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Crítica | Scott Pilgrim Contra o Mundo

por Roberto Honorato
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Quando um filme começa com a logo da universal e a trilha em 8 bits, a nostalgia te atinge com um soco na cara e seu coração está investido automaticamente no que está por vir. Scott Pilgrim Contra o Mundo é uma das adaptações de HQ mais respeitadas do cinema, não apenas por manter o humor e muitos elementos gráficos da obra prima, mas por conseguir ao mesmo tempo ter uma linguagem própria, que deixou vários fãs apaixonados (me inclua neste grupo). Mas vamos começar pelo começo. A primeira história em quadrinhos de Brian Lee O´Malley, Lost at Sea, já mostrou que o rapaz era promissor. Com uma narrativa divertida e original, uma arte inocente e cativante e personagens carismáticos, a ansiedade para a próxima obra de O´Malley só aumentava. Não demorou muito e ele presenteou a nona arte com uma obra autoral de tamanha singularidade que não consigo sequer expressar o tamanho do meu amor.

Se você assistiu o filme ou leu a obra original, já deve estar familiarizado com a trama, então vou passar bem rápido nesta parte: Scott é um jovem canadense de 23 anos que vive com seu colega de quarto, Wallace Wells. Nosso protagonista faz parte de uma banda chamada Sex Bob-Omb, está “namorando” uma colegial (o que gera piadas por parte de seu colega de quarto, de sua banda e bem, basicamente todo mundo) chamada Knives, mas começa a se apaixonar pela menina de seus sonhos (literalmente), chamada Ramona Flowers, que é basicamente a personificação da garota perfeita (ainda mais na adaptação cinematográfica, onde escolheram Mary Elizabeth Winsted, ou seja, melhor escolha de elenco impossível). Mas nem tudo é perfeito, já que Scott tem que derrotar os sete ex-namorados do mal de Ramona para que possam viver felizes para sempre. Ou algo do tipo.

Como toda HQ de sucesso, uma adaptação cinematográfica é o próximo passo. Quem recebeu a tarefa de adaptar foi um dos poucos diretores com competência para traduzir a narrativa, o visual, as piadas e as referências da HQ, o britânico Edgar Wright. Se você não o conhece, está perdendo trabalhos excelentes como a série Spaced e a Trilogia Cornetto. Wright fez questão de ter ao seu lado o próprio O´Malley para auxiliar em alguns aspectos e supervisionar tudo para que fique fiel. Ou o mais fiel possível. Ou o mais fiel necessário. Desde a cena de abertura, durante os créditos iniciais, você consegue ver o trabalho que Edgar Wright dá aos detalhes, como inserir desenhos que representam a personalidade dos personagens em uma forma de prever o futuro (um tipo de foreshadowing). Note as cordas quando o nome de Michael Cera surge, ou o skake durante o nome de Chris Evans (Lucas Lee), as marcas de café no de Anna Kendrick (Stacey) ou o coração partido de Brie Larson (Envy). Sem contar os X marcados toda vez que um ex malvado é mencionado, seja nos créditos ou durante o filme. É só prestar atenção, o X e o número de cada ex malvado estão sempre espalhados durante as batalhas.

Wright é conhecido por ser meticuloso com easter eggs e referências, então sempre recompensa o público que assiste o filme mais de uma vez. É só prestar atenção no que geralmente não damos importância. Além das referências, o maior diferencial do filme é a direção de Edgar, que é um mestre na sala de edição e consegue brincar com as camadas do filme para deixar as situações ainda mais engraçadas. Poucos diretores conseguem trabalhar com uma comédia física de qualidade como este trabalha. Wright queria que o filme seguisse a estrutura de um musical, mas ao invés de quebrar o drama com um número de dança, teríamos uma batalha entre Scott e algum ex malvado — sem abandonar a música (o protagonista tem uma banda, não vamos esquecer), é claro. Falando na música, a decisão de chamar o cantor Beck e bandas como Metric para compor as canções foi outro enorme acerto. E também, quantas pessoas dedicam tempo realmente ensinando os atores a tocar ao invés de usar dublês ou algum efeito especial?

Mas não é só de ação e música que é feito um filme. A premissa pode parecer bem simples, mas a trama se desenvolve muito bem, mostrando o lado negativo de toda relação, que deve resistir vários testes e saber encarar o passado. Wright consegue cativar com a nostalgia de misturar seus jogos clássicos favoritos como Zelda e Pac Man, e ainda sobra tempo para explorar o formato de animes, se arriscar com a tipografia e os efeitos sonoros inseridos no momento certo e construir os personagens através de algo tão simples como cartões de apresentação. São estes elementos — entre vários outros- que deixam Scott Pilgrim cada vez melhor. E sempre que sentir falta, pode escutar um pouco de Beck.

Scott Pilgrim contra o Mundo (Scott Pilgrim vs The World) — EUA/Reino Unido/Canadá, 2010
Direção: Edgar Wright
Roteiro: Edgar Wright, Michael Bacall
Elenco: 
Michael Cera, Mary Elizabeth Winstead, Alison Pill, Chris Evans, Brandon Routh, Kieran Culkin, Brie Larson, Jason Schwarzman, Aubrey Plaza, Anna Kendrick, Mark Webber, Ellen Wong, Johnny Simmons
Duração: 112 min

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