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Crítica | Sem Medo da Morte

por Ritter Fan
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O terceiro filme da franquia Dirty Harry e o último da década de 70 retorna à versão mais violenta do  protagonista lidando com criminosos comuns de Perseguidor Implacável, mas sem esquecer dos comentários sócio-políticos que marcaram Magnum 44 em razão dos protestos a que o primeiro longa foi sujeito, ainda que com bem menos ênfase. É, sob certo ponto-de-vista, o mais equilibrado dos três filmes, ainda que o roteiro peque em criar vilões desinteressantes que nem de longe lembram a complexidade de Scorpio da obra original ou a ousadia da equipe policial do segundo capítulo da saga.

Mas Sem Medo da Morte já começa com uma boa vantagem sobre seu predecessor: a identidade dos vilões, um grupo de terroristas domésticos que quer chantagear a cidade de São Francisco, é imediatamente conhecida pelo espectador, evitando os malabarismos que o roteiro e a direção anteriores tiveram que empregar para manter o segredo por muito mais tempo do que o necessário. Com essa franqueza toda, o longa tem tempo, mesmo sendo o filme mais curto até agora, para mais uma vez lidar com a truculência de Harry que o impede de subir na força policial. Nesse entra-e-sai do Departamento de Homicídios, ele acaba tendo a oportunidade de mostrar sua misoginia de sempre ao fazer cara feia para uma mulher que quer se tornar detetive e que, claro, acaba como parceira dele na investigação dos terroristas. A inexperiente Kate Moore, vivida de maneira simpática por Tyne Daly, ganha seus 15 minutos de fama e tem uma boa conexão com Harry, bem no estilo buddy cop, mas nada fora do padrão do gênero.

A versão final do roteiro, na verdade, é uma costura de um trabalho feito pelos estudantes de cinema  Gail Morgan Hickman e S.W. Schurr que o levou até o restaurante de Clint Eastwood em Carmel, encantando o ator e cineasta, com outro escrito por Stirling Silliphant. Da dupla estudantil vieram os vilões terroristas, o padre militante e os afro-americanos inspirados no grupo Black Panther e, de Silliphant, o pareamento de Harry com uma mulher, com Silliphant reunindo os dois trabalhos. No entanto, Eastwood não gostou do resultado e trouxe Dean Riesner à bordo para fazer alterações. Nesse vai-e-vem, Harry acabou voltando à sua versão original mais durona e com a mesma estrutura de “você é violento, vou rebaixá-lo”, mas com uma pegada claramente mais leve e até humorística como a exagerada cena de Harry invadindo a loja com seu carro para fuzilar os ladrões parece indicar. Além disso, os vilões tornaram-se arquétipos de malucos assassinos sem nenhuma profundidade ou construção minimamente cuidadosa. Eles ficam apenas zanzando de um lado para o outro explodindo bombas, atirando com lança-mísseis e sequestrando o prefeito em uma série de eventos desconexos que têm pouca força ou significado, sendo muito mais esquecíveis do que, por exemplo, Big Ed Mustapha (Albert Popwell, que fez o cafetão assassino no filme anterior), que Harry usa como peça-chave em seu trabalho investigativo.

Pelo menos a investigação de Harry, aqui, faz mais sentido do que no filme anterior, com um clímax óbvio, mas bem conduzido por James Fargo, que fora diretor de segunda unidade de Eastwood em Josey Wales, o Fora da Lei e que acabou alçado pelo próprio cineasta à cadeira de diretor pela primeira vez em sua carreira já que Eastwood, que queria dirigir Sem Medo da Morte já que havia se desentendido com Ted Post em Magnum 44, estava enrolado com a pós-produção justamente de Josey Wales. Em outras palavras, Eastwood muito provavelmente controlou toda a direção tendo Fargo como seu “peão”, mas desta vez sem as brigas com Post que frearam o potencial do longa anterior da franquia. Muito ao contrário até, pois, apesar de o roteiro ser mais padrão, sua condução fluida por Fargo, com destaque para uma ótima perseguição pelos tetos da cidade, ajuda a colocar a ação no foco da narrativa.

Mesmo que ainda divertido, Sem Medo da Morte já começa a mostrar o desgaste de Dirty Harry, com um filme que é formado de “pedaços” dos dois anteriores sem ideias realmente novas e que realmente deem identidade única a ele. Sim, a presença de Daly contribui para que o filme seja lembrado, mas, seu conteúdo é basicamente indistinguível dos demais ainda que a qualidade geralmente com viés de alta tenha sido mantida, algo raro em trilogias (e mais ainda em pentalogias).

Sem Medo da Morte (The Enforcer, EUA – 1976)
Direção: James Fargo
Roteiro: Stirling Silliphant, Dean Riesner (baseado em história de Gail Morgan Hickman e S.W. Schurr e personagens criados por Harry Julian Fink e Rita M. Fink)
Elenco: Clint Eastwood, Tyne Daly, Harry Guardino, Bradford Dillman, John Mitchum, DeVeren Bookwalter, Albert Popwell, John Crawford, Robert Hoy, Michael Cavanaugh, Jocelyn Jones, Samantha Doane, M. G. Kelly, Terry McGovern, John Roselius, Rudy Ramos, Joe Spano
Duração: 96 min.

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