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Crítica | Sem Piedade

por Luiz Santiago
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Sem Piedade foi um dos muitos filmes em que o diretor Alberto Lattuada trabalhou o tema da Grande Guerra. Tendo iniciado sua produção cinematográfica em 1942, o diretor praticamente estabeleceu os setores políticos e sociais de sua época como parte das obras que dirigia, expondo os muitos temores da população sobrevivente, os seus delitos e as instituições que se aproveitavam do mau momento para obterem lucro, sendo exatamente esta a essência de seu sexto longa-metragem, Sem Piedade (1949).

Pela segunda vez, Federico Fellini fazia parte de um projeto de Lattuada atuando como roteirista; tendo o primeiro momento dessa parceria de muitos anos acontecido em 1947, no longa Delito. Aqui, Fellini divide os créditos do enredo com o próprio Lattuada e seu parceiro também de muitos anos, Tullio Pinelli. Nos créditos de abertura, Lattuada agradece a colaboração à direção dada por Fellini, o que indica que o então roteirista já tinha aspirações de guiar um filme, trabalhando de forma mais presente nesse projeto de seu amigo.

Sem Piedade, porém, não é um grande filme sobre a sociedade italiana no pós-guerra. É verdade que a maior parte dos elementos de obas sobre essa realidade se fazem presentes na película, tendo ainda um toque emotivo bastante destacado em seu desenvolvimento, mas talvez seja por esse mesmo motivo que o roteiro deixe de explorar mais profundamente as questões da guerra, deixando de ampliar a presença do local sobre os cidadãos e aumentando o tom romântico entre o soldado negro e a mulher branca sem perspectiva de vida. O filme tem um caráter inovador, no sentido de trabalhar o relacionamento entre pessoas de etnias e nacionalidades diferentes (um americano que estava lá para “libertar” a Itália e uma italiana “filha” do fascismo), trazendo à discussão o conflito étnico tão tabu nesse momento da História. O problema é que a partir desse núcleo o roteiro acaba dando demasiada atenção ou retirando atenção dos blocos errados.

A despeito dessa forma narrativa, porém, a aparência documental e os sintomas de um país e de uma cidade que se reconstroem permanecem e ganham sua vez na discussão. A ação é centrada em Livorno, na região da Toscana. Desde muito cedo percebemos a miséria e os escombros da guerra em torno das pessoas. Através das crianças que assediam o casal protagonista, temos contato com a fome e a miséria que assolavam grande parte da população. Através das mulheres, conhecemos não só a “normalidade” da prostituição mediante as péssimas condições de sobrevivência, mas a existência da máfia e de como esses grupos comandavam a cidade.

Sem Piedade é um filme sobre um relacionamento amoroso em meio ao que sobrou dos ânimos e da cidade após a Segunda Guerra. O final trágico é a tranposição máxima do sentimento geral dos sobreviventes em relação ao evento e ao mundo tenebroso em que tinham de sobreviver, corroborando a frase de abertura do filme: “apenas quando cessa o som da batalha, os homens descobrem o verdadeiro horror da guerra“.

Sem Piedade (Senza Pietà) – Itália, 1949
Direção: Alberto Lattuada
Roteiro: Alberto Lattuada, Federico Fellini, Ettore Maria Margadona, Tullio Pinelli
Elenco: Carla Del Poggio, John Kitzmiller, Pierre Claudé, Giulietta Masina
Duração: 90 min.

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