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Crítica | Saudades de um Pracinha

Um filme que não dá saudades...

por Ritter Fan
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Os dois anos entre Balada Sangrenta e Saudades de um Pracinha foram definidores na vida pessoal de Elvis Presley. Já antes de acabar o filme de 1958, ele havia sido convocado para o serviço militar, com a produção tendo que pedir dispensa especial para ele acabar as filmagens e iniciar seu treinamento no Arkansas e no Texas que eventualmente o levaria à Alemanha Ocidental, mais especificamente para sua lotação em Friedberg, cidade próxima de Frankfurt. No serviço, ele foi “apresentado” às anfetaminas, que, de uma forma ou de outra, o levariam à morte prematura em 1977. Além disso, sua mãe, com quem ele era muito ligado, fora diagnosticada com hepatite, falecendo logo em seguida e, segundo relatos, afetando para sempre o cantor. Finalmente, na Alemanha, ele conheceria Priscilla Beaulieu, então com apenas 14 anos, mas com quem se casaria em 1967 e teria sua única filha, Lisa Marie Presley. Foi como se, entre 1958 e 1960, todo o mapa da curta vida de um dos mais famosos cantores dos EUA fosse delineado.

E esse delineamento continuou no lado de sua carreira, pois seu infame agente, o Coronel Tom Parker (que não era coronel coisa nenhuma), decidiu que o melhor caminho para o futuro profissional de Presley seria ele focar no cinema, o que o levou a parar com seus shows e dedicar-se ainda mais à Sétima Arte. Saudades de um Pracinha (uma tradução completamente sem pé nem cabeça do título G.I. Blues) marcou, então esse começo, por assim dizer, da avalanche cinematográfica de Elvis, que passaria os próximos 10 anos soltando dois ou três filmes por ano. Bem diferente de Balada Sangrenta, o longa, obviamente calcado na versão de conto de fadas de seu serviço nas Forças Armadas, é, apenas, uma comédia romântica rasa baseada em premissa inequivocamente machista, mas que dialoga bem com a época em que foi feito e com o estilo do ator, em que o personagem de Presley, o recruta Tulsa McLean que deseja mais do que tudo abrir uma boate quando voltar para Oklahoma, precisa, como parte de uma aposta, conquistar a inconquistável dançarina Lili (Juliet Prowse).

O roteiro de Edmund Beloin e Henry Garson não faz o menor esforço para que o longa seja algo mais do que um veículo para capitalizar em cima da beleza, charme e habilidades vocais e de dança de Elvis Presley. A história é o que se espera da premissa, com tudo começando com uma aposta e acabando com “amor verdadeiro”, com direito a intermináveis sequências de turismo por Frankfurt – o longa foi filmado em locação antes do fim do serviço militar de Presley – e diálogos expositivos do tipo “esses vinhedos existem aqui há 300 anos”. A única coisa que realmente funciona é a química entre Presley e Prowse, algo que se refletiu na vida real já que os dois tiveram um intenso, mas curto caso durante a produção. De resto, o longa é simplesmente cansativo e nem os números musicais de Presley, talvez com exceção do que ele faz no teatro de marionetes, ou os de dança de Prowse (ela era dançarina, conhecida por ter o mais bonito par de pernas desde Betty Grable) chamam muito a atenção, com o melhor momento sendo quando um soldado liga um jukebox para “ouvir o original” e eis que começamos a ouvir música do próprio Elvis Presley tocando, em um daqueles momentos meta bem divertidos.

Na direção, Norman Taurog faz como os roteiristas, ou seja, o básico. Não há uma tomada que não seja mais do que burocrática, com o prolífico cineasta que, porém, raramente se destacou em sua profissão, não se preocupando sequer em estabelecer sequências que enalteçam a dupla principal para além da conexão natural entre os dois atores. E, claro, as sequências de turismo são de revirar os olhos de tão óbvias e lentas ao ponto de ter o efeito reverso do pretendido, ou seja, tornando Frankfurt uma cidade desinteressante. Ao contrário do longa anterior dirigido por Michael Curtiz, Saudades de um Pracinha é um típico exemplo de filme de linha de produção de Hollywood, sem nada para realmente destacá-lo que não seja a presença de Elvis Presley, obviamente.

E, infelizmente, nos anos seguintes, esse tipo de filme seria a regra e não a exceção na filmografia do cantor transformado em ator, ou seja, obras que não têm o menor pudor em deixar evidente para quem tiver um mínimo de senso de que elas somente existem em função de seu ator principal, não importando nada que não seja ele e suas aí sim inesquecíveis canções, sendo que nem canções inesquecíveis Saudades de um Pracinha verdadeiramente tem. No final, o que fica do longa é a vontade de clicar no fast foward para que essa comédia romântica dolorosamente medíocre, sendo educado, acabe logo…

Saudades de um Pracinha (G.I. Blues – EUA, 1960)
Direção: Norman Taurog
Roteiro: Edmund Beloin, Henry Garson
Elenco: Elvis Presley, Juliet Prowse, Robert Ivers, James Douglas, Letícia Román, Sigrid Maier, Scotty Moore, D.J. Fontana, Arch Johnson, Kenneth Becker, Carl Crow, Beach Dickerson, Trent Dolan, Fred Essler, John Hudson, The Jordanaires, Mickey Knox, Erika Peters, Jeremy Slate, Edson Stroll, Ron Starr, Ludwig Stössel
Duração: 104 min.

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