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Crítica | Saudações, Cubanos!

por Luiz Santiago
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Os anos iniciais após a derrubada do ditador Fulgencio Batista em Cuba foram de grande entusiasmo e curiosidade dentro das mais diversas alas acadêmicas ou artísticas ao redor do mundo. Alimentando e fazendo uso político e artístico desse fascínio, o governo revolucionário tomou a iniciativa de convidar criadores das mais diversas áreas para visitarem e trabalharem em Cuba, criando a sua versão daquilo que viam e ouviam no país.

Convidada pelo Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos, a diretora belga Agnès Varda esteve na ilha entre dezembro de 1962 e janeiro de 1963, visita que gerou uma quantidade enorme de fotografias (ao todo 4000) e que Varda utilizou primeiro para fazer uma exposição em Paris, e depois para criar este Saudações, Cubanos!, uma representação cultural riquíssima que a diretora realiza na forma do mais puro cinema, flertando de fato com as origens desta arte, transformando imagens fixas em simples e fascinantes movimentos.

O contexto é político do início ao fim. A diretora não engana ou espectador e nem disfarça a sua verdadeira intenção ou mesmo pensamento político. Anos mais tarde, ao fazer uma apresentação especial para este documentário, Varda chamou a atenção para a especificidade do contexto dos anos 60, da atenção que Cuba atraía e de como o pensamento de esquerda no mundo olhava para o que estava sendo feito ali. Mesmo declaradamente decepcionada com os rumos da revolução a longo prazo, a diretora sempre manteve enorme carinho diante da rica experiência que teve na ilha, fazendo dessa visita um trabalho experimental que procurava exibir as faces de uma sociedade vibrante, indo do corte da cana aos longos discursos de Fidel Castro.

Como encontramos facilmente nos filmes da diretora nessa primeira fase de sua carreira, uma grande atenção é dada para as raízes de uma porção de costumes, música e religiões que ela fotografa no país, trazendo isso à tona através de uma narração que funciona como uma conversa, sendo às vezes divertida e às vezes irônica, colocando aquilo que presenciava sob investigação histórica.

Fazer um documentário ágil desse jeito com fotografias e conseguir manter a atenção do público ao longo de meia hora de duração não é para todos. O ritmo aqui é a palavra de ordem e através de sua precisão vemos a diretora mostrar a cultura local, o povo das ruas, os trabalhos braçais, as danças, as artes, as paisagens. Sem mímicas e sem o horrendo paternalismo europeu que se vê em muitos documentários de ordem étnica, sociológica e cultural, Saudações, Cubanos! é um conjunto de instantâneos de uma Era de emoção e vibração. Um filme de sorrisos, suor, danças, mudanças e otimismo pelo futuro. Uma obra que, por diversos motivos, se torna dolorosa quando vista tantos anos depois.

Saudações, Cubanos! (Salut les Cubains) — França, 1964
Direção: Agnès Varda
Roteiro: Agnès Varda
Roteiro: Michel Piccoli, Sara Gómez, Nelson Rodríguez, Agnès Varda
Direção: 30 min.

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