outro uma reflexão com outras facetas, inclusive social. Não é um roteiro bem escrito e que flui bem o tempo todo. Na verdade, trata-se de um texto pouco chamativo e até bastante confuso lá pela sua metade. É possível, no entanto, retirar alguma coisa da parte mais simples do enredo, que é a relação direta entre os personagens e o que isso implica para os envolvidos.

Em Sangue Mineiro, o maior destaque vai para a fotografia de Edgar Brasil. Sua parceria com Humberto Mauro, aqui, gerou momentos visualmente muito bonitos, especialmente nos planos de conjunto que envolvem tomadas externas. Algumas cenas mais tensas também merecem destaque em sua montagem, criando uma grande expectativa no público e apresentando, de forma inteligente, muitos aspectos em torno do acontecimento de destaque. Não é melhor que o filme anterior do diretor (Brasa Dormida) mas ainda assim é um bom filme.

Sangue Mineiro (Brasil, 1929)
Direção: Humberto Mauro
Roteiro: Humberto Mauro
Elenco: Carmen Santos, Maury Bueno, Nita Ney, Ernani de Paula, Pedro Fantol, Rosendo Franco, Adhemar Gonzaga, Luiz Guimarães, Augusta Leal, Máximo Serrano, Elie Sone, Luís Soroa
Duração: 80 min.

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