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Crítica | See – 2X03: The Compass

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios. 

E, pela terceira vez seguida, a 2ª temporada de See mostra solidez no caminho mais grandioso que surpreendentemente elegeu seguir. Livre das amarras forçadas pelo estabelecimento e construção desse futuro às avessas, em que a grande maioria do que restou da população mundial é cega, com aqueles que enxergam sendo alvo d perseguição por serem considerados bruxos, Steven Knight finalmente encontrou seu norte, criando tramas fundamentalmente sobre famílias em um ambiente medieval, com interessantíssimas regras de lógica diante do cenário inusitado.

O interessante em The Compass é a forma como o roteiro de Shelley Meals fecha um grande ciclo narrativo que gravitava ao redor do mítico Jerlamarel, homem que enxerga que peregrinou pelo mundo espalhando sua “semente” mutante, por assim dizer, depois colhendo os frutos de sua plantação. Tendo sido cegado por Baba Voss ao final da temporada inaugural, tinha dificuldade de imaginar qual seria seu propósito dali em diante e o episódio, então, vem responder minha dúvida com um singelo “nenhum”. Com compreensíveis dificuldades para se adaptar ao novo status quo, Jerlamarel tem sua cabeça decepada por Edo Voss que, inicialmente desconfiando que ele teria ajudado na fuga de seu irmão, Haniwa e Tamacti Jun, aproveita a oportunidade para tomar controle do santuário e de todos os filhos com visão da figura profética, ganhando, com isso, potencial vantagem tecnológica que logo usará para tomar controle total de Trivantis via um inevitável golpe de estado e, em seguida, entrando em guerra com Paya.

Mais do que isso, porém, o episódio tem a preocupação de ir além e realmente fechar o círculo de Jerlamarel com a revelação de que foi Paris que o criou e o ensinou a ler, inadvertidamente deixando o jovem fugir e enfrentar o mundo. Isso combinado com a existência do grupo que nomeia o episódio – A Bússola – que jurou proteger os que enxergam quando eles voltarem empresta um caráter ancestral tanto a Paris quanto à própria série que aos poucos faz a ponte dos séculos que se passaram entre o evento que levou à cegueira e o presente. Com isso, Jerlamarel torna-se parte do passado de See, tendo cumprido sua missão de servir de gatilho narrativo e descartado em seguida de forma a permitir que a história siga adiante.

E seguir ela segue, pois vemos Edo Voss ser repreendido por seus superiores e começar a procurar um traidor ou sem desconfiar de sua tenente Wren ou usando-a em um plano mais amplo de dominação, ainda não sei dizer. No núcleo de Baba Voss, há o encontro com as jovens de A Bússola e a promessa de que a jornada para Pennsa recomeçar no dia seguinte, dando-lhes uma noite de descanso. Por seu turno, Toad tem dificuldade de manter a lealdade de seus subordinados na missão de proteger e não matar alguém que enxergar, no caso Kofun, o que leva o Caçador de Bruxas a matar um de seus colegas, tornando-o ainda mais amargo. E, finalmente, no núcleo da nobreza de Paya, mais uma vez a ensandecida, mas muito esperta Rainha Kane faz o que bem entende e acelera o casamento de sua irmã com Lorde Harlan em um interessantíssimo jogo de xadrez para recrudescer sua posição de líder.

Todas essas linhas narrativas em tese paralelas, mas cuja convergência é perfeitamente visível em algum ponto no futuro, são muito bem conduzidas pela dupla de diretores Anders Engström e Frederick E.O. Toye, que também comandou o episódio anterior com a mesma destreza. Percebe-se claramente a fluidez e lógica em tudo o que está sendo construído, sem que nenhuma peça do jogo fique à deriva, sem receber a devida atenção. E esse é outro acerto de Knight nesta 2ª temporada, ou seja, simplificar sua história, trabalhando conflitos mais claros e diretos, sem pretensões exageradas. Ajudado pela costumeira e belíssima fotografia azulada que marca a série, figurinos e cenários naturais ou construídos sempre conducentes ao mergulho do espectador nesse universo e salpicando excelentes e violentos combates, o showrunner tem conseguido encontrar o equilíbrio que não mostrou no ano inaugural.

The Compass encerra o “ciclo Jerlamarel” com um belo movimento circular que amarra pontas que eu sequer esperava que seriam amarradas e continua a tarefa de expandir o universo da série na direção inevitável de um conflito em larga escala. Há muito ainda a acontecer, mas o delineamento dos eventos futuros já estão todos aqui, com boas chances de a série deslanchar de vez. Fica a torcida para que isso aconteça.

See – 2X03: The Compass (EUA – 10 de setembro de 2021)
Criação: Steven Knight
Direção: Anders Engström, Frederick E.O. Toye
Roteiro: Shelley Meals
Elenco: Jason Momoa, Sylvia Hoeks, Hera Hilmar, Christian Camargo, Archie Madekwe, Nesta Cooper, Eden Epstein, Hoon Lee, Tom Mison, Dave Bautista, Alfre Woodard, Joshua Henry, Olivia Cheng
Duração: 54 min.

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