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Crítica | Sensitive Skin: A Série Completa

Produção canadense em duas temporadas reflete as ansiedades de uma protagonista infeliz no casamento e pressionada pelos padrões sociais de juventude.

por Leonardo Campos
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Kim Cattrall é uma atriz muito versátil, por isso, não podemos encapsular o seu talento apenas em Samantha Jones, marco da jornada de Sex and The City na televisão e no cinema. Há, no entanto, muitos ecos dessa icônica figura ficcional em Davina Jackson, protagonista de Sensitive Skin, produção canadense de duas temporadas e doze episódios com média de 25 minutos cada. Veiculada na televisão entre 2014 e 2016, a narrativa seriada dirigida por Don McKellar aborda os dilemas pessoais e profissionais de uma mulher casada há bastante tempo com o seu marido, entediada com o tom morno do relacionamento, algo somado ao processo de entrada na casa dos cinquenta anos, uma idade divisora de águas em diversos aspectos. É a aparência que começa a mudar e, com isso, a aceitação do envelhecimento. A baixa qualidade do sexo marital, transformado em um tópico na lista de obrigações cotidianas. Ademais, no âmbito profissional, é um período onde muitas pessoas apresentam preconceito e começam a duvidar da capacidade de uma mulher que amadureceu e, por isso, não corresponde mais ao que é exigido de nossa sociedade obcecada pela juventude. São esses os principais tópicos desenvolvidos na produção de tom ameno, sem a velocidade de tantos outros programas televisivos contemporâneos.

Ao longo das duas temporadas de Sensitive Skin, os realizadores focam no texto, desde a ação dos personagens aos diálogos sarcásticos e coesos, deixando de lado qualquer sensação de pressa, impregnando cada minuto da narrativa com situações contemplativas. Muitas falas dos personagens são filosóficas, mas deixam para nós, espectadores, o complemento de seus significados. É como se os roteiros, assinados por Bob Martin, Lynn Coody, Susan Coyne e Rosa Laborde, nos colocasse dentro da série, para dialogar com as figuras ficcionais problemáticas que habitam cada canto do espaço narrativo registrado pela direção de fotografia fria e acinzentada de Douglas Koch, atmosfera complementada pelo design de produção de Peter Cosco, na primeira temporada, e Ian Hall, ao longo da segunda. Ambientada por personagens privilegiados socialmente, a série divide as suas ações entre o apartamento de Davina e seu marido, Al, interpretado por McKellar, que assume a dupla função de atuar e dirigir.

Conduzida musicalmente por Jonathan Goldsmith, Sensitive Skin traz os dilemas de Davina, mas também estabelece um excelente desenvolvimento para o esposo da protagonista, um homem em crise por achar que não alcançou profissionalmente o que almejou em seu plano de carreira. Pais de Orlando (Nicolas Wright), um jovem que reflete as paranoias do pai e o pensamento constantemente distante da mãe, a série estrutura um painel de coadjuvantes que enriquecem as ações daqueles que ocupam a linha de frente, sem desperdiçar tempo e dando ênfase ao que de fato precisa ser evidenciado: a jornada da heroína Davina, uma mulher que precisa enfrentar com coragem e muita força os desdobramentos de suas escolhas numa idade onde as opções são poucas e qualquer equívoco de interpretação pode ter como consequência, perdas significativas. Com um tom mais voltado para o público feminino, a produção retrata temáticas que chamamos de universais, por isso, não é necessariamente o tipo de entretenimento fatiado para um nicho. Qualquer perspectiva de gênero pode assistir e se identificar com as questões do programa.

Criada por Hugo Blick, Sensitive Skin é assertiva ao combinar elementos de comédia e drama de forma habilidosa, explorando as experiências cotidianas de maneira realista. O humor da produção muitas vezes surge de situações embaraçosas ou difíceis, refletindo a complexidade da nossa existência. Rir para não chorar. Ou chorar de rir? Com o desempenho dramático de Cattrall, todas as temáticas do programa ganha maior profundidade, haja vista o talento da atriz em sensibilizar o espectador diante de seus dilemas. Questões de aparência, relevância social e o medo do futuro: com um desenvolvimento sensível, esses desafios são apresentados de maneira cuidadosa na série. Há também um interessante jogo de troca de experiências e aprendizagem contínua entre diferentes gerações. Ademais, a vulnerabilidade é um tema recorrente. Davina muitas vezes se apresenta em situações em que se sente exposta emocionalmente, permitindo que nós vejamos a sua fragilidade e os desafios de lidar com a própria imperfeição. Em linhas gerais, a série também provoca reflexões sobre o lugar da mulher na sociedade contemporânea, questionando padrões de beleza, expectativas de gênero e o papel da mulher após os 50 anos. E assim, desafia estigmas e convida o público a considerar novas narrativas sobre envelhecer. Davina cria a dela, mesmo com suas imperfeições.

E você, leitor, já pensou a escrita da sua?

Sensitive Skin: A Série Completa (Idem/Canadá, 2014-2016)
Criação: Hugo Blick
Direção: Don McKellar
Roteiro: Lynn Coady, Susan Coyne, Rosa Laborde, Bob Martin
Elenco: Kim Cattrall, Don McKellar, Nicolas Wright, Elliott Gould, Colm Feore, Joanna Gleason, Marc-André Grondin, Clé Bennet, Mary Walsh, Felipe Camargo
Duração: 12 episódios (25 min. cada)

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