Segundo o próprio site do personagem Senninha, mantido pelo Instituto Ayrton Senna, a versão em quadrinhos do famoso piloto paulistano foi desenhada e escrita originalmente em 1991, mas foi só em 1994 que os criadores Rogério Martins e Ridaut Dias Jr. conseguiram fazer o personagem chegar às bancas, após um bom período tentando colocar os esboços do projeto nas mãos de Ayrton Senna. Com ajuda da mãe do piloto para a composição de um personagem que tivesse as mesmas características de Senna quando criança, e a consultoria do psicoterapeuta Jacob Goldberg, para a construção geral dos personagens (já que a proposta, aqui, era a publicação de uma revista com valores sociais, morais, éticos e familiares em evidência, servindo como um projeto educativo em forma de entretenimento), a publicação teve como promoção uma edição #0, distribuída gratuitamente em algumas escolas e agências do Banco Nacional, em fevereiro de 1994. No mês seguinte, chegava a edição #1, que dava continuação à trama iniciada na edição #0 por Mário Mattoso, Ridaut e Rogério Martins, completada apenas por Mattoso, nos roteiros, com o título …E Foi Dada a Largada!.
Essa primeira história é uma simpática maneira de apresentação do personagem para o público, colocando-o num novo bairro e fazendo com que ele se tornasse o piloto de um grupo de crianças que viviam perdendo corridas para o desonesto Braço Duro e seus amigos encrenqueiros. O roteiro não tem muito contexto para oferecer, mas a trama se sustenta pela maneira como explora a tensão da corrida, especialmente através da maravilhosa arte de Roberto O. Fukue e finalização da dupla Marcos Uesono e Jorge Caxeado. Penso que a história termina meio bobinha (embora eu não esperasse nada muito diferente disso), contudo, seu início, ainda na edição #0, e todo o seu desenvolvimento na edição #1 são ótimos, mesmo considerando a abordagem mais tranquila de um texto que tinha as crianças como público-alvo. Na segunda história da primeira edição, intitulada Cachorros e Cachorros, temos novamente um texto de Mário Mattoso e Rogério Martins (com desenhos de Paulo Borges), introduzindo dois personagens queridos da saga, os cães Becão e Bicão, que Senninha ganha após ter sido mordido por dois cachorros de rua que ele tenta fazer carinho. Fiquei surpreso que o roteiro não tenha adotado um discurso positivo pela adoção de animais e que não fale sobre o abandono de bichos na rua. Bem… assim como a história anterior, esta começa e se desenvolve muito bem, mas termina um degrau abaixo em qualidade.
Escrita por Lúcia Nóbrega e desenhada por Domingos de Souza (Mingo), A Reportagem é uma trama curiosa, onde Tala Larga e Marcha Lenta “invadem” a casa do Senninha para a gravação de uma reportagem. Consigo perceber um certo padrão nessas histórias, sempre com premissas que parecem muito mais interessantes que o seu encerramento. Aliás, essas histórias em quadrinhos com personagens (crianças) saindo peladas do banho são mesmo um sinal dos tempos, algo visto hoje com certo espanto, mas que eram tratadas com o maior tom de brincadeira pelos seus autores. Na sequência, temos O Capacete Complicado, de Gérson Teixeira (roteiro) e Paulo Borges e Marcos Uesono (arte), a única história da edição finalizada com uma boa piada, acompanhando a cadência interessante de sua construção. Sendo a última aventura longa da revista, ela brinca com a irresponsabilidade do pequeno piloto, de não usar capacete ou usar somente um capacete folgado, impulsionando as amigas a tentarem um molde de gesso, fato que desencadeia todo o pandemônio da trama (por algum motivo, Sennin não quer usar uma “toquinha” de nadador. Confesso que não entendi se tem alguma piada aí ou é apenas um capricho de criança). A fuga de Senninha (sem capacete!) com os cachorros, seguida do acidente, do galo na cabeça e do capacete feito nesse novo formato são momentos engraçados e combinam com a atmosfera de toda a história, trazendo um final simpático e até meio sacana para esta edição de estreia de uma das revistas infantis que mais conseguiram impulsionar seu protagonista pelos anos seguintes, mesmo que não tenha durado (contando com mudança de editora e tudo) mais de 120 edições.
Senninha e Sua Turma #0 e 1 (Brasil, fevereiro e março de 1994)
Roteiro: Mário Mattoso Neto (#0 e 1), Ridaut Dias Jr (Ridaut), Rogério Martins (#0 e 1), Lúcia Nóbrega (#1), Gérson Teixeira (#1)
Arte: Mário Mattoso Neto (#0), Roberto Ossamu Fukue (#1), Paulo Borges (#1)
Arte-final: Alexandre Montandon (#0), Marcos Minoru Uesono, Jorge H. C. Caxeado (#1), Tomaz Gutierrez (#1)
Cores: Ridaut Dias Jr (Ridaut), Rogério Martins (#0), Cláudio Ishii (#1)
Capas: Mário Mattoso Neto, Marco Antonio Cortez
Editora: Abril
Licenciador: Instituto Ayrton Senna
16 páginas (edição #0) e 36 páginas (edição #1)