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Crítica | Scanners 2 – A Força do Poder

por Leonardo Campos
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Debater a inutilidade de Scanners 2 – A Força do Poder como desperdício do potencial deixado pelo legado de David Cronenberg é dar volta em círculos (e ciclos) intermináveis. O melhor é irmos direto ao filme, uma deliciosa “obra-prima ruim”. E sim, as aspas é para reforçar a ironia. Produzido dez anos após Scanners – A Sua Mente Poder Destruir, a continuação tenta embarcar no clima do primeiro e retrata uma sociedade diante da prévia dominância destas figuras que possuem a capacidade de escanear mentes. O filme parte do pressuposto dramático das produções de ação dos anos 1980 e 1990: um herói, conflitos, uma cena de sexo obrigatória, para reforçar a heterossexualidade do protagonista, com algumas batidas, tiros, acidentes mortais, perdas e danos e um milagroso exercício da paciência de nossa parte, enquanto espectadores, movidos pela curiosidade em saber o desfecho deste espetáculo bizarro.

Dirigido por Christian Dugay, responsável por dar vida ao roteiro de B. J. Nelson, Scanners 2 – A Força do Poder retoma, ao longo de seus 104 minutos,  os temas do filme de Cronenberg, mas aproveita apenas alguns traços da superfície, dando ao público uma aventura com os elementos mencionados anteriormente, sem qualquer preocupação convincente no que diz respeito aos debates empreendidos no filme de 1981. Aqui, sem ritmo e com personagens opacos, somos apresentados ao scanner mendigo que circunda um enorme fliperama, ambiente repleto de consumidores que se divertem diante da tecnologia dos jogos. Saberemos logo mais que o jovem maltrapilho foge da polícia. O seu comportamento foge dos padrões das regras sociais estabelecidas e demonstram que há algo de “anormal” com a figura. Principalmente quando ele é movido pelo desejo de flertar com os jogos utilizando as suas habilidades mentais peculiares.

Logo mais, as coisas saem do controle e num confronto, descobrimos que ele é perseguido pelas autoridades por intermédio de Gelson (Vlasta Vrana), homem que segue os comandos de John Forrester (Yvan Ponton). Enviado ao instituto de pesquisa supervisionado pelo Dr. Morse (Tom Butler), ele é estudado no processo de análise dos testes que envolvem uma nova droga que tem como direcionamento, reprimir o poder dos scanners e assim, obter controle sobre eles. O problema é que a droga possui um efeito colateral: é viciante e traz danos permanentes para os usuários que podem não conseguir parar de consumi-las. E agora? Um projeto que visa ampliar o poder de que o manipula tem como foco, usar as suas cobaias para escaneamento. Diante do exposto, cumprir o clássico e clichê projeto de dominação mundial. A droga EPH-1 agora está numa nova versão, a EPH-2, mas para seu sucesso, será preciso um scanner de “mente limpa”.

Assim, tendo como linha de raciocínio, desenvolver o projeto com um scanner “virgem”, “tocado pela primeiríssima vez”, entram em cena David Kellum (David Hewlett), o bonzinho, arquétipo para criar a famosa dualidade entre malvados e heróis. O jovem descobrirá que a sua mãe talvez tenha usado o Ephemerol, substância chave do filme anterior, além de pesquisar e ser informado que possui uma irmã. Alice Leonardo (Isabelle Mejias) ocupa o lugar de namorada, parceira em suas descobertas e sua aliada na luta contra os projetos megalomaníacos do mal. Perseguido depois de uma fita que possui imagens do circuito de segurança que revelam o seu poder durante um assalto num estabelecimento comercial, David Kellum parte da função de estudante de Medicina Veterinária para desenvolver as suas habilidades de scanner na luta pela sanidade e ordem na cidade. Ainda há, no roteiro, um criminoso a ser caçado, com a ajuda de Kellum. Neste jogo dramático repleto de clichês, algumas situações empolgam, mas é tudo muito pueril.

Os personagens circundam pelos espaços concebidos pelo empobrecido design de produção de Richard Tarsé, setor que não demonstra qualquer habilidade para driblar as questões orçamentárias e entregar cenários, direção artística e demais setores com mais criatividade. É tudo muito opaco e sem dinamismo interno, algo que também atinge a burocrática direção de fotografia, toda certinha e sem uma dose sequer de ousadia em sua captação de imagens. A trilha sonora de Marty Simon é outro problema, tomada por uma grandiosa falta de expressividade, em consonância com o próprio filme, uma sequência desnorteada e pobre de um filme produzido dez anos antes, superior não apenas pelos seus atributos dramáticos, mas também pelos elementos estéticos e contextuais. Outra continuação, Scanners 3 – O Duelo Final, foi lançada, com resultados ainda mais comprometedores que seu antecessor.

Scanners 2 – A Força do Poder (Scanners II – The New Order) – Canadá, 1991.
Direção: Christian Duguay
Roteiro: B.J. Nelson
Elenco: David Hewlett, Deborah Raffin, Yvan Ponton, Isabelle Mejias, Tom Butler, Raoul Max Trujillo, Vlasta Vrana, Murray Westgate
Duração: 95 min.

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