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Crítica | Schneider vs. Bax

por Guilherme Coral
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estrelas 4

O quão difícil pode ser assassinar um idoso escritor sozinho em sua casa de veraneio no meio do nada? O assassino profissional, Schneider (Tom Dewispelaere), acreditava que não custaria muito tempo e prontamente retornaria à sua festa de aniversário antes do anoitecer. Naturalmente, nem tudo ocorre como o planejado e o contrato que aceitara com relutância acaba se tornando uma verdadeira odisseia repleta de contratempos, no mínimo, inesperados. Com essa premissa, Alex van Warmerdam, que também atua no papel de Bax, constrói a narrativa de Schneider vs. Bax, recheada de humor negro e situações inusitadas, que certamente tira risadas involuntárias do espectador.

Há uma nítida desmistificação da figura do assassino, imagem que o diretor procura desconstruir desde os momentos iniciais, nos mostrando a família de Schneider e como ele não é nada mais que um homem comum. Ao invés do infalível profissional, temos um homem passível de erros e total escravo de eventualidades que se fazem fortemente presentes na trama. O roteiro, portanto, ocupa seu trecho inicial a fim de apresentar esse personagem central para seu desenvolvimento. O que segue é, portanto, uma mostra da outra parte, o ponto de vista de Bax, que tem de lidar com uma filha depressiva, uma namorada explosiva e um pai tarado. É essa dinâmica entre personagens tão contrastantes que cria o singular humor de Warmerdam, que, em geral, se estabelece com inúmeras quebras de expectativas.

As situações impensáveis que assistimos, porém, cumprem muito mais que nos causar risadas – constroem cuidadosamente a personalidade de cada um dos indivíduos presentes em tela. Vez após outra somos surpreendidos com o cuidado do texto em garantir a profundidade de seus personagens centrais – Schneider, Bax e sua filha, Francisca (Maria Kraakman). Esta última é a que mais nos chama a atenção, passando de uma frágil figura para uma mulher forte e independente, cuja personalidade é tão bem formada que torna perfeitamente plausível o inusitado clímax, que, digamos de passagem, é genial e deveria ser a última cena da obra.

Também através de Francisca é que se torna clara a ênfase do filme na banalidade da morte, em nenhum ponto enxergamos o fim de alguém como algo traumático ou até mesmo dramático e sim com uma espantosa naturalidade que, por mais que se encaixe dentro da proposta, nos faz nos perguntarmos se não estamos diante de completos psicopatas. A estética do longa se apoia nesse foco, nos trazendo imagens em tonalidades frias, com cores apagadas mesmo quando a tela está repleta de árvores. O céu nublado é uma constante e perfeitamente reflete a falta de ânimo de cada um dos personagens. A casa do escritor é o que torna tudo isso mais evidente, sendo quase um monólito branco perdido no meio de um pântano.

Dessa forma enxergamos o verdadeiro foco do diretor ao compor esse exótico quadro. Nenhum dos personagens ali presentes gostaria de estar ali, criando, portanto, uma aura constante de cansaço, que, naturalmente, passa para o espectador. Assim como os indivíduos que enxergamos em tela, nos sentimos exaustos com todos os acontecimentos do texto, ao ponto que não sabemos para quem torcer, apenas para que a situação em questão seja resolvida. Esse fator apenas prova o bom trabalho de cada um dos atores, que trazem características únicas para seus personagens, tornando cada um deles cativante.

Minha única ressalva em relação a Schneider vs. Bax é justamente a forma como seu desfecho é conduzido, especialmente quando poderia ter sido deixado em um delicioso e provocativo final aberto, escolha que apenas solidificaria nossa percepção de Maria Kraakman como a verdadeira estrela da obra. Mesmo com esse deslize, porém, trata-se de um criativo filme que foge dos padrões que temos em mente quando nos deparamos com uma obra centrada em assassino(s).

Schneider vs. Bax (idem – Holanda, 2015)
Direção:
 Alex van Warmerdam
Roteiro: Alex van Warmerdam
Elenco: Tom Dewispelaere, Alex van Warmerdam, Maria Kraakman, Gene Bervoets, Annet Malherbe, Pierre Bokma
Duração: 96 min.

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