Screamboat – Terror a Bordo atracou nos cinemas prometendo um slasher afiado e positivamente divertido, transformando o Mickey de O Vapor Willie num rato assassino meio psicopata, meio fazedor de piadas. Aproveitando que o personagem de 1928 caiu em domínio público, o filme tenta pegar carona na onda de produções que já gerou coisas como Ursinho Pooh: Sangue e Mel e Mouse Trap – A Diversão Agora é Outra. Aqui, o diretor Steven LaMorte (hahaha), trabalhando com o mesmo time de Terrifier, abraça como um louco o jeitão de filme trash com um orçamento saído do troco de um café, só que, no fim, o que poderia ser uma aventura de terror escrachada e, por isso mesmo, hilária, vira uma bagunça que deixa o público querendo pular do barco — de preferência, para um lugar bem longe.
A história acontece numa balsa que vai de Nova Jersey a Nova York. O vilão é um “rato demoníaco” que sai caçando passageiros e tripulantes. O roteiro vem com uma história de justificativa confusa sobre um tal de Walter (piscadela óbvia pra Walt Disney) e uns experimentos científicos que deram errado. A tal história parece escrita na pressa, entre um lanche e outro, e uma foto antiga de Walt e Willy tenta trazer um ar nostálgico, mas como não é acompanhada por algo de maior peso de ação ou medo substancial, de nada serve.
O filme começa com dois personagens tentando roubar algo na casa de máquinas, até que, surpresa, o rato aparece fazendo barulhos estranhos. A protagonista, Selena, é uma estilista de Nova York cheia de dilemas de isopor, interpretada com uma energia que vai do exagero maníaco ao “tô nem aí”. Ela cruza com “princesas Disney” que irritam logo de cara e vira o alvo do rato, que, acredite, fica caidinho por ela. A partir daí, é uma salada: tem um velho esquisito prevendo mortes, um policial falando sobre o orgulho de ser nova-iorquino e o rato pilotando a balsa como se fosse o Mickey-piloto dos anos vinte. As cenas de sangue tentam chocar, mas são mais engraçadas do que assustadoras, e não digo isso no bom sentido.
A direção de LaMorte (hahaha) é uma zona. Parece que ele jogou todas as ideias que teve num balde e misturou sem critério. O filme tenta ter um clima de desenho animado, com sons exagerados e o rato se movendo como um vilão de comédia, mas o resultado passa longe de um terror slasher. A iluminação é tão fraca, que às vezes não sabemos quem é quem; e as telas verdes são tão ruins que fazem questão de denunciar a si mesmas. A fantasia do rato é o ápice do desastre: um mascote de parque que caiu num bueiro e resolveu virar assassino. É engraçado, mas não do jeito que deveria ser, em se tratando de uma série de assassinatos bizarros.
Tentando imitar Steamboat Willie com assobios e efeitos de animação, a trilha sonora é tão mal mixada que faz boa parte do filme virar um funil auditivo de porão. Já as mortes, que deveriam ser o grande destaque desse slasher, têm impacto reduzido ou diminuído pelo contexto em que acontecem, com raras exceções de alguns segundos. Um rato decapitando alguém com uma vassoura ou eletrocutando um casal deveria ter algo mais que o puro absurdo. Comparado a Mouse Trap, esse Screamboat até parece ter um tiquinho a mais de capricho (me dói admitir isso), mas é como escolher entre um pneu furado e um carro sem roda.
Pior é ver o diretor tentando salvar o filme com um humor bobo e referências à Disney que cansam bem rápido. Pode arrancar uma risadinha com coisas como Selena vestida de Minnie para enganar o rato do capeta, mas é mais por vergonha alheia mesmo. É aquele filme que você vê com amigos pra gargalhar, mas, sozinho, é uma tortura. Quem sabe, lá na frente, vire um clássico do trash? Por enquanto, é só um barquinho perdido, tentando navegar sem rumo num mar de sangue. Alguém aqui bota fé que a continuação, sugerida nos pós-créditos, trará algo melhor?
Screamboat – Terror a Bordo (EUA, 2025)
Direção: Steven LaMorte
Roteiro: Matthew Garcia-Dunn, Steven LaMorte
Elenco: Tyler Posey, Joe DeRosa, David Howard Thornton, Anthony E. Williams, Kailey Hyman, Jesse Kove, Brian Scolaro, Brian Quinn, Ken Maharaj, Amy Schumacher, Tommy Bechtold, Sarah Kopkin, Jesse Posey, Allison Pittel, Jared Johnston, Charles Edwin Powell, Michael Leavy, Jayme Woj, Jason Lockhart, Jarlath Conroy, Poonam Basu
Duração: 102 min.
