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Crítica | Segundo em Comando

Sem comando.

por Ritter Fan
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O sexto filme de Jean-Claude Van Damme no século XXI é o primeiro a ter inescapavelmente aquela “carinha” de obra de baixo orçamento feita com o objetivo específico de ser lançada diretamente em vídeo. Nem mesmo o péssimo Agente Biológico deixava de ter um certo polimento que o colocava um pouco acima desse patamar que, infelizmente, passaria a ser regra para o lutador e ator belga a partir desse ponto de sua carreira. Mesmo assim, Segundo em Comando, dirigido por Simon Fellows, que retornaria para outro filme de Van Damme e roteirizado por três nomes que, entre eles, só fizeram uma obra digna de nota – Polar – e mesmo assim exclusivamente porque tem Madds Mikkelsen como protagonista, não é uma tragédia completa.

E a principal razão para o file conseguir se segurar é que ele é, basicamente, uma longa sequência única de ação de 92 minutos, algo raro de se ver. Que fique bem claro que não estou dizendo que o longa é um plano sequência só com essa duração. Ele sequer tem um plano sequência sofisticado , na verdade. Meu ponto é que o roteiro consegue criar uma narrativa que dá a impressão de se passar em tempo real – mas que não é em tempo real – com a chegada do Comandante Sam Keenan (Van Damme) na Moldávia (com as filmagens tendo sido feitas na Romênia), sua imediata assunção do cargo de chefe de segurança da Embaixada Americana por lá e seu enfrentamento de um golpista que quer derrubar o governo democraticamente eleito.

Tudo acontece de maneira encadeada, com as elipses temporais de minutos e horas sendo completamente irrelevantes e, por isso, ignoradas pela direção de Fellows a não ser pela cor do céu do lado de fora do prédio em que grande parte da ação se passa. Ou seja, nós até percebemos que o longa acontece durante pelo menos umas 12 horas, mas a impressão que dá é que demorou mesmo foram a hora e meia do filme, um efeito que, tenho para mim, foi completamente sem querer por parte de Fellows, já que sua direção não poderia ser mais burocrática e desinteressante.

Aliás, essa característica da direção é o que realmente retira do filme toda a chance que ele tinha de ser mais do que um lançamento direto para vídeo. O diretor, em seu terceiro longa, parece estar filmando um episódio particularmente alongado de alguma série de ação genérica, daquelas em que qualquer sofisticação no uso de câmeras é considerado um verdadeiro sacrilégio no set de filmagens. Não ajuda que a montagem e a fotografia seguem essa mesmíssima cartilha, ou seja, fazendo o mínimo necessário para criar uma impressão de progressão narrativa sem nenhuma preocupação maior do que tornar compreensível que o personagem X está caminhando do lugar A ao B e, mesmo assim por vezes, metendo os pés pelas mãos.

Mas, mesmo aos trancos e barrancos, a coisa vai indo, com o personagem de Van Damme basicamente nem com cinco minutos para tomar pé da situação caótica do país, já soltando ordens certeiras que, quando são desobedecidas ou quando passam por cima dele, levam a problemas que ele, em seguida, conserta. Em outras palavras, é o típico herói de ação clássico, sem defeitos, sem que nada consiga abalá-lo e que não consegue errar. E isso é uma pena, pois, nos filmes imediatamente anteriores de Van Damme, especialmente Prisão Infernal, o ator foi capaz de mostrar um pouco mais do que apenas caras e bocas. O problema é que o roteiro, justamente por fazer tudo parecer uma cena só de ação, simplesmente não tem espaço para detalhes insignificantes como “desenvolvimento de personagem”. Todo mundo já é o que deveria ser e pronto.

Segundo em Comando é, infelizmente, um longa de ação genérico e esquecível que sequer sabe fazer uso do carisma de sua estrela. Não é a pior coisa que Van Damme fez na vida, longe disso, mas é, sem dúvida alguma, um retrocesso nessa sua fase pós-2000 e infelizmente não o único.

Segundo em Comando (Second in Command – Reino Unido/Romênia, 2006)
Direção: Simon Fellows
Roteiro: Jonathan Bowers, David L. Corley, Jayson Rothwell
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Julie Cox, Alan McKenna, William Tapley, Raz Adoti, Velibor Topić, Warren Derosa, Ian Virgo, Raffaello Degruttola, Serban Celea, Vlad Ivanov, Emanuel Parvu, Razvan Oprea, Mihai Bisericanu, Elizabeth Barondes
Duração: 92 min.

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