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Crítica | See – 2X07: The Queen’s Speech

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios. 

Quem acompanha minhas críticas aqui no site vai me achar um disco arranhado depois que eu disser isso, mas eu preciso dizer aqui: esse negócio de simplesmente afirmar genericamente que clichês e tropos narrativos são ruins é, pura e simplesmente, incompreensão do que é uma obra audiovisual, do que é arte diria. A busca por originalidade – aquela absoluta – é vã e é raro, muito raro encontrar algo que possa realmente ser chamado de original. E os clichês são como os alicerces das artes em geral e particularmente do audiovisual, a boa e velha materialização do ditado que diz que nada se cria, tudo se copia.

Mas é óbvio – óbvio ululante para ser bem claro – que não basta sair usando clichês como se não houvesse amanhã e magicamente esperar que uma série ou filme fique de pé ao final. Há que haver cuidado, há que saber como usá-los e como fazê-los funcionar em prol da história. Estou dizendo isso tudo porque uma razão muito simples: The Queen’s Speech é um baita exemplo de como fazer o bom – excelente! – uso de clichês em um episódio de série. Tudo, absolutamente tudo que podemos esperar que um capítulo de “véspera de guerra” tenha, esse aqui tem, mas ele não apenas tem de forma descompromissada e sim de maneira organizada, bem trabalhada pelo roteiro de Jamie Chan e mais ainda por Anders Engström eu sua sexta direção seguida na temporada e quarta solo.

Se nós pararmos para relembrar os acontecimentos, veremos que todos eles são de alguma forma básicos e comuns em um sem-número de obras semelhantes. Há o golpe de estado perpetrado por um ex-fiel soldado, o discurso da nova rainha que levanta o espírito de seu povo e soldados, a tentativa de assassinato dela pelo inimigo, a demonstração de coragem e diria até amor genuíno de um personagem dúbio, a marcha para a guerra, o envio de emissários com uma missão secreta que certamente mudará a maré dos acontecimentos e, claro, uma última tentativa de paz antes do início da pancadaria que é, não tenham dúvida, o grande cliffhanger para o episódio final. Em termos de cadência narrativa, tudo está absolutamente no lugar onde deve estar e tudo funciona de maneira muito fluida para preparar as peças para um encerramento que, desconfio, também repetirá a dose de clichês.

Mas o real valor do uso desse monte de artifícios comuns vai além de eles serem encaixados com cuidado para formar um episódio redondo, pois a execução de cada um deles é cativante ao ponto de conseguir criar tensão em momentos importantes, especialmente o atentado à Maghra pelos assassinos enviados por Edo Voss e as tratativas rápidas entre Haniwa e Wren na Terra de Ninguém. Igualmente, há grandiosidade na virada de mesa que finalmente derruba a Rainha Sibeth Kane de seu trono, com a entrada triunfal de Tamacti Jun demonstrando que conseguiu amealhar a lealdade dos soldados e todo o desenvolvimento a partir desse ponto com Maghra e Lorde Harlan trabalhando em conjunto, incluindo aí a intervenção de último segundo de Paris. Falando na vidente, até seu momento de alívio cômico com Toad e a proximidade interrompida de uma inusitada noite de amor com o guerreiro funciona corretamente no episódio.

Claro, há conveniências, mas elas são quase como aqueles “brindes” inevitáveis quando compramos um hambúrguer em alguma lanchonete. Faz parte do jogo. Uma dessas conveniências, talvez a mais gritante de todas, seja justamente o atentado à Maghra não ser bem-sucedido. Quer dizer, claro, nós sabemos de antemão que ela dificilmente morreria, mas a eficiência dos assassinos é tão grande até entrar no quarto real, que tudo o que vem em seguida parece forçado demais, mesmo que por alguns segundos, em algum episódio anterior, tenha havido um esforço para mostrar Maghra treinando com aquele machado-espada estranhíssimo e belíssimo dela. Outra conveniência é de natureza orçamentária, com o primeiro ataque de Edo Voss acontecendo off camera, sem vítimas ao seu exército e tudo o que vemos e ouvimos são a fumaça e o alarme. Novamente, faz parte, até para não diluir o impacto do vindouro conflito.

Lógico que o envio de Paris e Toad na tal missão secreta era esperado, com dito, pelo que, neste episódio, a coisa funciona bem. O que pode estragar o final é exatamente esse tal plano de Baba Voss. Espero que haja alguma previsibilidade sobre quem Paris foi chamar. Sua antiga tribo de defensoras de gente com visão? Aqueles sobreviventes em cujo acampamento eles passaram uma noite? Bem, é esperar para ver, mas espero fortemente que não me venham com algo como “os antigos amigos de Baba Voss que nunca sequer foram mencionados antes” ou sobreviventes secretos dos Alkenny tirados da cartola.

The Queen’s Speech é, portanto, um baita lembrete de que reempacotar a mesma coisa de maneira diferente e vender como novo pode funcionar sim. Basta ter uma equipe técnica por trás que não faça tudo no automático e entregue o óbvio com competência. Em outras palavras, clichê é bom e eu gosto. Podem mandar mais que está bom!

See – 2X07: The Queen’s Speech (EUA – 08 de outubro de 2021)
Criação: Steven Knight
Direção: Anders Engström
Roteiro: Jamie Chan
Elenco: Jason Momoa, Sylvia Hoeks, Hera Hilmar, Christian Camargo, Archie Madekwe, Nesta Cooper, Eden Epstein, Hoon Lee, Tom Mison, Dave Bautista, Alfre Woodard, Joshua Henry, Olivia Cheng, Yadira Guevara-Prip
Duração: 52 min.

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