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Crítica | Scooby-Doo e o Fantasma da Bruxa

Flertando com elementos históricos de bruxaria nos Estados Unidos.

por Luiz Santiago
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O grande sucesso de Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis ajudou a abrir portas outras produções da Mistério S/A que focassem em temas macabros já estabelecidos no imaginário popular, como é o caso dessa animação de 1999, Scooby-Doo e o Fantasma da Bruxa. Nela, vemos o grupo de caçadores de assombração resolver um problema, em um museu e, para grande prazer de Velma, encontrar-se com o escritor Ben Ravencroft (nome com direito a brincadeirinha com Lovecraft, levemente inspirado em Stephen King — visualmente falando e no sentido de ser um escritor de terror de muito sucesso –, além de ser dublado pelo grande Tim Curry). Este é o começo de uma jornada que tem uma interessante reviravolta e brinca com um dos episódios mais intrigantes e tristes da História social e religiosa dos Estados Unidos no século XVII: os julgamentos das bruxas de Salém.

Entre fevereiro de 1693 e maio de 1694, mais de duzentas pessoas foram acusadas de práticas de bruxaria, relações com pessoas que praticavam atos demoníacos ou ligação com entidades demoníacas para algum tipo de benefício pessoal. Uma verdadeira histeria social amparada pelo fanatismo cristão, por brigas muito comuns entre grupos sociais, em Salém e, obviamente, por questões ligadas ao papel da mulher naquela sociedade — embora alguns homens também tenham sido acusados e mortos (das 20 pessoas oficialmente mortas por consequência dos julgamentos — ou seja, foram consideradas culpadas de práticas de bruxaria e coisas do tipo –, 15 eram mulheres e 5 eram homens). Os roteiristas de O Fantasma da Bruxa pegam esse contexto da História americana e, com base em um recorte dele, criam uma ligação genética inesperada de um personagem, adicionando aquele tempero que faz os filmes de Scooby-Doo terem a cara de um “filme de Scooby-Doo“.

O enredo tem dois grandes blocos marcantes, onde se concentram os temas e as ações que sustentam o filme. A primeira delas é a chegada da Mistério S/A à cidade de Oakhaven, Massachusetts, onde está a casa do escritor Ravencroft. O boato de uma bruxa à solta na cidade, a criação de uma vila que simula o cotidiano local no século XVII e o aumento do turismo deixou a cidade muito movimentada e trouxe de imediato algo para a equipe de investigadores fazer. Quem é essa bruxa que anda ameaçando a todos? Nesse bloco, a primeira quebra negativa é a separação por muito tempo de Scooby e Salsicha do restante da equipe principal; para ficar comendo no restaurante da cidade. O roteiro não só mostra isso uma, mas três vezes, com três cortes para cenas diferentes, o que faz com que a piada da gulodice dos dois se torne forçada. E não contente, o diretor ainda usa esse aspecto para levar a dupla a conhecer a tal bruxa e as garotas da banda Hex Girls, que são uma outra distração mal amarrada no texto.

Apresentadas como uma atração externa à cidade e indicando ser o que na verdade não são, as meninas passam por uma gangorra de posicionamento na narrativa, às vezes enquadrando-se muito bem, outras vezes não servindo para absolutamente nada. Os momentos das canções são, evidentemente, os maiores destaques e o melhor de todos eles é o show final (em relação ao posicionamento da banda), mas para um padrão de cidade que tinha atraído tantos turistas ultimamente, a maneira como essa derradeira sequência é filmada tem o mais amargo sabor de anticlímax. O conjunto, no entanto, entrega o que o título promete. A presença da vilã passa pelas fases de “bruxa de mentira” e depois “bruxa de verdade“, uma brincadeira de perspectiva sempre interessante na franquia. Mesmo que a batalha comece bem e termine menos interessante, ainda assim é sombria, mantém uma ótima animação e dá o fim merecido aos que queriam dominar o mundo através de magia sombria. A consequência mais sentida é que essa realidade perde o seu mais icônico escritor de terror. Mas considerando quem era a peça, certamente foi melhor para todo mundo assim.

Scooby-Doo e o Fantasma da Bruxa (Scooby-Doo and the Witch’s Ghost) — EUA, 1999
Direção: Jim Stenstrum
Roteiro: Rick Copp, David A. Goodman, Davis Doi, Glenn Leopold
Elenco (vozes originais): Scott Innes, Mary Kay Bergman, Frank Welker, B.J. Ward, Tim Curry, Kimberly Brooks, Jennifer Hale, Jane Wiedlin, Bob Joles, Tress MacNeille, Peter Renaday, Neil Ross
Duração: 66 min.

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