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Crítica | Sanguessugas – Uma Comédia Marxista sobre Vampiros

Criativo em dialética, mas nada revolucionário.

por Davi Lima
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sanguessugas

O filme alemão Sanguessugas – Uma Comédia Marxista sobre Vampiros se apresenta muito melhor a  um teatro gravado do que uma produção audiovisual entendedora dos atalhos imersivos do cinema. Essa caracterização inicial se torna negativa, apesar do cinema usufruir do teatro como fonte dramatúrgica e compreensão de mise-en-scène e sua unidade estilística estar envolta nos aprendizados do palco.  O filme dirigido e escrito por Julian Radlmaier, mesmo tendo um foco quase exclusivo em dinâmicas teatrais como maneira de exacerbar a dialética hegeliana – e que Marx tanto utiliza em sua literatura crítica – na sua narrativa cômica sem perder a atmosfera sisuda, clássica de um estereótipo burguês europeu, o filme não consegue não explicitar a prisão dependente desse formato, evidenciando suas limitações cômicas e solenes para uma alegoria lúdica marxista.

A história é dividida em atos, com decalques na tela que separam  o roteiro em capítulos, abraçando ainda mais a inspiração teatral, se dividindo entre a inusitada chegada de um personagem chamado Barão Koberski (Aleksandre Koberidze) e a revelada paixonite do empregado Jakob (Alexander Herbst), ambos personagens apaixonados pela jovem Octavia (Lilith Stangenberg), uma figura burguesa importante na sociedade alemã. As duas narrativas em si se portam antagônicas. O Barão sai da União Soviética comandada por Vladimir Lenin por não ter tido sucesso nos filmes de Sergei Eisenstein (o famoso diretor e teórico no cinema russo), por não se encaixar quase literalmente na montagem das obras audiovisuais. Enquanto o serviçal tem amizades com leitores marxistas, é sugado pela sua senhoria vampiresca Octavia, que insiste que Jakob não a chame de “senhora” ou por títulos de classe superior. 

Tendo esse cenário de trama formado, ainda mais com os preceitos anacrônicos intencionais de roupas, linguagem e representação social para um filme que se passa entre a década de 1920 e 1930, tudo parece perfeito para um comentário elaborado e intelectual de como a comparação do do capitalismo, em  O Capital, com um vampiro, pode ser interpretado como algo literal. A graça de Sanguessugas – Uma Comédia Marxista sobre Vampiros é direta. Desde a primeira cena é possível rir dos “plebeus” alemães lendo Marx e questionando até que ponto os vampiros existem. Mas o artifício teatral busca tornar o terror altamente solene, por conta da dialética tão intensa entre o implícito e o explícito. Jakob correndo pelas planícies alemãs tem um objetivo cômico exposto pela fotografia com plano geral, fazendo  o jeito de correr do personagem determinar um certo desprezo pelo que o serviçal sofre.

No entanto, por mais invencionista que Julian seja com seu texto semi ácido, semi alegórico, como média para tudo em meio ao teatral, praticamente se esquece da quarta parede, pela qual o  cinema tanto se diferencia. De que adianta propor piadas anacrônicas com os chineses na Alemanha, uma referência à China Comunista, se a narrativa do longa não trabalha com o prático cinema? A apatia, por um lado, faz parte da estranheza do filme também, ajuda na  imersão para referências políticas, acadêmicas e teóricas de um estudo marxista, até mesmo para desenvolver o romance entre o Barão e a jovem Octavia. Entretanto, no momento de tornar a dialética em síntese, o tal subtítulo dos vampiros, a tal revolução contra os burgueses politicamente corretos que sugam e mentem para a sociedade sobre um “enxame de sanguessugas”, o teatro é mais importante do que o incisivo e irônico comentário.

Em geral, Sanguessugas – Uma Comédia Marxista sobre Vampiros suga a si mesmo como uma obra dialética que expõe as contradições do capitalismo. A ideia do diretor sobre a diversão séria envolta do texto marxista sobre vampiros, juntando toda a historicidade dos contos alemães  e do cinema germânico  com os filmes de vampiro e sombras que o Expressionismo Alemão, procriou em paralelo ao reforço narrativo sobre o cinema russo (dialético por natureza), tornando-se  mais uma referência para o espectador captar no teatro de personagens com humor físico. Esta é a conclusão. O filme é um teatro que se torna  uma parede nivelada, “bem comunista” em estereótipo, mas sem revolução dramática no seu modo de contar história.

Sanguessugas – Uma Comédia Marxista (Blutsauger, Bloodsuckers – A Marxist Vampire Comedy) – Alemanha, 2021
Direção: Julian Radlmaier
Roteiro: Julian Radlmaier
Elenco: Aleksandre Koberidze, Lilith Stangenberg, Alexander Herbst, Juan Felipe Amaya González, Andreas Döhler, Anton Gonopolski, Daniel Hoesl
Duração: 125 minutos

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